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[TUDO TEM UM COMEÇO...]

Abrindo a porta de seu apartamento, ainda estava escuro no lado de fora. Samantha estava acostumada a acordar cedo, 6 horas da manhã. As suas aulas começavam ás oito, mas como não sabia cozinhar, aproveitava para ser a primeira cliente da padaria ao lado.

Coçando a nuca, ela apertou o botão para o térreo e logo se dirigiu para fora. Suas olheiras estavam piores do que antes, a live do dia anterior durou mais do que o planejado e isso fez com que ela dormisse menos do que o acostumado.

— Bom dia — o porteiro do turno matutino a cumprimentou acenando, ela fez o mesmo em seguida.

Samantha se mudou para o Japão apenas pela faculdade, inicialmente, mas acabou conseguindo sua cidadania depois de dois anos trabalhando fielmente para a empresa, que a demitiu por boatos falsos entre funcionários no dia anterior.

Quando saiu da empresa, com uma caixa na mão e uma hora antes do expediente acabar, ela correu para a casa de seu namorado, estava chorando tanto que nem conseguia ver a rua direito. Ao chegar no local, ele estava trepando com quem se dizia sua melhor amiga. Ela não fez nada além de derrubar todas as suas coisas no chão, assustando os dois no sofá, e se virar para ir embora. 

Nenhum tentou a impedir.

— Obrigada — agradeceu pelo café recém chegado enquanto olhava para a janela. Estava tudo clareando lentamente, carros passando na rua e poucas pessoas andando para trabalharem e estudarem.

Bebia o café lentamente, com os olhos fechados. A faculdade de administração estava cada vez mais tomando seu tempo, mesmo cansada ela continuava fazendo horas de live, era seu ganha pão, afinal. Sem um emprego fixo agora, ela teria que se esforçar ainda mais. Trabalhava com isso desde que tinha 18 anos, no Brasil, e agora, com 22 anos, no Japão. Por isso, ninguém a conhecia por ali.

As aulas começaram pontualmente. Fez o melhor para ignorar o mais novo casal da classe, parecia até mesmo que tinha voltando para o ensino médio com esse turbilhão de sentimentos sobre isso. 

— Samantha? — uma pasta foi jogada em sua mesa — Preciso que faça isso pra mim — uma garota completamente desconhecida disse de forma autoritária

— E quem é você? — afastou a pasta, olhando nos olhos dela.

— Não importa, me disseram que você faz isso pra todos. Não tenho tempo pra esse trabalho.

A mulher a olhou por alguns segundos, tentando entender o que estava acontecendo, negando com a cabeça e soltando um riso em seguida — Simples,  tranque o curso — levantou-se e bateu a pasta no peito da garota em sua frente — você tem o que? 18 anos? Isso aqui não é sua escola mais, se toca

Quando tentou sair, sentiu uma mão segurar seu pulso e a virar rapidamente. Achou que seria a garota, e estava prestes a gritar, mas travou ao ver a cara de Nanaki, seu ex. 

— Pega isso porra — jogou a pasta nela — e olha como fala com a minha irmã — se virou, passando o braço pelos ombros da garota, que tinha o sorriso estampado no rosto, e saindo da sala. Demorou alguns segundos para que Samantha percebesse: ela nem sabia que ele tinha uma irmã.

Se sentia uma escrava toda vez que olhava para aquela pasta tão grande, parecia que ela havia acumulado trabalhos apenas para entregar para ela. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente quando começou a pesquisa no local.

Ela poderia simplesmente ignorar todos aqueles trabalhos, no final, não seria ela quem teria problemas com os professores. O que a impedia de fazer isso? Nada. Tudo.

Ela realmente merecia uma vida medíocre assim?

Percebeu quando Mitsuya passou pela porta, tentando conversar com ela, mas apenas levantou uma mão, fazendo com que ele recuasse e voltasse para sua sala.

A Rua dos Corações Solitários, Baji KeisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora