4. Redenção

93 18 14
                                    

POV Brittany

Sam adormecera fazia uns minutos, já eu, não iria tão cedo. Desta maneira, saí de nossa cabine e direcionei-me sozinha a parte exterior do Titanic, perto de sua popa. Não fiz questão de me apressar, pois queria ver os detalhes do navio sossegada desta vez. Na última noite, durante minha hodierna insônia, havia descoberto um ótimo lugar para assistir as estrelas. A vista era tão viciante que, poderia virar a madrugada sem problemas por lá, deitada naquele exato banco rígido de madeira.

O oceano era música.

O clima, frio. A noite serena.

Quanto à lua ao céu? Nem possuía palavras para expressar-me.

Ainda tinha dúvidas se estava sonhando ou não, por isso não queria fechar os olhos. Se eu fechasse, iria para o terceiro dia de viagem num raio de segundo. O que seria bom por um lado, o de estar mais próxima de casa, mas por outro, aquilo tudo poderia acabar. Será que eu estava pronta para isso? O plano era fugir, mas... E depois?

Subitamente, algo me tirou a atenção das estrelas.

Um vulto de mulher passou voando ao meu lado, pisando forte no pavimento. Preocupei-me e levantei o tronco, a fim de enxergá-la. Era ela. A obra de arte em garota. Pela tarde, havia enxergado-a um andar acima do deque em que eu me encontrava, quando a morena não parecia estar de bom humor, novamente. E agora, estava correndo aos prantos? Tinha algo errado.

Ergui-me do assento e a segui, curiosa.

Como eu suspeitava, a moça sentia-se triste. O que vi ao chegar à popa me chocou, mas não me impediu de continuar andando em direção a ela. A garota se localizava do outro lado da balaustrada, olhando para baixo e se inclinando, ameaçando soltar-se do parapeito para cair no mar, ainda que com receio. Um passo em falso seria seu fim.

Por que ela estava tão triste? Trêmula, arfante... Queria entender.

Ela não estava certa disso. Estava confusa. E eu não podia e não iria dar as costas a ela, agora estava envolvida demais. Talvez, não devesse me meter, mas meu sentimento em relação a aquilo não me permitia ignorar ou voltar atrás.

— Não faça isso... — Pedi, com calma. — Eu imploro.

Ela olhou para trás, bruscamente.

— Você?

— Apenas...

— Saia daqui!

Respirei fundo, aflita, olhando diretamente em seus olhos castanhos e continuei a me aproximar dela.

— Não posso sair sem antes saber que ficará segura, me dê a sua mão... — Estiquei o braço. — Para eu te puxar de volta.

— Não! Deixe-me em paz... Falo muito sério, irei me soltar.

— Tudo bem, tudo bem. — Abaixei a mão e à medida que a moça virou o rosto, atrevi-me a avançar, um pouco mais, chegando perto do parapeito, finalmente. Precisava distraí-la daquela ideia. Fingi observar o mar e a espiei de canto de olho. — Noite bonita, não?

— Só se for para você.

Péssima escolha de palavras, Brittany. Cuidado com essa boca. Dei dois passos para o lado e me pus mais perto da garota, e ela, continuou na mesma. Suas mãos agarravam firme a amurada, agora ela parecia mais uma personificação do hesito do que qualquer coisa.

Se caísse, seria um acidente.

— Você... Não vai se soltar. — Comentei. — Sabe disso, né?

Abril, 1912 - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora