capítulo 17

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Depois de um sono revigorante, acordei um tanto mais tarde que o habitual. Olhei para a cama do Jovem Príncipe, mas ele não estava lá. Ao levantar as cortinas, avistei-o sozinho à beira do lago, tranquilo como suas aguas. Os restos de uma neblina estavam sendo derretidos pelos primeiros raios de sol, como algodão doce se desfazendo na boca de uma criança. Toda a paisagem irradiava uma enorme sensação de paz.

Meu jovem amigo e eu tomamos café da manhã e nos preparamos para reiniciar a viagem. Ao sairmos, notamos que o carro da família barulhenta não estava mais lá.

Durante quinze minutos, percorremos uma estrada poeirenta, sombreada por araucárias, abetos e pinheiros. Ao chegarmos no final do bosque, o Jovem Príncipe exclamou de repente:

- Pare, por favor!

- Que foi?

- Por favor, pare o carro! - repetiu ele, com evidente aflição.

Assim que o fiz, ele desceu do carro e penetrou cerca de vinte metros no bosque, sem dizer nada. " Ah, então é isso", pensei, dando um suspiro de alivio, surpreso com o fato de que necessidades fisiológicas assaltassem meu amigo de forma tão súbita.

Com amargura, entretanto, descobri que não fora isso o que desencadeara sua reação. Ele agora retornava ao carro com Asas nos braços. E ao contrário do primeiro dia, quando carregara o cãozinho com uma fagulha nos olhos, seu rosto demonstrava dor e desapontamento.

Eu não podia entender como alguém podia ter abandonado no bosque uma criatura tão meiga.

Ganindo, tremendo e cheio de medo, Asas lambia desesperadamente as mãos e o rosto do meu jovem amigo. Sua alegria por nos ver era óbvia.

- Não podem ter sido os meninos - sugeri, tentando descobrir os sentimentos do meu amigo diante de um comportamento tão cruel. - Eu não entendo por que eles não deixaram Asas na pousada para ser devolvido a nós. Algumas palavras de agradecimento ou desculpa bastariam para nos satisfazer- disse eu, enquanto o Jovem Príncipe permanecia em silêncio.

Tantas emoções haviam esgotado as energias do filhote; assim que partimos novamente, ele adormeceu no colo de meu amigo, que continuou a afaga-lo por muito tempo.

Uma vez mais, a estrava deixou o vale e ingressou em uma área inóspita, cuja imensidão desolada era um convite à introspecção.

Nós não ousávamos quebrar o silêncio, como se nenhuma palavra fosse adequada à ocasião. Finalmente, falei:

- Vamos agradecer por Asas estar vivo. Vamos agradecer e seguir em frente.

O Jovem Príncipe permaneceu em silêncio, como se não tivesse me escutado. Seu olhar era melancólico e sombrio. Após um longo tempo, ele disse:

- Eu também abandonei uma flor e não consigo me perdoar por ter deixado que ela murchasse. Também me sinto culpado por ter duvidado das boas intenções do meu amigo. Eu culpo a erva daninha por isso, pelo menos em partes.

Então entendi o que estava acorrentando o Jovem Príncipe ao passado e tirando o brilho de seu sorriso.

- Essa é a dificuldade que impede você de seguir em frente - disse eu, totalmente convencido de meu diagnostico. - Escute, vou lhe contar o segredo da felicidade.

- Você sabe o segredo? - Perguntou o Jovem Príncipe, arregalando os olhos, incapaz de acreditar que a respostar que a humanidade procurava havia séculos iria ser revelada a ele ali, naquele momento.

- Bem, acho que sei - disse eu , percebendo que seria mais útil parecer seguro do que fingir modéstia. - Embora eu não tenha desenrolado antigos manuscritos nem entrado no aposento proibido de alguma pirâmide distante, estou convencido de que esta verdade, como todas as grandes verdades, é simples e evidente.

O Retorno Do Jovem PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora