Céu Sem Estrelas

Segredo

Á medida que avançava, pude deparar-me com um riacho próximo, cujo água cristalina convidava a um refrescante banho.

O caminho era repleto de subidas íngremes, obstáculos naturais e uma paisagem deslumbrante ao redor.
Enquanto o seguia mantendo a distância necessária para não ser pega, me deparava com arbustos densos que pareciam querer me impedir de avançar, mas eu persistia.

Ao longo do trajeto, avistei borboletas voando graciosamente, colorindo o ar com sua beleza única. Em certo ponto, me deparei com um tapete de flores de tulipas, que contrastava com o verde da vegetação ao redor, criando um cenário surreal.
As pedras no caminho dificultavam ainda mais a jornada, fazendo com que meu corpo suasse intensamente e minhas axilas ficassem molhadas. Cada passo era um desafio, e meus pés clamavam por descanso, mas eu estava determinada a descobrir seu esconderijo.

A cada curva, uma nova surpresa me aguardava, revelando a grandiosidade da natureza.
A sensação era angustiante ao saber que em breve descobriria para onde Jaden iria durante algumas horas do dia, quando sua ausência me fazia falta.
Observo seus cabelos presos enquanto tento apreciar a vista recém-descoberta. Essa área do acampamento não era autorizada, mas ele não parecia se importar.

Enquanto o observava de longe, pude ver um sorriso no seu rosto, como se estivesse planejando alguma travessura. Era impossível não me contagiar com a sua energia e audácia.

Ele caminhava com determinação, como se soubesse exatamente para onde estava indo. Curiosa, continuei a segui-lo, entrando em áreas cada vez mais proibidas do acampamento.
Finalmente, ele parou em frente a um estábulo isolado. Olhou ao redor, certificando-se de que ninguém o observava, antes de entrar rapidamente. Meu coração acelerou, imaginando o que ele estaria aprontando ali dentro. Decidi me aproximar sorrateiramente, ansiosa para descobrir o seu segredo.

Esperei um tempo para ter certeza de que ele iria demorar um pouco mais e me aproximei devagar. Coloquei meus olhos em uma fresta entre as madeiras para poder enxergar dentro do lugar. O estábulo em questão parecia abandonado, sem cavalos ou gado. No canto esquerdo, havia um pequeno monte de feno seco com um garfo para capim ao lado, nada de interessante. Movimentei-me um pouco mais, contornando o estábulo em busca do garoto. Quando encontrei outra pequena abertura, apertei os olhos para espiar de outro ângulo, e foi nesse momento que o avistei.

Jaden estava com as costas apoiadas na coluna de madeira que sustentava toda a cabana. Seus lábios seguravam um cigarro e, em seguida, a fumaça era soprada lentamente em direção ao rosto da garota.
De onde ele teria tirado aquilo!? Lembro-me claramente dos avisos alarmantes que proibiam esses tipos de substâncias dentro de toda a área do acampamento.

Os olhares trocados partilhavam o mesmo segredo.

Era íntimo.

Sinto minha garganta apertar diante da cena, meus punhos se fecham ao lado do meu corpo, mas não desvio o olhar. Não consigo.
Há alguns dias, foi ela quem teve a audácia de beijá-lo na frente de todos depois do grande jogo, mas hoje, quem tomou a iniciativa foi ele.
Ainda com o cigarro entre os dedos, seu corpo avançou em direção ao dela e rapidamente as posições foram trocadas. Agora, as costas dela recebem o apoio da coluna enquanto sua boca é esmagada pela de Jaden.

A dor é tão dilacerante que me destrói por dentro, mas não permito que as lágrimas molhem meus olhos, pois uma raiva nunca antes sentida toma conta do meu coração, fazendo-me engasgar com tanto sentimento. A raiva é cortante e é usada como aspirina. O ódio é como um analgésico forte.

Não sei como é a sensação de ser beijada daquela forma e muito menos sei como é sentir os lábios dele nos meus, mas enquanto assisto ambos se deliciarem um com o outro, posso ter a certeza de que ela está recebendo o melhor beijo de língua de sua vida.
Meu coração bate forte, minha respiração se acelera e sinto que nada pode piorar, no entanto, caio na real do quão enganada estou quando, lentamente, a mão desocupada pelo cigarro agarra o seio dela.

Arfo. 

Num piscar de olhos, minha mente volta ao dia ensolarado em que eu e Adie aproveitávamos o lago.

" — Eles beijam de língua ao mesmo tempo em que gostam de apertar nossos peitos, Fiore. "

Minha amiga já havia me alertado sobre os interesses dos rapazes mais velhos. Sinto falta de ar, pois só hoje consigo ter certeza de que o loiro é sim, como os demais.

Giro o calcanhar e corro para longe, refazendo todo o caminho de volta para o acampamento. Passo pelos arbustos, tulipas, borboletas e, quando estou próxima o suficiente do riacho, sinto meu pé deslizar em uma grande quantidade de lama no chão, fazendo-me cair pateticamente no barro.

" — Eu nunca deixaria alguém apertar meus peitos, Adie."

Levanto-me sem me importar no quão nojenta estou coberta de lodo, em razão de que, a parte que mais me causa insatisfação perante a toda essa situação que me cerca, é que agora, o Jogo do Cupido não se tratava apenas em fazê-lo se apaixonar completamente por mim, mas sim, de algo muito mais proibido.

Quero Jaden O'Donell me desejando tanto quando ele a desejava.