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Quando chegamos no restaurante, minha mãe pediu o local mais afastado das outras pessoas, onde poderíamos ficar a sós. O caminho até ali foi completamente em silêncio, que foi quebrado pela mais velha quando estávamos bem acomodadas na mesa.

"Você foi muito bem durante o jogo." ela sorriu em minha direção.

"Obrigada..." não sabia mais o que dar como resposta para a sua frase, muito menos como continuar a conversa.

"Tem um tempo que eu gostaria de conversar com você, sobre o seu futuro no vôlei e..." bufei, cortando a mais velha. Não queria entrar naquele assunto não com ela, não mais.

"Olha, mãe. Eu amo o vôlei, mas não quero mais que se meta em minha vida, você é minha mãe, sempre será, porém tem coisas que não podem ser apagadas..." respirei fundo, antes de continuar. "Você me abandonou quando eu mais precisei. Me deixou de lado, simplesmente evitando tocar no assunto quando eu perdi alguém que eu amava completamente. Henry morreu e você me culpou pelo luto. Achou que era brincadeira, exagero... simplesmente deu as costas e foi embora. Desde aquele dia, faço o necessário para que não se meta mais em minha vida, faço o que me pede, mas eu cansei. Eu não sou um brinquedo que a senhora pode usar e moldar como quer. Eu sou sua filha. Ou era, pois já deixou bem claro que não se importa mais com nada além da minha carreira no vôlei e com o quanto se decepcionou comigo quando precisei me afastar do esporte." soltei o ar que estava prendendo. Todo o peso que estava em minhas costas sumiu, me deixando aliviada. Eu amava minha mãe, mas aquela conversa era necessária.

A mulher apenas ficou ali, sentada, com os seus enormes olhos azuis arregalados em minha direção como se não reconhecesse a pessoa que eu me tornei. E eu precisava admitir, nem eu reconhecia a mim mesma. Havia passado por tanta coisa, sobrevivido a tanta coisa, que não temia mais nada. Enfrentaria a tudo e a todos de cabeça erguida se fosse necessário.

Mantive meus olhos fixos nos dela, mas sentia meu coração bater rapidamente. Minhas mãos estavam suadas devido a ansiedade sentida pelo silêncio da mais velha. E quando sua boca se mexeu, senti medo do que viria a seguir, porém não estava preparada para o que de fato aconteceu.

Lágrimas grossas escorreram pelas bochechas da mulher, me deixando alarmada. Minha mãe não chorava... nunca. Nem de felicidade, nem de tristeza. Era uma muralha impenetrável e agora estava ali, com aquelas gotas molhando sua face.

"Eu sinto muito... sei que nada do que eu disser fará você me perdoar, mas eu sinto muito." ela se levantou, se jogando ao meu lado e me abraçando pela cintura.

Fiquei tensa, sem saber o que fazer, enquanto a mais velha chorava de soluçar e me pedia perdão.

"Mãe..." de forma hesitante, ergui uma de minhas mãos, dando pequenas batidinhas em suas costas, sem jeito. "Está tudo bem."

"Não. Não está... eu fui horrível."

Suspirei, me afastando e sentindo minhas bochechas molhadas, claramente estava chorando também.

"Eu vou continuar no vôlei, é o que eu amo, afinal. Mas eu gostaria que, ao menos uma vez, você também me apoiasse no que eu escolhesse fazer da minha vida. Seja jogando no Japão, no Brasil ou em qualquer outro país." ali estava, a verdade.

"Eu sei sobre a música... os pais de Henry vieram até mim, assim como a irmã dele. Me mostraram a apresentação que fizeram... eu sei que é difícil, mas seria horrível se largasse tudo. Você ama a música e-"

"Mãe..." a interrompi, enquanto me levantava e a ajudava a voltar para o seu lugar. Me sentei antes de continuar a falar. "Henry era a minha música. Eu ainda amo cantar, mas quando ele morreu, parte desse amor se foi com ele. Era algo que pertencia a nós seis e continuar com isso faz parecer que estamos desonrando a memória dele. O sonho maior sempre foi dele, nós apenas o amávamos demais para ignorar isso. Sim, eu amei a música incondicionalmente quando era mais nova, porém as prioridades mudam e hoje, o vôlei é a minha maior paixão. Entretanto, isso não quer dizer que abandonarei os instrumentos e o microfone, ainda posso ter isso como hobby. Semi Eita apareceu em minha vida novamente e com ele, uma nova melodia passou a soar em meu coração."

"Entendo o que quer dizer... e irei te apoiar."

Me senti feliz com suas palavras que pareciam sinceras, mas queria aproveitar esse momento para lembrar-lhe de outra pessoa muito importante. "Mamãe, quando você vai falar com o tio Miles?" notei que ela ficou tensa, prendendo a respiração antes de responder a pergunta com outra pergunta.

"Preciso?"

Revirei os olhos. "Sim. Precisa. Vocês são irmãos, só porque ele abandonou o vôlei, não significa que você deve abandoná-lo também." apontei meu garfo em sua direção.

Funguei um pouco, evitando que meu nariz escorresse por causa das lágrimas. Minha mãe ainda tinha seus olhos úmidos pelo mesmo motivo. Nunca imaginei que a veria me pedindo desculpas, mas ali estava ela, tentando fugir... só me perguntava quanto tempo essa nova Aurora iria durar. Um ser humano com medos e falhas.

"Vou entrar em contato com ele mais tarde." notei que ela estava tentando fugir de novo, claramente sentindo vergonha por ter de ir atrás de alguém com quem brigou por anos.

"Agora, mãe."

"Por que?"

"Porque eu sei que você não fará isso depois."

"Tudo bem, mas..." ela abaixou a cabeça um pouco, antes de murmurar o restante. "Eu não tenho o número dele salvo."

Soltei uma pequena gargalhada, sentindo o clima ficar mais leve entre nós. Peguei meu celular, procurando o número do mais velho e cliquei em chamar. Demorou cerca de quatro toques para que ele atendesse.

"Veja se não é minha sobrinha favorita no mundo todo... No que eu posso te ajudar?"

"Hey, tio Miles. Você está livre agora?"

"Para você, sempre. O que precisa?"

"Preciso que venha até o Restaurante Mavi's. Tenho uma surpresa para você." minha mãe estava se mexendo na cadeira, em claro sinal de desconforto.

"Claro, estarei aí em vinte minutos." respondeu, já encerrando a chamada.

"Você tem vinte minutos para respirar mãe."

Ela apenas concordou, bebendo sua taça de vinho que havia chegado em algum momento na mesa, em apenas um gole.

Senti que finalmente minha vida estava ficando completa... assim como minha família. 

🎸🎸🎸

Hellooooou!

E faltando dez minutos para a segunda feira, aqui estou eu, com o penúltimo capítulo kkkkkkk

Espero que estejam bem.

Me contem o que acharam!

Aliás, tem uma one-shot nova. Se chama Belle Âme e é com o Kuroo no mundo de Os Instrumentos Mortais. Ela está no meu perfil!

Amo vocês ❤️❤️❤️

Beijos de luz e até a próxima!!!

Beijos de luz e até a próxima!!!

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Diapason (Eita Semi x Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora