Céu Sem Estrelas

Invasor

Meus pés tocam o chão no exato momento em que um grito empolgado ecoa pelo ar.

As conversas ficaram mais altas depois que mais alguns jovens se juntaram e, desde então, tem sido ainda mais impossível dormir.

Uma semana se passou. Já faz exatamente sete dias que não consigo mais fechar os olhos à noite. Olho para o corpo adormecido de Adie deitada na cama de cima da beliche pela última vez e depois me dirijo à janela.

O Acampamento Elite acontece normalmente no início do mês de agosto, antes das aulas começarem em setembro. Ele funciona como uma colônia de férias para os jovens que não têm planos mais interessantes para o verão, e são divididos em dois grupos:

Grupo "A" e grupo "B"

No Ensino Médio, cada ano tem uma denominação. Quem está no primeiro ano no colégio é chamado de "Freshman"
No segundo "Sophomores"
No terceiro "Juniors"
E por fim, no quarto e último ano "Seniors"

Enquanto o pessoal do grupo B, formado pelos alunos do terceiro e quarto ano, tinham permissão para ficar um pouco mais tarde fora. O grupo A, que era formado pelo primeiro e segundo ano, eram obrigados a entrar em suas acomodações antes das onze e meia da noite.

Observo os alunos mais velhos se divertirem enquanto meu coração bom e puro se enche de ódio e raiva.

Mesmo estando no meio da natureza e cheios de ar livre, o acampamento ocorre dentro de uma propriedade gigante e cada quarto tem um total de dez camas de solteiro ou beliches. Embora cada um pudesse escolher onde ficar, era proibido meninos e meninas no mesmo alojamento.

Eu e Adie decidimos ficar no último quarto por estar perto do refeitório e também por ter uma vista privilegiada do lago. Essa teria sido uma ótima escolha se não fossem os Juniors e Seniors, que se reuniam ali todas as noites.

A música abafada pela curta distância me incomoda. As risadas e conversas se misturam e tornam tudo um verdadeiro circo de horror.

Olho para trás e, por cima do meu ombro, tento captar qualquer tipo de movimento. Meus olhos passam por cada cama e chego a pensar na possibilidade de a Medusa ter passado por aqui e transformado todas em pedra, já que nenhuma menina acordou com o barulho.
Volto minha atenção para fora, e desta vez, é um garoto qualquer que chama minha atenção. Ele corre em direção a um grupo de amigos e em poucos segundos todos viram suas cabeças em direção ao refeitório, me obrigando a olhar também.

Olho curiosa e desconfiada para a grande porta de madeira.

Em algum momento, as correntes grossas escorregam da fechadura e caem no chão coberto de terra.
A porta dupla do refeitório se abre de uma vez e uma figura masculina é revelada.

Cerro os olhos.

A maioria dos adolescentes se aproximam dele rapidamente, outros entram direto no refeitório e o restante apenas observam tudo, muito surpresos.

Um pequeno círculo se forma ao redor dele. O garoto parecia um maldito príncipe prestes a ser coroado rei.

O centro das atenções.

Mesmo que o espaço entre nós seja pequeno, a pouca luz da noite não me permite ver claramente e, consequentemente, meus olhos só conseguem visualizar seu boné azul; que também desaparece quando ele se afasta da porta e adentra ainda mais para dentro do refeitório.