2. Sujeição

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POV Santana

Completamente calada, encontrava-me dentro de um dos seis automóveis no mesmo percurso, sendo levada para embarcar no transatlântico que, ancorara há sete dias, no porto da cidade de Southampton. Como programado, chegamos no horário. O tal Titanic, era pejorativamente apelidado de "navio dos sonhos". E ele era um sonho para muitos. Realmente, era. Porém, não para a minha pessoa.

Todos os passageiros da terceira classe, por aqui, por favor! — Um tripulante vozeava, com assistência de outro, articulando com as mãos para o povo espalhado, ao longo do ancoradouro. — Façam fila!

Dando algumas buzinadas, a fim de não atropelar a aglomeração de civis à frente, meu chofer prosseguiu o trajeto mais lentamente e eu, da janela, me mantive assistindo a movimentação. Cada vez mais perto, conseguia ver veículos alheios serem içados para o interior do Titanic, pescados do chão como peixes. Momentos depois, Brad estacionou o carro, em meio à multidão, e em seguida, veio abrir a porta para mim, pegando em minha mão para ajudar-me a descer.

— Nossa parada é aqui, Srta. Lopez.

— Obrigada...

— Tenha uma ótima viagem, estarei orando por vocês. — Ele se despediu e voltou à direção.

Observei a colossal embarcação sobre a água, de pé, enquanto minha mãe descia de um veículo e Sebastian de outro, e aí fiz pouco caso do Titanic, o satirizando.

— É isso? Hum... Não é grande coisa. — Virei-me em direção a meu "querido" noivo, segurando uma extremidade do chapéu em cima de meus cabelos, por causa da forte corrente de ar que operava na baía, e continuei: — Não parece ser maior que o Mauretania.

Sebastian riu debochado e aproximou-se.

— Você pode se desfazer de muitas coisas, Santana. Muitas mesmo. Mas, não do Titanic. — Ele apontou para o navio com a bengala em posse, fazendo-me olhar, novamente. — Ele tem acima de trinta metros a mais do que o Mauretania. E é bem mais luxuoso. A primeira classe daqui faz a do Mauretania parecer de segunda, querida.

Revirei os olhos e dei as costas a ele, ouvindo-o falar com a minha mãe.

— É absurdamente difícil agradar sua filha, Maribel.

Ela riu sutilmente de Sebastian e chegou a mim, sem tirar os olhos do Titanic.

— Então, este é o navio que dizem ser inafundável?

— Ele mesmo! — Smythe afirmou, convencido. — Nem Deus tem poder para afundar esse navio, podem apostar. Sem dizer que, o capitão no comando é um dos melhores.

Será mesmo, noivinho?

Ei, senhor! — Um marinheiro o chamou, enrugando suas feições de imediato. — Precisa registrar sua bagagem no terminal principal, queira me acompanhar, por gentileza.

Huh, eu confio em você, amigo. — Ele deu um punhado de dinheiro para o outro homem se calar e deixá-lo em paz, esclarecendo: — Fale com meu criado sobre isso, tudo bem?

— M-muito obrigado senhor, estarei a sua disposição quando quiser.

— Acredito que sim. — Ele sorriu, superficialmente, dando tapinhas no ombro do sujeito. — Kenneth? Mostre o caminho para o nosso colega aqui. — Num piscar de olhos, o mordomo de Sebastian se encarregou de levar o tripulante consigo até as bagagens, e sem mais delongas, ele fitou seu relógio. — Senhoras, melhor nós apertarmos mais o passo. Tenho certeza que os outros chegam logo.

Mamãe grudou no braço de Sebastian e foi à frente, e eu olhei em volta, os seguindo como sombra, enquanto ouvia apitos soarem e via pessoas gritarem.

Abril, 1912 - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora