2. University

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Sally se trancou no banheiro e sentou na tampa da privada, respirando fundo. Tirou uma boa quantidade de papel higiênico e pressionou sobre o machucado. — Merda... — Xingou baixinho ao perceber que alguns fiapos do papel ficaram grudados no ferimento. Estava prestes a abrir a porta para pegar um pouco de água quando ouviu diversas risadas adentrarem o local.

— Viu só, Travis? Temos um aluno exótico na universidade. — Uma voz estridente e irritante falou alto sendo seguida por mais risadas.

— Bem que eu estava precisando de diversão, mexer com os nerdolas da área biológica ficou enjoativo. — O tal Travis comentou divertido. Sal encolheu as pernas em cima da privada e abraçou os joelhos, temendo que pudesse ser visto, ficou ali em completo silêncio até que as pessoas ali saíssem. Quando não ouviu mais nada, buscou as pílulas calmantes na bolsa e por puro impulso e nervosismo, acabou engolindo duas. Saiu apressado do sanitário masculino, subindo para o andar onde começaria suas aulas de música.

Sal era fissurado em música, principalmente rock. Era possível perceber pelos diversos pôsters colados na parede de seu quarto, camisetas de bandas de rock e a própria mochila toda enfeitada com chaveiros de guitarras, baixos e alguns bottons. Sua maior paixão era a guitarra vermelha apelida de Sinner por ele mesmo.

Ao entrar na sala, o azulado escolheu a primeira carteira da última fileira na esquerda. A janela dava uma bela visão do campus, uma área de grama verdinha e muitas árvores espalhadas.

Conforme os minutos foram passando, os lugares vazios se preencheram e o professor já anotava algumas coisas no quadro. Sal bufou de frustração ao direcionar o olhar para as palavras, ele pensou que toda aquela baboseira de apresentação não existia na universidade, pelo jeito estava errado. 

Conferindo o papel com a ordem de chamada de todos os presentes na sala, o professor chamou um por um e pediu para que a pessoa se apresentasse. Assim seguiu até a vez de Sal. As mãos estavam trêmulas e suadas, se não fosse aquela prótese todos poderiam ver como o garoto estava suando frio.

— Olá, eu me chamo Sal Fisher. Sou novo em Nockfell, tenho dezenove anos, e... Essa máscara é uma prótese. Prazer em conhecer vocês.  — Pensou que poderia morrer ali mesmo quando voltou a se sentar.

Sally começou a sentir o corpo mole e a vista pesar por conta das pílulas. Se apunhalou mentalmente por ser tão impulsivo, para sua sorte, a aula daquele dia já estava no fim. Como aquele era o primeiro dia de aula para muitos na universidade de Nockfell, o restante do dia seria para a apresentação do prédio.

Antes que pudesse sair da sala, um garoto com cabelos coloridos e alguns piercings no rosto se aproximou de Sal e deu um leve soquinho no seu ombro, sussurrando: "Cara, você tem muita identidade visual!" Aquilo fez Sal paralisar e ficar abismado, ele ouviu bem? Aquilo foi um elogio e não um insulto sobre sua aparência. De qualquer forma, o azulado saiu da sala em passos lentos, os remédios estavam pesando suas pernas, quase deu de cara no chão se não fosse pelo rapaz que saia da sala de artes ao lado. Ele segurou Sal pelos ombros e o encarou um tanto preocupado. Pensava se o garoto estava bêbado ou algo assim. 

— Ann... Você está bem? — O maior sacudiu Sal que saiu do transe depois de algum tempo.

— Han? Ah, sim, está tudo bem. — Respondeu, levantando a cabeça para ver quem o segurava. Logo reconheceu o garoto cabeludo de mais cedo.

— Perdão por hoje cedo, eu esbarrei em você. — Falou com certo pesar, percebendo o machucado no joelho do azulado. — Pode vir comigo?

Sal ficou um pouco confuso, mas estava tão alheio que acabou aceitando e seguiu o garoto pelos corredores. Depois de mais algumas voltas eles chegaram em uma pequena salinha, Sally julgou ser a enfermagem.

— Me chamo Larry Johnsson, estou no curso de artes, logo depois da sua sala. — Estendeu a mão para Sal que prontamente devolveu o aperto.

— Eu sou Sal Fisher ou Sally, tanto faz. Prazer, Larry. — Larry tinha um aperto de mão muito caloroso e amigável.

— Então, Sal... Posso fazer um curativo no seu machucado? Como um pedido de desculpa. — Larry coçou a nuca.

— Bom... Já que você insiste. — Sally disse divertido, vendo o outro sorrir.

Larry fuçou nas gavetas e prateleiras da enfermaria até encontrar o que precisava. Tinha em mãos gazes, um líquido e suturas. Mergulhou a gaze no líquido com um leve cheiro de álcool e passou sobre o machucado de Sally. O castanho olhou assustado para Sal, aquele líquido era o terror dos universitários que se machucavam, pois ardia muito, mas Sally não expressou nada, nem mesmo uma única reclamação.

— Cara, você não sente dor?! — Questionou enquanto limpava o ferimento e preparava o curativo.

— Estou acostumado. — Foi a única coisa que Sally respondeu, deixando um Larry pensativo.

— Pronto, carinha. Espero que tenha me perdoado. — Estendeu a mão para o azulado e o ajudou a se levantar. Os dois seguiram caminho para fora da universidade, indo para o campus, onde todos os outros universitários estavam.

— Vai ficar pra conhecer o prédio com os tutores? — Larry perguntou.

— Não, acho que não... — Sal respondeu sem muito entusiasmo, observando todas aquelas pessoas. Ele com certeza não queria ficar no meio delas andando pelo prédio gigantesco.

— Eu entendo, olha essa multidão. — Larry também olhava com certo desgosto para tantas pessoas amontoadas. — Vejo você por aí, carinha! — O maior apertou amigavelmente o ombro de Sal e seguiu em direção aos amigos.

O azulado não estava nem um pouco acostumado com tanta hospitalidade vindo de desconhecidos logo no primeiro dia de aula. Ele colocou a mão sobre o ombro que fora tocada por Larry e sentiu um certo calor. Aquele cara foi incrivelmente legal com Sal.

When I met you. - sarryOnde histórias criam vida. Descubra agora