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"Desculpe, mandei errado"

Como esperado, ela não conseguiu marcar consulta alguma. Desperdiçou a chance que havia ganho por culpa da queda do próprio celular, e se jogou no sofá.

Naquele momento, ganhando novamente mais ansiedade que as horas anteriores com Mitsuya, ela começava a pensar sobre o que ele havia dito sobre ter um diploma que odiaria para o resto da vida. 

Ela não odiava, de fato, administração, mas odiava tudo que aquilo causou em sua vida. A vinda ao Japão não foi de todo mal, mas as pessoas que encontrou, o que causou com a vida social inteira e saúde mental dela... Ah, é isso que ela mais odeia. Odiava o trabalho que tinha no escritório, assim como odiava ir para as aulas. Era por isso que seus momentos de alegria eram as streams.

Não pensou, em momento nenhum, sobre ligar seu monitor e abrir uma live. Seria mais um caos para sua mente, e não estava pronta para aquilo.

— Que horas são — murmurou, vendo o relógio marcar oito horas da noite. Deve ter ficado alguns minutos sentada no sofá, olhando para os ponteiros de segundos enquanto pensava seriamente no que fazer, todos os prós e contras.

Quando se deu conta, ela estava trancando a porta e olhando para a capinha do celular, onde havia algumas notas de dinheiro caso precisasse, antes de coloca-lo no moletom e seguir caminho para o elevador.

Nos poucos segundos dentro do cubículo, repassou o plano em sua mente.

1. ir até o centro e se sentar em um dos bancos da praça

2. sair e andar pelas ruas, para observar o movimento

3. ir ao neko café 24h que Takashi havia dito algumas milhares de vezes quando ela ainda o ignorava

— Beleza — sussurrou e andou para a portaria, vendo o homem a olhar confuso

— Saindo a essa hora, senhorita Samantha? — perguntou dando um leve sorriso, ele nunca havia visto ela sair a essa hora. As únicas vezes que encontrou ela a noite, foi para pedir que ela não gritasse tanto enquanto jogava jogos de terror em seu quarto. Mas isso acabou quando ela instalou 

— Pois é — disse breve e sorriu para ele enquanto se distanciava.

 Demoraram exatos 17 minutos para que ela chegasse na praça e se sentasse, vendo alguns turistas andando pelo local, falando um idioma que ela não se deu o trabalho de tentar descobrir.

Alguma música pop tocava em seu fone de ouvido enquanto tentava esquecer de tudo que estava acontecendo em sua vida, focando no presente. Era o que sua mãe dizia quando mais nova, "muda de canal" "foca no presente", tudo isso porque sua ansiedade veio desde muito nova. 

Ela sempre soube dos riscos em trabalhar na internet, por isso tentava, ao máximo, deixar que sua imagem ficasse limpa e tranquila. Mas nunca deu certo.

No momento, quase se perdeu nos pensamentos novamente, quase teve um colapso, mas se levantou a tempo e começou a caminhada para que conseguisse se acalmar enquanto isso. 

— Boa noite — um senhor que estava sentado na frente de uma lojinha a cumprimentou — tome cuidado com a rua 

— Obrigada — sussurrou, perguntando-se se ele teria a ouvido agradecer enquanto continuava o caminho até que estivesse em algum local mais movimentado.

Quanto mais se aproximava das luzes coloridas e cintilantes, mais barulho ela ouvia, e mais seus pensamentos se aquietavam. 

Parou por um momento para observar alguns garotos dançando no meio da calçada, e uma senhora tocando saxofone, mas ninguém estava a ouvindo. Ficou triste, mas ela também não ficou.

A Rua dos Corações Solitários, Baji KeisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora