Capítulo 19: Maltael

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    Meus pais eram boas pessoas além de carinhosos, ambos cuidavam de mim e de Francis com muito amor. Foi assim que recebi uma educação maravilhosa tanto em casa quanto nos estudos, eu já planejava me graduar para poder cuidar dos negócios da família. Minha vida estava quase perfeita, até eu começar a gostar de uma mulher.
    Na época que a conheci, seus cabelos eram castanhos ondulados de olhos verdes, ela andava muito bem vestida, as vezes com roupas tão apertadas que deixavam as silhuetas de seu corpo mais à vistas. Seus vestidos eram tão bonitos, um mais que o outro, a cada dia que ela estava naquela loja de roupas na qual eu conheci no dia em que precisava de um terno, depois desse dia que conversamos pela primeira vez, eu sempre dizia para ela precisar de um, mesmo meu guarda-roupa tendo de todas as cores.
    Pouco tempo depois de conversa percebi que ela gostava de mim também. Mas apenas um ano depois, ela me disse chorando que tinha envelhecimento rápido e que não poderíamos namorar. São coisas naturais no nosso mundo, algumas sociedades tem esse tipo de "doença" que atingia apenas mulheres. Mas meu amor era mais forte, eu não podia me deixar levar apenas pelos encantos dela.
    Seu nome era Antonella, combinava com ela e sua gentileza. Constante o tempo passava a empresa de seu pai havia falido, mesmo o meu pai ofereceu ajudá-lo por serem grandes amigos e eu descoberto que ele havia abandonado a própria filha sem dinheiro algum. Mas já era tarde, Antonella sofria pelas agressões do pai desde a infância e sempre foi de usar maquiagem e feitiços para cobrir suas rugas que começavam a surgir e seu corpo que já mudava também.

    Convidei ela para morar conosco e meus pais não gostaram muito da idéia ainda no início, mas insisti para eles mesmo que nosso relacionamento havia mudado drásticamente. Ela andava irritada todos os dias, cada dia mais perdia sua beleza e aquela aura encantadora que uma vez existia, sumiu também. Eu a tratava mais como uma amiga e meu sentimento por ela também sumiu. Anos depois, tanto eu quanto minha família a tratávamos como uma avó. Não era por mal, mas é seu estado de saúde realmente andava precário.

    Naquela noite estávamos todos começando a orar para jantar, menos Francis que chegara tarde do jogo de futebol do bairro e Antonella que parecia terminar de se vestir não apareceram na mesa. Com a comida servida, meus pais ainda sorriam e agradeciam apesar das condições que a vida estava indo.

    Ouvimos um barulho muito alto de vidro se quebrando. Meu pai já começava a planejar as palavras para brigar com Francis por tacar a bola na janela, quando vimos que se tratava de uma pedra com uma mensagem escrita:

            'Se preparem para morrer'

      Aquilo assustou todos nós, principalmente minha mãe que começava a chorar. Abracei ela torcendo para que ficássemos bem começando a me arrepender de ter conhecido Antonella e ainda ter me apaixonado por aquele monstro que entrou no cômodo onde estávamos atacando meus pais. Minha mãe quase conseguiu fugir comigo, mas foi acertada pela magia de Antonella. Ela disse:

- Maltael, meu filho... Proteja seu irmão... Fuja! -Minha mãe começava a sangrar e eu apenas chorava em desespero que se transformou em preocupação quando notei Francis entrando pelo portão. Corri em sua direção para avisá-lo parar escapar também. Um garotinho tão jovem que carregava sua bola, apenas a largou e assustado apenas correu em direção da floresta. Eu não consegui, Antonella travou o portão logo que me aproximei dele.

"Sobreviva Francis"

    E depois disso, tenho apenas fragmentos de memórias das coisas que fiz quando virei um boneco dela. Eu não queria ter feito nada daquilo, mas não podia controlar, apenas observar o mundo sendo destruído por mim.

"Teria sido melhor morrer"

    Mesmo perante a tantas coisas, meu irmão conseguiu viver bastante e a pessoa que ele amava estava prestes a morrer também. Decidi salvar ela, uma forma de pedir perdão para Francis por ter machucado muitas pessoas, inclusive Ellie. Não era só no interesse, eu senti que precisava fazer isso por ele não pude antes.

    Ellie era um pouco pesada, mas os músculos que criei fazendo exercícios quando jovem pareciam intactos, o que me deixou carregá-la facilmente pela floresta. Ainda me lembrava de onde ficava cada coisa na cidade de Horadrim. O problema é que ela havia evoluído muito, talvez o hospital não fosse mais no mesmo lugar.

"Tenho que tentar"

    Me preocupei se ela sobreviveria depois de perder muito sangue. Com meia hora caminhando pela cidade encontrei o hospital.

"Ufa, este não mudou nada"

    Algumas enfermeiras viram eu me aproximando e me trouxeram a maca na qual adentraram na sala de cirúrgia com Ellie e saíram cinco horas depois.
O sono já me atingia quando vi um senhor que eu reconhecia.

- Caetano? - Resolvi perguntar. O senhor de idade olhou em minha direção com semblante surpreso.

- Maltael? Já faz muito tempo que não escuto este nome, o último foi 'John' por uma garota que deve ter salvo a minha vida... Agradeço muito a ela. - Ele olhava para o chão com um sorriso fraco.

- O que faz aqui senhor?

- Hoje é meu dia de receber alta, sofri um acidente em casa depois que o povo de Antonella me atacou. Mas e você? Desapareceu por muitos anos, e seu pai como está? Você sabe se ele gostou da encomenda de flor que mandei para ele?

    Caetano não sabia do acontecimento da família Howard? Como ele é um grande amigo, contei todos os acontecimentos que me recordava até o momento atual.

- Meu Deus! Aquela menina não pode morrer! Como vou agradecê-la? -Ele não usava tom de piadas, parecia realmente querer falar com Ellie.

"Ela realmente foi útil por aqui"

   De repente, a porta na qual é proibido pessoas sem autorização estava sendo aberta por um médico cirúrgião. Me levantei rapidamente ao ver seus passos mais próximos e Caetano apenas observava ao meu lado toda a situação.

- A cirurgia ocorreu bem, porém como perdeu muito sangue. Infelizmente entrou em coma profundo. Faremos transfusão de sangue, mas não sabemos se ela realmente poderá acordar. Seu corpo anda muito fraco, podendo não resistir tanto tempo...

   Senti meu corpo pesado, sei que fiz muitas coisas erradas para Ellie, mas não aceitaria sua morte. Meu irmão não merece isso também. Comecei a chorar por todos os problemas que estavam acontecendo enquanto Caetano se abaixava colocando sua mão em meu ombro , eu merecia sofrer mesmo. Mas os dois não, por mim não.
Apenas precisava saber se ela queria viver mais, só assim para se livrar deste coma profundo.

    Passava mais de cinco anos que seu coma havia dado início, quando um certo dia ouvia-se apenas o sinal do aparelho eletrônico que mostrava as batidas do seu coração apitando. Enfermeiras e médicos entraram pela porta de seu quarto tentando fazer reanimação, mas Ellie havia desistido.

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- Ellie?

- Ellie? Você desmaiou é? Acorda minha filha.

- A minha irmã bobona vai se atrasar! Hahaha

(Continua...)

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