capítulo 18

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Ao meio dia, chegamos a uma cidade conhecida por seu hotel imponente, com um amplo centro de conferências. Fora construído para desenvolver a indústria do turismo na área e divulgar as atrações locais, mediante congressos para empresários, artistas e outros grupos.

Paramos lá para almoçar. Quando estávamos nos dirigindo ao restaurante, notamos, pelas portas abertas, que o grande salão de convenções estava cheio de gente. Ao olharmos casualmente para o púlpito, ficamos surpresos ao constatar que o orador era ninguém mais que o pai da família que encontramos no dia anterior. Ele estava no final de um discurso de candidato, embora não conseguíssemos descobrir a que cargo ou função. Fiquei surpreso quando ele disse:

- ... Acreditem em mim. Eu não vou decepcionar vocês.

Foi quando seus olhos se encontraram com o olhar límpido e penetrante do Jovem Príncipe. Eu estava dominado pela irreprimível vontade de denunciá-lo publicamente, dizendo a todo mundo que naquela mesma manhã ele nos decepcionara, abandonando à própria sorte um cachorrinho indefeso.

Percebi com desgosto que o rosto do homem não revelava culpa nem vergonha, provavelmente porque essas emoções exigem um pouco de humanidade.

Na expressão do Jovem Príncipe, no entanto, não havia nenhum traço de rancor ou dureza, apenas uma grande luminosidade que sombra alguma poderia turvar.

Decidimos andar mais depressa até o restaurante, antes que os polidos aplausos despertassem a plateia, provavelmente faminta.

Estávamos iniciando a refeição quando o homem entrou no recinto. Ao nos ver, encaminhou-se diretamente para nossa mesa. Fiquei tenso, surpreso com o fato de que aquele indivíduo tivesse a coragem de nos encarar.

Mas o homem parecia calmo e relaxado. Aproximou-se de nós com um sorriso nos lábios. Pousando uma das mãos no ombro do Jovem Príncipe, e disse:

- Foi maravilhoso o gesto de vocês, ontem à noite. E eu entendo perfeitamente que tenham se arrependido. O cachorro é mesmo especial. Mas devo dizer que as crianças ficaram muito desapontadas quando não o encontraram hoje de manhã...

- Eu não compreendo... - eu disse, lançando um rápido olhar ao meu amigo, que se mantinha calmo e impassível, - Como assim, eles não encontraram o cachorro?

Mas o pai prosseguiu, ignorando minha interrupção.

-... Se vocês pelo menos tivesse deixado um bilhete, por exemplo, dizendo que amam muito o cãozinho, teria sido mais fácil explicar para as crianças que...

- Escute, por favor - disse eu em tom mais enérgico, incapaz de lidar com o fato de que aquele homem parecia compreensível e generoso, quando deveria ser o contrário. - Meu jovem amiga aqui não se arrepende de nada. Hoje de manhã, depois que vocês partiram, nó descobrimos o cachorro no bosque e achamos que...

- Que nós o tínhamos abandonado? - disse o pai, finalizando a frase que eu não ousara completar. - Abandonar esse filhote lindo e indefeso? Mas como você pode pensar num absurdo desses? - perguntou o homem com indignação.

Após um desconfortável momento de silêncio, em que eu não soube dizer, o homem continuou:

- Talvez vocês tenham me visto ser severo com meus filhos, mas não sou uma pessoa insensível e sempre tentei não ser injusto. Simplesmente, acredito que um pouco de disciplina é melhor que não ter limite nenhum.

Depois de pensar por uns momentos, ele acrescentou:

- Não consigo entender o que pode ter acontecido, a não ser que o cachorrinho tenha conseguido abrir a porta do cubículo durante a noite e se perdido no bosque.

O Retorno Do Jovem PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora