Bati palmas em frente de casa, minha mãe foi abrir o portão com o chinelo na mão. Engoli em seco.
Entrei e ela ficou me batendo silabicamente, dizendo que achava que eu tinha morrido.
-Que roupa é essa Wiliam?
-Daniel me emprestou.
-Daniel? Que Daniel? O viadinho amigo da Renata?
-Sim e não chama ele de viadinho.
-Eu chamo ele do je-i-to que eu bem en-ten-der! - sílabas de novo - O que fizeram que você não voltou mais?
-A gente foi beber. - disse envergonhado, olhando para o chão.
-Beber?! Como que você me sai pra beber numa quarta-feira? Você não era assim, meu filho... - sua voz e feição eram de decepção.
-Você sempre diz que eu tenho que socializar mais!
-Não vem botar a culpa em mim! - me bateu de novo, soltei um "ai" -Você sabe muito bem que não queria dizer isso!
-Tá bom, tá bom!
-Tá bom nada e olha esse seu tom de voz comigo! Você tá de castigo, entendeu?
Assenti, para ela não dizer que estava a respondendo.
-Vai ficar aqui fazendo as tarefas de hoje, as da Renata, sem celular e não vai sair até eu mudar de ideia.
-Sim, senhora. - disse a entregando o celular.
Estranhou não ter tentado resistir, mas não disse nada.
Entrei no quarto e Renata estava se arrumando para ir com meu pai. Sabia que tinha escutado toda a conversa na sala.
Sua mochila estava ao lado do colchão dela (ainda não tínhamos montado as camas por preguiça), a peguei e coloquei os cadernos no meu colchão já buscando a mochila para pegar os outros.
-Você podia ter me dito que ia com o Daniel... - disse chateada.
-Desculpa. Fazia muito tempo que a gente não se via, queria ficar um pouco sozinho com ele.
-Vocês se conheciam?
-Você não se lembra?
-Lembrar do que?
-Da escola. O francesinho, a gente chamava ele de Gaston por causa do desenho das historietas assombradas para crianças malcriadas.
-O QUE? É O MESMO DANIEL?
-Sim, que outro francês seria?
-Gente, eu tô passada. - apoiou a mão na boca.
-Também fiquei. Achei que ele teria te contado depois de lembrar.
-Deve ter esquecido.
-Sim.
-Nossa... - ficou um uns segundos olhando para o chão. - Enfim, eu te perdoo, mas faz minhas tarefas bonitinho. - disse sem tentar conter o sorriso do rosto.
-Que castigo estranho. Só falta depois ela reclamar que você não tá aprendendo nada.
-A cara dela.
Meu pai chamou Renata do carro. Achei que fosse falar algo comigo, talvez mais tarde. A verdade é que ele gosta que socialize, óbvio que não para faltar as aulas.
Não é que eu seja antissocial, mas sempre quem foi meu amigo foi da Renata antes. Talvez fosse ofuscado por ela. "Wiliam? Que Wiliam?" "O irmão da Renata."
Apesar de não ter hesitado ao entregar o celular, me perguntava se Daniel teria tentado se comunicar comigo.
Passei a tarde copiando tudo que passaram e fazendo as atividades, apesar de as vezes me distrair pelo o ocorrido no carro.
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Todas as pintas do seu corpo
RomanceWiliam se muda da Bahia para uma cidade ao norte do Brasil e reencontra seu amigo de infância Daniel, o francês que retornou por conta dos divórcio dos pais, tendo que morar com seu pai agressivo. Apesar de Daniel ter um namorado (Junior) que realme...