Garrafa e bituca

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Acordei com meu celular vibrando, me afastei do abraço caloroso do meu amado para atender um número desconhecido, mas com o ddd 71.

–Alô?... –Minha voz era rouca, tossi pra tentar melhorar. –Quem fala? – Perguntei.

-Sandro, Laiane vai fazer ultrassom, você tem que vir.

–Ah, que legaal. –Estava animado, mas minha voz sonolenta pareceu irônica. -Que horas?

–As oito, clínica d'Able. Não atrasa, por favor. – Acho que nem reparou meu tom.

–Não vou.

–Tchau.

–Tch– Desligou, sem terminar de ouvir minha despedida.

Me espichei na cama, Jojo dormia, de bruços, como um bebê. Chorou de noite, sabia disso por que o caminho que as lágrimas fizeram ainda estavam lá. Seu cabelo tampava uma parte do rosto, não o levanta pra dormir, aquilo estava me dando calor. O tirei de suas costas e coloquei sob o travesseiro, vi uma tatuagem no ombro de uma estrela, me surpreendi por nunca ter reparado.

Levantei caminhando até o armário para pegar uma toalha, quando virei em direção ao banheiro, senti sua mão esquerda encostar em meu braço e a outra pegar a toalha ao lado da minha.

-Que susto... - Suspirei.

-Foi mal. - Beijou meu ombro, sua voz era sonolenta. -Wily, me empresta teu celular.

-Hm? Tá bom, tá na mesinha do meu lado. - Pegou-o, abriu o WhatsApp e colocou seu número. -Ah, que bom que lembrou, me esqueci.

-Tô ligado. -Andou até o banheiro, deixou a porta encostada para que eu entrasse, ouvi o barulho da pia, escovava os dentes.

Entrei, ele já estava de baixo do chuveiro, vi uma escova de dentes da Peppa Pig ainda embalada para mim. Comecei a rir que nem um condenado antes de conseguir escovar os dentes (a dele era do George), Jojo riu por sua piada ter funcionado. Me juntei a ele, demos incontáveis carinhosos beijos que acabaram em sexo, uma excelente forma de começar o dia...

Ao terminarmos, ficamos em frente ao espelho, ele penteava o cabelo com cuidado e calma, tanta que dava sono.

-Porque quis acordar agora, querido? - Perguntou enquanto seus dedos separavam delicadamente os fios que o pente não conseguiu.

-O pai de Laiane me ligou, ela vai fazer ultrassom. - Respondi sorrindo, já havia arrumado o cabelo, levou no máximo nove segundos.

-Tá empolgado pra ver sua filhinha? - Me olhava pelo espelho.

-Muito, mas não entendo como ela conseguiu a proeza de engravidar.

-Wily, você sabe como os bebês são feitos, né? - Perguntou irônico.

Revirei os olhos, sorrindo, ignorei sua pergunta -Tipo, nós sempre usamos proteção e ela tomava pílula, quais são as chances?

-Uno porciento. (Um por cento).

-Jura?

-Sim, pode pesquisar.

-Não, eu acredito.

Riu -Tá com preguiça?

-Também, mas se você disse, quem sou eu pra discordar.

Sorriu -Entendi, já vai se vestindo pra não se atrasar, querido. Vou fritar ovos pra gente. - O cabelo já estava quase todo penteado.

-Obrigado, querido. - O beijei antes de sair.

Abria a porta do armário quando me respondeu –De nada, meu amor.

Todas as pintas do seu corpoOnde histórias criam vida. Descubra agora