De volta ao Wollongong

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— Não posso acreditar que ele esteja aqui outra vez

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— Não posso acreditar que ele esteja aqui outra vez.

— Você não acredita? — Indago sardônica — Eu quem sou incapaz de acreditar nisso. Isso só pode ser um pesadelo.

A ideia de poder esbarrar com Jaden em qualquer lugar de Wollongong me apavora.

— Você tem certeza que era ele? — Adie questiona pela décima quinta vez e eu tenho vontade de morrer. — Não, sério. Isso é loucura. Faz anos desde o acampamento, como você o reconheceria tão rapidamente?

— Os olhos verdes.

— Quase 2% da população mundial tem olhos verdes, Fiore. Mesmo que seja uma quantidade mínima, não quer dizer que qualquer pessoa que tenha olhos claros seja ele.

— Você não entende. — O excesso de ansiedade faz com que eu fique emocionalmente cansada, como se eu tivesse trabalhado em um serviço pesado o dia todo. E, querendo ou não, acho que viver dentro da minha cabeça pode sim ser considerado um serviço pesado. Eu penso demais. — Não é qualquer verde, mas os verdes dele. É irrepreensível. É superior aos demais e inigualável. Jaden esta aqui em Wollongong. Era ele. Eu sei.

Curvo meu corpo para frente apoiando meus cotovelos em minhas pernas. Meus dedos se afundam em meus fios castanhos.

Há um momento de silêncio.

— Cientistas afirmam que existe realmente a possibilidade de pessoas praticamente iguais a nós existirem em algum lugar do planeta sem qualquer parentesco conosco. — A voz de Adie soa robótica e eu automaticamente sou obrigada a fita-la.

Seus olhos estão pregados na tela de seu celular.

— O quê?

— Isso quer dizer que as chances de você ter visto apenas o sósia dele ontem são muitas. — Ela ergue o celular — Isso não sou eu quem está dizendo e sim o Google.

Ela me encara com um sorriso brilhante como se tivesse acabado de descobrir alguma cura de qualquer doença grave. Eu suspiro porque a garota só podia estar de gozação com a minha cara, mas no fundo, bem no fundo, algo parecido com esperanças se acendeu em meu peito. Por favor, que seja um Sósia.

E mesmo que seja ele, essa situação não é um bicho de sete cabeças. — Alega — Única coisa que ele pode ter de assustador é um pau flácido com vinte e quatro centímetros e trinta e quatro centímetros de comprimento quando ereto.

— Mas que porra! — Cuspo indignada. — Você com certeza ainda não está sóbria o suficiente.

A garota joga sua cabeça para trás no mesmo momento em que gargalha.

— Isso não é engraçado.

— Você não achou engraçado porque você é uma tediosa. — Rosna. — Tá, vamos supor que seja mesmo ele.

— Mas é ele.

— Vamos su-por. — Ela rebate. — Vocês eram crianças e crianças comentem erros e fazem besteiras. É assim que a vida funciona. Se eu ficasse martelando tudo de ruim que pratiquei durante toda a minha infância, meu amor, eu me jogava do precipício!

A garota se levanta do sofá após chegar uma notificação em seu celular e logo some da minha visão quando se retira da sala.
Viemos para o meu apartamento ontem a noite. A garota acabou dormindo dentro do carro e foi uma droga tentar acorda-lá para sair fora do banco de carona do táxi.

— Talvez me jogar de um precipício seja uma ótima opção para mim.

— Você só estava doentemente apaixonada. — Apareceu parcialmente na porta, abafando um risinho para em seguida sumir novamente. — Você não foi a primeira pessoa a fazer de tudo para chamar a atenção de um garoto e não vai ser a última a cometer loucuras de amor. Isso é normal quando se é jovem demais.

Adie retorna alguns minutos depois usando algumas peças de roupas minhas.
Seu rosto ganhou uma aparência artificial pelo excesso do pó de arroz. Isso a fez parecer um fantasma, um fantasma de uma alma com o rosto humano.

Gesticulo para que ela remova a quantidade.

— Vai ir para casa? — Pergunto, observando sua agitação. Me deito no sofá, colocando minhas pernas para o alto.

— Não, vou sair.

— E posso saber com quem? — O rosto da loira cintilou com um sorriso infantil. — Tudo bem. — Balbuciei, não obtendo respostas.

— Preciso ir.

Abro os olhos e olho em sua direção quando noto que ela movimentou a cabeça para olhar para mim também.

— No mundo real, há uma consequência para cada decisão tomada. Para cada escolha feita. Não existe um mundo perfeito em que a vida se desenrole de forma organizada e ideal. A vida é a porra de uma bagunça, Fiore, e muitas vezes bem difícil. Ela não espera a gente estar pronto para os solavancos da estrada. É preciso segurar firme o volante e voltar para a pista. — Ela pausa para respirar — Se não for Jaden, que ótimo! Mas se for, acho que você precisa resolver alguma questão pessoal que evidentemente não foi resolvida.

Eu a olho, processando suas palavras. Talvez ela tenha razão. Talvez seja a hora de confrontar o passado e deixar ir.

Me levanto do sofá e me aproximo dela.

— Eu realmente preciso resolver algumas questões pessoais. Não posso fugir para sempre.

Ela me abraça.

Sinto uma nova determinação surgir dentro de mim. Era hora de encarar os traumas e seguir em frente, seja Jaden ou não.



 Era hora de encarar os traumas e seguir em frente, seja Jaden ou não

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