Capítulo 3

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⚠️ PODE CONTER GATILHOS⚠️

•Agressão.
•Violência doméstica...

* Leiam com paciência e devagar kkk o cap está grandinho e um tanto pesado...*  (carta de Jacob)

"Não gosto de ser repetitivo mas lhe digo mais uma vez, esta carta e tudo escrito nela não é nenhum tipo de pedido de desculpas, não pretendo ganhar seu perdão com tais palavras que narram um acontecimento horrível e que eu mesmo odeio ter que te contar, só quero te entregar a verdade e ela está todinha aí, o que fazer depois de saber tudo que está prestes a descobrir é escolha sua, só espero que entenda que me sinto muito mal com tudo que lhe fiz, mas que não me arrependo de nada.
Tudo se deu início na noite de vinte e três de dezembro de 2018. Foi o primeiro dia em que vesti um terno em toda minha vida, foi a noite do baile de formatura de minha escola, até então a noite mais feliz de minha vida, eu tinha conseguido ir com a menina mais gata da escola, fui o único dos meus amigos que não encheu a cara, não peguei nenhuma DST considerando a quantidade de pessoas que só iam nessas festas para transar (acredito que isso não vem ao caso). Mas o fato é que a noite desmoronou quando retornei para casa.

Eu vivia com minha mãe em um bairro humilde e uma casa não muito diferente, meu pai era um babaca viciado que sempre sumia e quando voltava só fazia lambança e de fato era isso que ele estava fazendo quando cheguei no quintal pós a festa e escutei gritos. Gritos de minha mãe, eu tenho certeza que foi ali que as coisas começaram a desandar! Imagino e desejo que nunca tenha escutado um grito agoniado de alguém que ama, alguém que esteve presente em sua vida a todo momento, seja na merda ou em sua melhor fase, sua mãe! Foi a pior coisa que já escutei em toda minha vida.

Quando entrei na casa a cena foi pior ainda, não perderei tempo com detalhes e muito menos te torturar, mas ao ver tudo aquilo não deixei de pensar em todas as vezes que falei para minha mãe que o melhor a se fazer era fugir para que ele nunca descobrisse nosso endereço e nos encontrasse, mas o que ela sempre respondia era.... "Para que!? Dar motivo para os vizinhos fofocarem!?" Não, era para não chegar nesse ponto, para que eu não estivesse a ver àquelas mãos nojentas daquele homem em seu pescoço a torturando.

Não era a primeira vez, eu sabia daquilo, sempre haviam discussões e pequenas brigas. Com o passar dos anos eu passei a interferir em todas e defender minha mãe, mas aquela era diferente, meu pai estava mais bêbado, totalmente agressivo e sem dúvidas chapado, muito chapado! Não hesitei em interferir naquilo também, os olhos da minha mãe lutando contra a agressividade daquele monstro e ainda reunindo forças para me lançar um olhar implorando para que eu sumisse. Ignorei-a totalmente, parti para cima dele e o segurei pelo braço que antes eram bem mais fortes que os meus. Os motivos das brigas eram na maioria das vezes por minha mãe ser sensata e  lhe negar dinheiro para sustentar seu vício, o mesmo daquela noite também.

Ele não hesitou com meu toque, apenas gruniu "Saía seu moleque!" e me empurrou antes de voltar-se para minha mãe e segurá-la mais forte no braço. Ainda no chão com ira e ódio nos olhos não pensei nos meus próximos atos. Havia uma garrafa meio quebrada somente com o gargalo caída no chão com vários cacos de vidro esverdeados espalhados pelo piso. Obra do meu pai, imagino. Na verdade, eu tinha pensado sim no que estava prestes a fazer, ele iria largar minha mãe, cairia no chão segurando a cabeça que provavelmente teria um mínimo corte e na pior das hipóteses ele desmaiaria, mas eu calculei errado. Odeio ter que admitir mas parte de mim sabe que foi minha culpa, minha raiva... Era a minha mãe! O choro dela ainda preenchia a sala enquanto eu permanecia de pé com o gargalo em minhas mãos agora coberto pelo sangue dele.
Não tinha sido um mínimo corte, ele não tinha apenas desmaiado, em segundos eu não era mais um menino e sim um assassino.
Ainda hoje não acredito no que fiz, não acredito que não tivemos coragem de chamar a polícia e ao invés disso ligamos para minha avó. Sim, aquela que você conheceu, a simples senhora que de simples não tem nada. Apesar de sermos da mesma família ela esbanja riqueza e não mora em um lugar tão simples quanto eu como você com certeza já percebeu, tudo porque ela seguiu caminhos diferentes dos nossos, caminhos dos quais estávamos prestes a entrar. Aquela senhora que é sua vizinha à anos e que todos na rua parecem conhecer, dirige negócios clandestinos que nem mesmo eu entendo, daí vem a riqueza dela... Minha mãe nunca teve uma relação muito boa com ela, na verdade nem aquele infeliz que meu pai era tinha uma relação estável com sua mãe, achei muito estranho quando minha mãe escolheu ela como contato de emergência. Por incrível que parece minha avó soube o que fazer. Eu estava completamente fudido pisicológicamente. Eu tinha sido o culpado pelo último suspiro de um homem, do meu pai! Não lembro de muita coisa, lembro apenas de breves flashs, minha mãe tentando manter o equilíbrio enquanto seu rosto e corpo ainda carregava manchas roxas causadas por ele, o sangue se espalhando pelo piso e chegando até meus sapatos sociais além de meu terno respingado com sangue do meu sangue, minha mãe sumindo com aquele bendito gargalo e homens estranhos chegando à nossa casa mandados por minha avó e levando o corpo do meu pai com eles. Aquilo foi em parte um pouco da nossa salvação, no outro dia como um milagre, saiu notícias nos jornais sobre um acidente de carro em um barranco que pareciam reais se eu não soubesse que era um teatro causado pelo dinheiro e homens da minha avó, tiramos a culpa de nosso lar mas não de minha mente. Foi tudo muito rápido depois daquilo, não tinha muito o que relatar, todos sabiam dos vícios de meu pai.

Para sempre Katherine.Onde histórias criam vida. Descubra agora