prólogo,

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Samantha andava pela cidade com o olhar baixo. Havia acabado de perder o emprego, sua melhor amiga e namorado. Tudo isso de uma só vez. Já não bastava toda a vida ser repleta de merda, como ela descreve, tudo resolve sempre acontecer de uma vez, como uma bomba atômica.

Segurava as lágrimas o quanto podia, uma ou outra caiam, mas logo se recompunha e voltava a andar de cabeça erguida. Era muito orgulhosa para pedir ajuda, e muito fraca para continuar a segurar tudo isso sozinha.

Algumas pessoas passavam por ela, pareciam a julgar, ou ter pena. Isso apenas a irritada e magoava mais ainda. Odiava esse tipo de atenção, ainda mais vindo dali. Era óbvio que os olhares eram apenas por ela ser uma brasileira chorando no meio da rua de Tóquio. Sabia disso depois de ver os olhares de nojo de dois senhores em um bar.

- Que merda...

Murmurava baixinho, esperando que ninguém a ouvisse. Prezava muito por uma boa imagem, mais do que uma boa saúde. Sabia que era prejudicial, mas não conseguia mais evitar tais pensamentos sobre a vida. Não, ela nunca teria coragem de tirar a própria vida, não adiantaria de nada, ela já estava morta, morta por dentro, a muito tempo.

As ruas de Tóquio estavam cheias. Turistas, vendedores, moradores. Todos juntos em um lugar só. Ela precisava sair daquela multidão o mais rápido possível. A respiração ofegante e os passos apressados a fizeram esbarrar em algumas pessoas antes de entrar em uma rua mais calma, onde não haviam tantas lojas. Correu alguns metros antes de parar e se apoiar nos joelhos, respirando fundo e se acalmando mentalmente.

Não sabia exatamente o que fazer dali em diante. Se ia para casa ou sentava em um local público, uma praça ou algo assim, até que sua mente clareasse. A segunda opção era a mais aconselhável, estava prestes a fazer isso se não tivesse lembrado de outros afazeres que havia prometido fazer.

Quando ouviu um miado abafado, vindo do outro lado da rua, ela rapidamente olhou para o local. Um homem estava abrindo a porta, o que fez com que o som saísse, para tirar o lixo para fora. Ela ficou observando o local, até que ele entrasse, e só então leu a placa.

- Ah, um pet shop... - sussurrou.

Estava parada no meio da calçada, só percebeu que deveria pensar no que fazer quando esbarraram em seu ombro. Observou novamente a vitrine e atravessou a rua. Ao observar a vitrine, com brinquedos para gatos, viu ao fundo o mesmo homem brincando com um gato preto e branco, ele virou o rosto para a vitrine quando viu que havia alguém o observando, mas ela já havia se escondido na parede ao lado.

- Eu nem tenho um animal - lembrou a si mesma, antes de se virar e começar seu caminho para casa novamente, com as mãos no bolso e todos os pensamentos ruins voltando a tona. Sem descanso, sem pausa, rápido, mais rápido.

Quando percebeu, estava em frente ao seu prédio. Apertando os lábios, acenou para o porteiro e entrou no elevador, apertando o número 4.

Parece óbvio, ela escolheu esse andar pois sabia que não teria nenhum vizinho. Japoneses são supersticiosos e burros. Dizia a si mesmo, 3 anos atrás, antes de perceber que toda aquela solidão fez com que a profecia do número 4 apenas se tornasse realidade. Samantha não é supersticiosa e é burra.

O apartamento era silencioso. Tudo era silencioso. Nem mesmo a televisão conseguia fazer com que ela se distraísse.

Passando a mão por todo o rosto, Samantha se apressou a ir até seu quarto, colocando um moletom e trocando a calça apertada por um calção masculino, que era de seu namorado... Ex namorado. Fechou os olhos e respirou fundo novamente, indo até o banheiro e passando maquiagem básica, arrumando o cabelo, deixando levemente bagunçado, e se sentando em frente ao seu pc.

Com os headsets e a luz brilhando em sua face, Samantha começava a meditar mentalmente, fazendo tudo que podia para que ficasse bem em 5 minutos.

5

Estava tudo pronto, agora poderia relaxar aos poucos.

- Babaca - riu, era um riso meramente falso. Estava enganando a si mesma - Babacas - gargalhou - fala sério, como vocês podem ter feito isso - sua voz se perdeu, ela gaguejou - meu namorado... - riu fraco, olhando para cima - e minha melhor amiga. - bufou, tentando se recompor.

Deu um tapa na própria bochecha, uma mania nada saudável, digamos assim.

4

Lembrou de ligar seu celular. Nem soube como pode esquecer isso, todos diziam que ela deveria parar de ser uma viciada e focar na vida real. Bem, ela fez isso hoje e não pareceu nada muito agradável.

- 34 chamadas perdidas...? - conversava com si mesma. Era de seu colega - Mitsuya...

O garoto sempre dizia ser seu amigo, mas ela nunca se deixava levar, ainda mais com seu namorado... Ex, dizendo para se afastar, todos os dias.

"Vou começar aqui, podemos falar depois?"

Foi a mensagem que ela mandou, respondendo as outras 20 do homem. Ele nem esperou para responder que estava preocupado com seu sumiço.

"Claro, te ligo quando acabar"

Sorriu levemente. Então ela sempre teve alguém que realmente se importava, e nunca percebeu?

3

Naquele momento, ela apenas observava tudo que se passava em sua tela. Aquele era o único momento em que a paz vinha, e ela poderia se distanciar de tudo ao seu redor. Sem se preocupar com o que tinha acontecido e com o que aconteceria. Isso tudo pelas próximas 6 horas.

Eram as melhores 6 horas dos 5 dias semanais que isso acontecia. Seu lembrete diário, era que nunca pararia. Mesmo com todos os problemas, com todas as dificuldades e com todos os pensamentos bárbaros de sua cabeça, aquilo sempre ia salva-la.

E bem, por conta do emprego perdido, já estava se preparando para fazer o dobro ali.

2

Em poucos segundo, ela se lembrou do vendedor que havia visto a pouco.

Não pode o olhar por muito tempo, já que sua timidez atingiu todo o corpo na hora, mas ele era realmente... Realmente lindo. Seu olhar saiu da tela, ela olhava para o teto, tentando lembrar de todos os detalhes.

Cabelo preto, liso, grande. Ele usava um coque e o uniforme da loja era extremamente fofo para um homem tão sexy. Não podia deixar de lembrar das tatuagens old school em seu braço direito, que usava para acariciar o gatinho em sua frente.

Não foi por muito tempo, mas quando ele a olhou, e ela fugiu, pode ver seus olhos cativantes.

Tudo tão superficial... E tão chamativo. Como se ela precisasse ir lá de novo.

Por poucos segundos, ela esqueceu de todos que a fizeram tão mal nos últimos dias.

1

Alongou os braços, o pescoço e a postura. Abriu seu melhor sorriso e suspirou, vendo uma mensagem de Mitsuya em seguida.

"Não precisa fazer nada hoje, você parecia cansa..."

E ligou sua câmera

- E ai chat? Tudo certo? - disse em alto e bom som - hoje tô pontual, hein? O que vamos fazer? Tenho alguns jogos pra gente, o reddit tá cheio também...

1.209 palavras

04/08/2021

Confesso que ainda estou insegura em postar essa história kakaka, espero que gostem <3

A Rua dos Corações Solitários, Baji KeisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora