Quarto do papai

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No meu cu não passa nem wi-fi.

-Que? Não, claro que não. De onde tirou isso?

-Não foi de uma hora pra outra, mas você nem tentou esconder.

-Não sei do que tá falando e tô ficando irritado, licença. - levantei, estava quase abrindo a porta para o corredor, continuou falando atrás de mim.

-Os suspiros, os olhares, o ciúme. Você sempre volta muito feliz da casa dele, queria ficar sozinho com ele aquele dia.

-Não te chamei porque você é uma chata intrometida, não te queria lá!

-Wiliam, ele namora! - me ignorou - O cu é seu, você faz o que quiser, mas não com homem comprometido, porra!

Não valia a pena esconder, ela já sabia de tudo e negar só atrasaria o inevitável.

-Eu sei, eu sei...

-Já faz quanto tempo?

-Três semanas.

-Três semanas?... - nunca a vi tão desapontada.

-Você... você acha que a mamãe sabe?

-Não, esconde melhor ou ela vai saber e, olha, sinto muito em dizer, mas é melhor procurar um lugar pra ficar porque eles vão te expulsar.

-Você acha?

-Tenho certeza! Da quase pra sentir o odio deles pelo Daniel e o papai nunca nem viu ele. Arranja outro trabalho, espera esse mês acabar para ganhar o sálario. Se quiser, conto pra eles, pra não sair machucado.

Foi um choque escutar tudo em voz alta, aquilo que estava em minha cabeça desde sempre. Não tenho como descrever o quanto precisava desse toque e ela depois não pareceu mais irritada comigo, só solidária

-Vai pro quarto, vou pegar água pra ti.

A obedeci, me olhei no espelho e senti vergonha. Meus pais estavam dormindo, Renata trouxe um copo d'água e fechou a porta depois de entrar. Nos sentamos na cama, ela me abraçou e comecei a chorar de novo.

Decidi contar a ela tudo, menos os motivos ou coisas pessoais dele.

-Filho da puta, safado! Nunca suspeitaria com aquele rosto de anjo, que capeta! Coitado do Junior...

-Não fala assim dele...

-Wiliam! Abre o olho! Tem que terminar com ele, pela sua dignidade

-Não posso.

-Como não pode?! Não me diz que ele tá te ameaçando?

-Não, não... É que... - precisei respirar fundo - Eu amo ele.

-Ha! Não ama não.

-Como não?

-Wiliam, vocês se conhecem a três semanas, ele tá claramente te usando. Você tá emocionado, não é amor.

-Mas, ele disse que vai terminar e arranjou um emprego pra sair de casa e - segurou minhas mãos, obrigando-me a olha-la nos olhos.

-Wiliam, escuta, meu bem. Isso são promessas que amantes fazem um com o outro, mas nunca cumprem. Eu te amo, sou sua irmã, só quero seu bem, tá bom?

Não a respondi, voltei ao choro e ao abraço.

Um pouco antes de ir, já arrumado, Daniel me enviou uma mensagem:

"O portão e a porta tão abertos, tô nos fundos da casa, no jardim".

Nem sabia que havia um, fiquei preocupado que deixou tudo aberto, pedalei rápido. Ao chegar, fechei o portão, deixei a bicicleta na garagem, a lasanha, em um tupperware, na geladeira e fui aos fundos da casa.

Todas as pintas do seu corpoOnde histórias criam vida. Descubra agora