3. Evasão

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POV Brittany

No interior de um pequeno bar qualquer, diante ao porto de Southampton, eu e Sam tentávamos nossa cartada final. Caso contrário, nossos planos seriam outros, obrigatoriamente. O que seria brutal, já que nem plano B nós tínhamos em mente ainda, se quiçá saíssemos dos trilhos. Eu estava disfarçada de garoto, usando as roupas do meu irmão, o cabelo escondido por debaixo de uma boina e uma faixa apertando os seios ao máximo.

Nossa salvação? Era um torneio de xadrez que, rolava aquela madrugada no bar em questão.

Tivemos que pagar uma taxa específica para poder participar do mesmo, todavia eu faria valer a pena.

Eu tinha que fazer.

Essa era minha única opção.

— Britt, você é louca ou o que? — Sam questionou-me, quando paguei a quantia proposta no impulso, sem ao menos consultá-lo. — O que vamos fazer se algo der errado? Gastou boa parte do que temos...

Talvez, eu fosse louca mesmo. Eu o entendia, completamente. Mas, o que nós tínhamos afinal? Um pouco de dinheiro "roubado" e alguns trapos velhos para vestir, apenas. Porque liberdade, nome limpo e um lar passavam longe da gente, devido aos recentes acontecimentos.

Nosso dinheiro não valeria nada se não saíssemos da cidade.

Nós estarmos lá, prestes a participar de um campeonato de xadrez, já era um enorme risco para nós.

Estávamos nos expondo demais.

Qualquer um poderia alertar a polícia sobre nossa localização, caso desconfiassem que, porventura, eu fosse uma garota e que nós, tratávamos dos irmãos "Evans" fugitivos. Isso sim era loucura, se deixar ser pega. Além da companhia um do outro, Sam e eu não tínhamos nada afinal, e sabia-se lá por quanto tempo ficaríamos juntos, caso nos pegassem.

— Não seja pessimista. — Eu retruquei. — Não temos nada, exceto o agora. Lembra? Vamos jogar.

Acabou que ele me apoiou, então, entramos.

Na casa dos Evans, Sam e eu já havíamos possuído certo contato com o jogo antes de o casal pirar conosco. Adorávamos jogar, todo dia, após a chegada da escola. Bem, para mim era impossível esquecer como se jogava xadrez, por mais tempo que ficasse sem tocar em uma peça. Ou sem ver uma partida.

Ou até mesmo, sem imaginar uma.

As peças eram únicas, as funções claras, o objetivo certeiro.

A questão era que, ali, somente homens podiam entrar no torneio, assim precisei me apresentar como Brittan. Não era a primeira vez que fazia isso. Fora que, a polícia procurava um irmão e uma irmã fugindo juntos, não dois garotos. E isso também evitaria assédio ou coisa pior para o meu lado. Estávamos nos saindo bem com a farsa, só precisava continuar atuando até pôr os pés na América novamente, ou um pouco mais.

Não fazia muita ideia de até quando, exatamente. Mas, isso era o de menos.

Precisava ter foco nas estratégias possíveis no tabuleiro à minha frente.

Cada uma delas.

O prêmio para quem vencesse o torneio de xadrez eram duas passagens de terceira classe para o Titanic. Já era manhã, quando eu estava indo para a rodada final, contra o melhor dos homens presentes. Sam não estava mais no campeonato, fazia algumas horas, porém, ele havia chegado longe.

Agora, eu precisava ir até o fim, por nós dois. Manter-me firme, apesar do cansaço.

De olhos abertos, e sagazes.

Abril, 1912 - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora