Quadribol - 1991

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Quando entrou novembro o tempo esfriou muito. As serras em torno da escola viraram cinza-gelo e o lago parecia metal congelado. Toda manhã o chão se cobria de geada.
Hagrid era visto das janelas dos andares superiores do castelo degelando vassouras no campo de quadribol, enrolado num casacão de
pele de toupeira, com luvas de coelho e enormes botas de castor.
Começara a temporada de quadribol. No sábado, Harry estaria jogando sua primeira partida depois de semanas de treinamento: Grifinória contra Sonserina.
Se Grifinória ganhasse, subiria para o segundo lugar no campeonato das casas.
Quase ninguém vira Harry jogar porque Olívio decidira que, sendo uma arma secreta, a participação
de Harry deveria ser mantida em segredo. Mas de alguma forma a notícia de que jogaria como apanhador vazara e Harry não sabia o que era pior – se as pessoas dizerem que ele seria brilhante ou dizerem que iriam ficar correndo embaixo dele com um colchão.
Era realmente uma sorte que Harry agora tivesse Hermione como amiga. Não sabia como poderia ter dado conta dos deveres de casa sem ela, diante dos treinos de quadribol convocados por Olívio à última
hora.
Ela também lhe ofereçera emprestar o livro Quadribol através dos séculos, mas Harry já tinha lido mais de 12 vezes.
Harry sabia que havia setecentas maneiras de cometer faltas em quadribol e que todas haviam
ocorrido durante a Copa Mundial de 1473; que os apanhadores eram em geral os jogadores menores e mais velozes e que a maioria dos acidentes graves no quadribol parecia acontecer com eles; que embora as pessoas raramente morressem jogando quadribol, havia juízes que tinham desaparecido e reaparecido
meses depois no deserto do Saara.
Hermione tornara-se menos tensa com relação às infrações ao regulamento desde que Harry e Rony a tinham salvado do trasgo montanhês e se tornara uma pessoa mais simpática.
Na véspera da primeira partida de quadribol de Harry, os três foram até a quadra congelada durante o intervalo das aulas, e ela fizera aparecer para eles um fogo azulado muito vivo que podia ser levado para toda parte em um frasco de geleia. Achavam-se parados de costas para o fogo, se esquentando, quando Snape atravessou o pátio.
Harry reparou logo que Snape estava mancando. Harry, Rony e Hermione se aproximaram mais para esconder o fogo com o corpo; tinham certeza de que era proibido.
Infelizmente alguma coisa em suas
caras culpadas atraiu a atenção de Snape. Ele veio mancando até onde eles estavam. Não vira o fogo, mas parecia estar procurando uma razão para ralhar com eles.
—Que é que você tem aí, Potter?
Era o Quadribol através dos séculos. Harry mostrou-o. — Os livros da biblioteca não podem ser levados para fora da escola — falou Snape. — Me dê aqui. Menos cinco pontos para Grifinória.
— Não é da biblioteca. É do meu pai, acho que sabe que ele ama Quadribol.
Snape o emcarou e o ódio subiu em seus olhos.
— Também insolente igual ele, e Hogwarts não gosta de alunos insolentes. Menos dez pontos para a Grifinória.
— Ele acabou de inventar essa regra — murmurou Harry com raiva, enquanto Snape se afastava. — Que
será que houve com a perna dele?
— Não sei, mas espero que esteja realmente doendo — falou Rony com azedume.

A sala comunal da Grifinória estava muito barulhenta aquela noite.
Harry, Rony e Hermione sentaram-se
junto a uma janela. Hermione verificava os deveres de Harry e Rony para a aula de Feitiços. Ela nunca os deixava copiar (“Como é que vocês vão aprender?”), mas ao lhe pedirem para ler os trabalhos, eles recebiam as respostas certas do mesmo jeito.
Harry sentia-se inquieto.
Por que deveria ter medo de Snape?
Levantou-se e disse a Rony e Hermione que ia pedir a Snape para lhe devolver o livro.
– Antes você do que eu – responderam eles juntos, mas Harry tinha a impressão que Snape não iria
recusar se houvesse outros professores ouvindo.
Ele foi à sala dos professores e bateu à porta. Não obteve resposta. Bateu outra vez. Nada.
Talvez Snape tivesse deixado o livro na sala? Valia a pena tentar. Entreabriu a porta e espiou para
dentro – e deparou com uma cena horrível.
Snape e Filch estavam lá dentro sozinhos. Snape segurava as vestes acima do joelho. Uma das pernas
sangrava, lacerada. Filch entregava ataduras a Snape.
– Droga – dizia Snape. – Como é que se pode ficar de olho em três cabeças ao mesmo tempo?
Harry tentou fechar a porta sem fazer barulho, mas...
– POTTER!
O rosto de Snape contorceu-se de fúria ao mesmo tempo que ele largava as vestes para esconder a
perna. Harry engoliu em seco.
– Eu vim saber se o senhor poderia devolver o meu livro.
– SAIA! SAIA!
Harry saiu, antes que Snape pudesse descontar algum ponto de Grifinória. E voltou correndo para
baixo.
– Conseguiu? – perguntou Rony quando Harry se reuniu a eles. – Que aconteceu?
Num murmúrio, Harry lhes contou o que vira.
– Sabe o que isso significa? – terminou sem fôlego. – Ele tentou passar pelo cachorro de três cabeças
no Dia das Bruxas! Era para lá que estava indo quando o vimos. Ele quer a coisa que o cachorro está
guardando! E aposto a minha vassoura como ele deixou aquele trasgo entrar, para distrair a atenção de todos!
Os olhos de Hermione estavam arregalados.
– Não. Ele não faria isso. Sei que ele não é muito simpático, mas não tentaria roubar uma coisa que
Dumbledore estivesse guardando a sete chaves.
– Sinceramente, Hermione, você pensa que todos os professores são santos ou coisa parecida – disse-
lhe Rony com rispidez. – Concordo com Harry, acho que Snape faria qualquer coisa. Mas o que é que ele
está procurando? O que é que o cachorro está guardando?
Harry foi se deitar com a cabeça zunindo com aquela pergunta. Neville roncava alto e Harry não
conseguia dormir. Tentou esvaziar a cabeça – precisava dormir, tinha de dormir, ia jogar sua primeira
partida de quadribol dentro de algumas horas –, mas a expressão no rosto de Snape quando Harry vira
sua perna era difícil de esquecer.

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