18. Não posso me transformar
"Não posso te ver hoje."
"Como é?" Ladybug falou surpresa do outro lado do telefone, como se não acreditasse de verdade no que ele estava falando.
"Não posso te ver hoje." Adrien repetiu, mesmo que ele tentasse falar alto para que Ladybug entendesse o que ele dizia na ligação, sua voz ainda saia baixa, desanimada. "Eu acho que a assistente do meu pai desconfia que eu saí ontem. Ela não sai de perto da porta, fica andando por aqui o tempo todo, eu não vou conseguir sair de casa assim, nem mesmo escondido."
"Ah." A voz de Ladybug saiu mais desanimada do que Adrien imaginava que seria. "Tudo bem."
"Eu sinto muito, não queria te deixar na mão assim."
"Tá tudo bem, Chat." Ela repetiu, ainda desanimada. "Eu tava meio cansada hoje, e parece que vai chover mesmo, eu posso ficar no hotel fazendo alguma coisa..."
"O quê? Não, mas você não precisa desistir de sair por minha causa, ainda é sua semana em Paris, você tem que aproveitar, bugboo."
"Eu não sei o que fazer sem você." A voz de Ladybug saiu quase como um sussurro do outro lado da linha.
"Tem dois museus perto do seu hotel, eu posso te passar as coordenadas pra chegar lá, eles são ótimos, você devia ir, você não vai ficar cansada e se chover, pelo menos é um lugar fechado e perto, você pode levar um guarda-chuva..."
"Pode ser..." A garota falou e murmurou um pouco mais, Adrien deu mais uma volta no quarto, desejando poder sair dali, mas no final apenas sentou na cama, conformado. "Tudo bem, acho que vou, então."
"Desculpa por não poder ir com você."
"Tá tudo bem." Ela falou mais uma vez, mas era incrível como cada vez que ela falava, Adrien tinha mais ainda a impressão de que não estava tudo bem. "Enfim, eu preciso me arrumar se quiser ir logo."
"Certo." Ele tentou ao menos sorrir enquanto falava, para animar um pouco Ladybug. "Não esquece de tirar umas fotos pra me mandar, vou ficar com saudade do seu rostinho lindo."
"Bobo." A garota riu soltando ar pelo nariz. "Vou tirar, só porque você pediu."
Adrien continuou sentado na cama, encarando as janelas de vidro enormes e o muro da mansão em sua frente, com o celular ainda próximo do rosto, mesmo depois de Ladybug desligar.
19. Confiança
Não posso te ver hoje. A voz de Chat Noir ecoou em sua cabeça enquanto ela estava sentada na cama do hotel, colocando as meias no pé. Tá tudo bem. E sua própria voz ecoou em sua cabeça, tentando convencer a si mesma, mas achou que não estava conseguindo.
Marinette esticou os braços para pegar um dos sapatos e calçar, repassando a última conversa que haviam tido pessoalmente, no dia anterior. Ela tinha perguntado qual segredo ele queria falar pra ela ainda aquela semana, será que havia pressionado ele demais? E agora ele tinha inventado uma desculpa para não ter que ver ela hoje? Isso tudo porque Ladybug é chata e insistente e fica fazendo perguntas que Chat Noir não quer responder?
— Ai, Marinette, se controla. — Ela teve que falar, balançando a cabeça para espantar aquele pensamento e calçar o sapato, é claro que Chat Noir não havia dito aquilo como uma desculpa para não vê-la, ele não era aquele tipo de pessoa.
E enquanto pegava o outro sapato para calçar também, se distraiu pensando no modo como Chat Noir segurou o rosto dela na Ponte das Artes, e como havia trazido o rosto dela para perto do dele e depois... Parado. Pensou em como ela segurou o rosto dele no dia anterior, vermelho de tanto rir das besteiras que ela havia dito, a risada dele ecoou na cabeça de Marinette conforme ela amarrava os sapatos e sorria com a lembrança.
Por fim, a garota se colocou de pé, arrumada, e se olhou no espelho, mesmo que ela não entendesse exatamente o motivo de Chat Noir estar agindo daquele jeito com ela, e mesmo que ela não soubesse exatamente como a relação deles podia ser definida no momento, ela confiava em Chat Noir o bastante para acreditar que ele falaria se houvesse algo errado entre eles, em vez de evitar ela.
E ela havia prometido se divertir e tirar várias fotos para mandar para o garoto naquele dia, então não ia ficar o dia todo no quarto do hotel se lamentando ou criando paranóias sem fundamento assim.
20. Me salve
Marinette estava sentada sozinha em um dos bancos dentro do museu, era o segundo que ela visitava aquele dia, e tinha aproveitado o tempo do lado de fora, nos jardins, antes de entrar para ver as obras de arte do local, agora ela encarava um quadro enorme em sua frente, abstrato e colorido com detalhes em vermelho, ela estava com a cabeça inclinada, tentando entender o que aquilo significava.
Mas acabou desistindo e tirou uma foto para mandar para Chat Noir, depois enviou uma mensagem falando "Esse eu não entendi." e o garoto respondeu "M'lady, se nem você que é a esperta entre nós dois entendeu, então eu não tenho chance nenhuma." Marinette riu com aquela resposta e observou um pouco mais a obra.
— Oi, boa tarde. — Um dos funcionários do museu chamou sua atenção e sorriu para ela. — Só pra avisar que a gente vai fechar em meia hora, ok?
A garota concordou com a cabeça e suspirou antes de se levantar para ir embora, observando com cuidado um pouco mais das obras por onde passava. Quando chegou ao lado de fora estava escuro, não escuro por já ser tarde da noite, eram pouco mais de cinco da tarde, mas o céu estava fechado e chovia fracamente, o suficiente apenas para esconder o sol e deixar o local com um clima cinzento.
Depois de abrir o guarda-chuva, Marinette ainda observou um pouco mais os jardins em sua frente, que estavam alegres e cheios de gente quando ela chegou, mas agora se encontravam vazios por conta da chuva. Ela andou devagar pelo local até chegar na entrada, onde o vento começou a bater mais insistente e a garota teve que segurar o guarda-chuva com mais força para que ele não fosse levado.
Não que estivesse adiantando de muita coisa, o vento fazia as gotas de chuva, mesmo que fracas, baterem em suas pernas, em suas costas e na parte de trás de seus braços, e ela tentou andar mais depressa ainda para chegar logo no hotel.
Se Chat Noir estivesse ali, o que ele faria? Com certeza daria um jeito de fazer aquela situação parecer divertida, talvez ele segurasse a mão de Ladybug e a chamasse para correr na chuva, e ela riria da ideia dele e riria mais ainda enquanto corre com ele. Ou talvez ele falasse para os dois esperarem a chuva passar juntos, e ela não teria pressa para voltar para o hotel se estivesse com ele, poderiam ficar de braços dados e conversar baixinho protegidos da chuva em algum lugar.
Mas Chat Noir não estava ali, e ela estava andando na chuva sozinha e o vento estava deixando ela quase que completamente molhada, mas se Chat Noir estivesse ali, talvez ele tivesse ido bem agasalhado, afinal ele tinha avisado a ela que poderia chover, talvez ele emprestasse para Ladybug e ela poderia sentir o cheiro dele — cheiro do que parecia ser um perfume caro que ela não conhecia — enquanto caminhavam juntos.
Marinette parou de caminhar em uma das esquinas quando já estava na metade do caminho, se escondeu sob a lona de um dos restaurantes ali e aproveitou que todos os clientes estavam dentro para chorar sem que ninguém visse, ela era independente, com certeza, sairia sozinha diversas vezes em Paris e isso não seria um problema, mas naquele momento ela queria muito que Chat Noir estivesse ali com ela.
A única coisa que restou para fazer foi levar as mãos ao rosto para enxugar as lágrimas e voltar a andar para o hotel, pensando que poderia ligar para o garoto mais tarde, e ainda faltavam mais alguns dias até ela ir embora, não era o fim do mundo só porque ela estava sozinha na chuva.
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você é tudo que eu vejo
Romancechat noir e ladybug são amigos virtuais há muito tempo, agora a garota finalmente está indo para Paris visitá-lo, e os encontros e passeios pela cidade do amor podem evidenciar o que eles achavam ser apenas uma amizade. (baseado nos temas do ladyno...