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Aquela conversa com minha mãe ficava se repetindo em minha mente assim como memórias de um passado não tão distante... e cá estava eu, dois anos depois, me mudando para os dormitórios da Shiratorizawa, assim como minha mãe desejava, e cumprindo uma promessa valiosa.

Meu irmão mais velho, Yuuta, me acompanhava, pois nosso pai estava ocupado treinando o time profissional no qual é o técnico e minha mãe estava no Brasil, também trabalhando como técnica. Ele atraía olhares por onde passávamos. Claro, não era todos os dias que as pessoas viam um dos astros da seleção japonesa masculina de vôlei em pessoa, mesmo com a Shiratorizawa sendo uma escola de elite. As pessoas que não conheciam o vôlei, olhavam-no por ser muito bonito. Havia herdado os olhos azuis de minha mãe, o porte físico forte de meu pai e os cabelos pretos do velho. Ele também era bem alto para os padrões japoneses, com seus 1,87m de altura.

Minha mãe, Aurora, é uma ex-jogadora de vôlei brasileira, mundialmente conhecida. Meu pai, Kotaro, é um ex-jogador de vôlei japonês, ambos jogaram por seus países. Minha irmã mais velha, Amora, joga em um time grande no Brasil e faz parte da seleção feminina adulta de lá, nós duas nos vemos apenas nas suas férias, mas nos falamos sempre, e meu irmão, Yuuta, joga por um time aqui no Japão, o Schweiden Adlers, mas também joga pelo país.

"Você está muito tensa, [Nome], relaxa. Não vai ser nenhum bicho de sete cabeças." falou Yuuta em português, enquanto tinha algumas caixas em seus braços.

"Eu estou bem... apenas um pouco assustada... nova escola, novas parceiras de time, novo sensei... isso me assusta um pouco. Joguei por tantos anos com as meninas, e agora nem todas vieram para cá..." falei suspirando.

Apenas duas das minhas companheiras de time do fundamental vieram comigo. Mayumi Yoshida, que era minha vice-capitã e levantadora titular, e Haru Watabi, minha líbero titular. Somos muito amigas e muito unidas. Agradeci a tudo e a todos quando, ao menos elas, foram aceitas na Shiratorizawa comigo.

Minha vaga estava garantida desde o dia em que nasci, graças ao meu pai e irmãos... mas consegui com que me deixassem vir para cá apenas no ensino médio, o que já foi uma grande vitória de minha parte. Meus pais não aceitaram a bolsa que me foi proposta e disseram para dá-la a alguém que precisasse realmente. Não foi por mal, minha família tem uma quantidade considerável de dinheiro, então uma bolsa não seria necessária.

Estava vindo da minha última vitória nacional, pelo que, no Brasil, é conhecido como ensino fundamental. Lembro-me de erguer a taça, de recebermos as medalhas de ouro, dos gritos da torcida... Sentiria saudades dessa época... afinal, teria uma capitã depois de tantos anos. Havia me desacostumado com a sensação de ter uma pessoa comandando o time, que não fosse eu... acredito que para Mayumi será da mesma maneira.

Eu sempre ficava admirada com o tamanho da escola, parecia uma cidade. Meu irmão reparou em meu espanto.

"Calma. Sim, isso é enorme, mas você vai tirar de letra e não é como se não conhecesse a escola, veio várias vezes aqui. Já avisou o Hayato e o Ohira que chegou?" perguntou meu irmão.

Hayato Yamagata e Ohira Reon eram jogadores da Shiratorizawa, Hayato era o líbero titular e Ohira era um dos atacantes titulares, ambos estavam no segundo ano. Éramos amigos de escola no fundamental, mas eles são um ano mais velhos que eu.

"Ah, esqueci de avisar. Irei ligar para eles." peguei meu celular com a mão livre e entrei no grupo em que estávamos nós três, apertando no botão de chamada em grupo.

Eles atenderam após três toques. "Hey, [Nome], o que foi? Aconteceu algo? Quando você chega?" perguntou Ohira, claramente assustado. Escutei algumas vozes masculinas ao fundo.

Diapason (Eita Semi x Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora