Ao chegar na OID, tento atravessar a recepção despercebida pela Aline e ir para minha sala.
Quando penso que consegui, ouço a temida voz:
— Aloha!
— Oi, Aline... – Dou passos para trás em desistência e respondo com um sorriso amarelo no rosto.
— Você ficou de lavar os cavalos, esqueceu?
Esquecer, eu não esqueci, mas torci para que ela tenha.
Faço que não com a cabeça e ela continua.
— Amanhã sem falta, okay? – Ela diz séria e eu apenas aceno com a cabeça. – Dispensada.
Por mais incrível que pareça, essa mulher, com seus 1,50 de altura, me intimida. Antes que ela diga outra coisa, corro pra minha sala.
Da última vez que eu estive nessa sala, passei o dia remoendo e pensando no que fazer. Dessa vez, eu já vim sabendo.
A única maneira que tem de acabar com a emancipação dos desencantados é tirando o mal pela raiz, convencendo o Leonardo. Todos os outros lambem a sola do sapato dele e seguirão o que ele mandar.
Tenho 03 dias, vou ter que apelar.
Ouço batidas na porta e me sento na minha cadeira.
– Pode entrar.
É o Augusto.
— Oi, eu vim pegar a chave do meu estábulo. – ele diz tímido.
— Minha nossa, Augusto. Me desculpa, quando eu voltei naquele dia, você não estava mais aqui. E depois eu não te encontrei mais... – me desculpo ao lembrar que após uma semana ainda estou com a chave do meu ex.
Se eu fosse ele, já tinha quebrado minha porta procurando essa chave.
No entanto, admito que não sou considerada a pessoa mais sensata da ilha.— Não tem problema. Haha. – Ele diz rindo do meu desespero. – Eu moro aqui na cidade desencantada, o cavalo não fez falta.
— Senta aí. – sugiro enquanto abro minha gaveta e procuro pela chave. – Você têm visto o resto do pessoal?
Pergunto me referindo ao nosso antigo grupo antimonarquia do ensino médio.
— Não todos, na verdade, mas eu sou casado com a Bia. – Ele diz levantando a mão para que eu me possa ver a aliança.
— Wow. – me surpreendo, mas quanto mais eu penso nisso, mais faz sentido, já que eu sempre suspeitei que ela tinha uma queda por ele.
Sabia! Nem sempre é paranoia de namorada.
A satisfação por ter acertado é maior que qualquer resquício de ciúme que possa ter sobrado de um antigo relacionamento.
Até porque eu terminei com ele antes de entrar no exército da guerra, isso faz 5 anos. Fora que depois disso, eu também me relacionei com outra pessoa.
— Ah, e o Pedro é meu vizinho de bairro. – Ele diz normalmente e então sussura. – E a Eva casou com um monarquista.
Traidora!
E olha que ela era a fundadora do nosso grupo, tal grupo que inclusive foi responsável por formar mais da metade do meu caráter de hoje.
Eu lembro bem do dia que Eva me chamou no intervalo entre aulas para participar de uma reunião entre eles. Eu fui apenas por curiosidade, mas acabei passando os próximos 2 anos íntima deles.
O que nos uniu foi o fato de não concordarmos com o modo de governo, que persiste até hoje, mas o que fez com que continuássemos juntos foi a amizade e laços que fizemos no caminho.
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Desencantados
Fantasy"Em uma ilha distante de quaisquer outra, a terra é dividida em duas parte: encantados, os bonzinhos, e vilões, em que sua definição é feita pelo próprio nome. Uma barreira divide as duas classes, mas por um segundo de descuido: um vilão passa po...