Capítulo 7

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Naquele mesmo instante, justamente quando o carro estava consumindo seus últimos litros de gasolina ecológica, o letreiro de um posto de gasolina apareceu, como se estivesse correndo para nos socorrer. Dei um suspiro de alívio. Após encher o tanque e verificar os níveis de água e óleo, tive de insistir para que o Jovem Príncipe se lavasse no toalete. Era como se lhe faltasse vontade de se cuidar.

Depois de algum tempo na estrada, perguntei a ele:

- Foi ele quem lhe deu o carneiro, não foi?

Ambos sabíamos a respeito de quem estávamos falando, mas senti mágoa em sua expressão quando ele respondeu.

- Foi o que eu pensei na época.

- O que você quer dizer com isso? - perguntei, para estimulá-lo a continuar.

Seus traços revelavam tristeza, incredulidade, raiva e tristeza outra vez, em rápida sucessão. Bem no fundo daqueles olhos claros, parecia arder uma chama de esperança. Minha intuição me dizia que provavelmente fora ela que o lhe trouxera até aqui.

Quando finalmente falou, ele o fez em tom de resignação.

- É uma história triste, acho que você não vai se interessar - disse ele, sem demonstrar nenhuma curiosidade em descobrir como eu soubera da existência do carneiro.

- É claro que estou interessado! - repliquei, tão enfaticamente que receei ter de explicar por que estava tão interessado na existência de uma carneiro que nunca vira.

Senti-me aliviado quando o Jovem Príncipe iniciou sua história. Foi como se meu oponente não tivesse percebido o movimento que me colocaria em xeque-mate.

***

Certa manhã, quando o Jovem se encontrava atarefado com a limpeza diária de seu planeta ("é muito importante manter seu planeta limpo" explicou ele), uma erva daninha que ele estava para arrancar falou com ele.

- Se o senhor me arrancar, vai cometer outro erro.

- O que você quis dizer com "outro erro"? - perguntou o Jovem Príncipe, suspeitando de alguma armadilha.

- Quero dizer que irá se privar de uma erva inteligente, que poderia ser muito útil ao senhor. Afinal de contas, que mal eu poderia lhe fazer? Estou nem suas mãos. O senhor pode me arrancar quando quiser, mas eu acredito que vai precisar de mim. O senhor será meu amo e eu serei sua criada.

Depois de pensar no assunto por um momento, o Jovem Príncipe fez outra pergunta, sem ainda se comprometer com a decisão.

- O que você quis dizer com "outro erro"? Qual foi o meu erro anterior?

- Um erro simples, Amo. O senhor acredita que há um carneiro naquela caixa, não acredita?

- É claro que há um carneiro naquela caixa! - exclamou o Jovem, indignado. - É um lindo carneiro branco que meu amigo da Terra me deu de presente. Infelizmente, por causa do desgosto que sentiu com a minha partida,ele se esqueceu de me dar a focinheira e a coleira. Por isso não posso levar o carneiro para passear, porque ele pode escapar e comer a flor.

Quando parou para recobrar o f^lego e estava para arrancar a erva daninha do chão, ela falou com ele de novo.

- Amo, se em vez de se deixar pelas emoções o senhor permitir que eu explique, acho que posso explicar tudo ao seu senhor.

Dizendo isso, a erva desdobrou uma de suas folhas, na qual, para o espanto do Jovem Príncipe, estava uma reprodução exata de um carneiro ao lado de um garoto. Após examinar a imagem por alguns instantes, o Jovem Príncipe reconheceu que jamais vira um desenho tão detalhado.

- Não é um desenho, é uma fotografia - disse a erva com certo ar de triunfo, pois estava prolongando sua própria vida. Depois prosseguiu: - É uma imagem que captura a realidade exatamente como ela é. Como senhor pode ver, um carneiro real é mais alto que o peito de uma criança. Se o senhor me perguntasse na época, eu poderia ter explicado que o carneiro, mesmo recém-nascido, mede mais que os vinte centímetros  do comprimento da caixa.

Finalmente, adotando um tom misericordioso, a erva foi direto ao ponto.

- Sinto muito, Amo. Me dói ter que lhe dizer isso, mas como sua jovem criada devo alertar o senhor contra esse suposto amigo que se aproveitou de sua confiança, porque essa caixa na verdade está vazia.

Naquele momento, o mundo do Jovem Príncipe desmoronou ao seu redor. Foi o dia mais triste de sua vida. Desde então, ele passou a desconfiar de tudo e de todos. E nenhum pôr do sol foi capaz de consolá-lo como antes...

O Retorno Do Jovem PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora