|12|

698 96 46
                                    

Assim que cheguei na porta da quadra vi o levantador sozinho, treinando saques. Respirei fundo, tomando coragem antes de entrar. "Você vai fazer um buraco na quadra daqui a pouco." falei, me escorando no batente da porta e cruzando os braços, chamando sua atenção para mim.

"Preciso ficar mais forte..." falou, apoiando a bola entre o braço e a cintura.Vi seu peito subir e descer, conforme ele tentava controlar a respiração.

Sorri e puxei minha mochila do ombro, abrindo e tirando dali dois chocolates, em seguida fechando-a e colocando ela de volta no lugar. Ergui as barras. "Quer dividir enquanto conversamos? Eu até te ajudaria no treino, mas se eu pular mais uma vez, sinto que minhas pernas irão cair..." dei uma pequena risada.

Semi abriu um sorriso contido e ficou me analisou por alguns momentos. "Claro. Podemos sentar na arquibancada." falou apontando para a escada.

Subi, sentando no primeiro lance de lugares e ele sentou ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas olhando a quadra abaixo. Estendi uma das barras para ele que aceitou de bom grado.

"O vôlei não é minha primeira opção..." soltei as palavras sem olhá-lo. Senti seu olhar em mim. Suspirei antes de continuar. "A música é... era... não sei mais. Pensei que a minha música tivesse morrido há quase dois anos atrás..." ele não falou nada então me permiti virar, para encará-lo. Notei compreensão e franzi o cenho.

"Imagino que essa última frase signifique que ela não morreu?" perguntou.

"Não... minha música não morreu e eu sinto que estou traindo meu melhor amigo." em um gesto comum, sem pensar, segurei meu colar com o anel.

"Quer me contar?" eu sabia que ele estava sendo sincero em sua pergunta. Mesmo se estivesse curioso, ele me daria o espaço necessário para que eu contasse apenas o que me sentisse confortável para falar. Passamos tanto tempo juntos ou conversando pelo celular que eu sinto que o conheço há anos, mas faz apenas duas semanas.

Pensei se deveria, antes de continuar... analisei a expressão no rosto do levantador por alguns momentos e suspirei novamente quando decidi. "Ele morreu em um acidente de carro... na noite do baile do último ano do fundamental... e eu... eu..." as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto antes que eu notasse. Semi me abraçou e novamente senti conforto naqueles braços.

"Não precisa falar. Eu não quero te ver assim, quero te ver alegre, sorrindo. Te ver triste me deixa triste." falou ele, fazendo carinho nas minhas costas, enquanto meu rosto descansava em seu pescoço. O perfume dele ainda se mantinha, mesmo que tivesse feito exercícios físicos durante boa parte da tarde.

Respirei fundo seu aroma. "Eu quero. Eu sinto que preciso." me desvencilhei de seus braços e ele levou suas mãos ao meu rosto. Limpando minhas lágrimas com seus polegares... "Naquela noite..."

Quase dois anos atrás...

Levei um susto quando o meu celular tocou. Olhei na tela e vi o nome de Henry, será que era para explicar o por quê de estar atrasado? Atendi, pronta para repreendê-lo, mas ele falou antes de mim.

"[Nome]... eu pre-preciso me desculpar pelo meu atraso... ma-mas infelizmente eu acho que vamos precisar adiar nossa dança..." sua voz estava ofegante, quase cansada. Ele tossiu um pouco. "Não sei se vou conseguir chegar..." mais tosse.

"Você está me assustando Henry, o que aconteceu? Você está bem?" lágrimas já rolavam pelo meu rosto. Meu coração estava apertado, sentia que algo de muito ruim estava prestes a acontecer. Isso não era do feitio dele, ele nunca se atrasa ou remarca um compromisso, não comigo... nunca comigo, ainda mais sendo sua noite de formatura. Uma noite importante para nós dois.

Diapason (Eita Semi x Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora