𝐶𝐴𝑃𝐼𝑇𝑈𝐿𝑂 10

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Ava Sharpe Point Of View

Não sabia em que momento eu havia deixado de sonhar e finalmente entrei na zona confusa e nebulosa que antecede a consciência. Meus olhos mantiveram-se fechados. Estava me permitindo sentir a realidade outra vez, talvez um pouco mudada pelo sonho que ainda lampejava dentro de minha cabeça. 

"Eu te amo" ela disse. E então um milhão de borboletas começaram a voar dentro de meu estômago. Fiquei muito quieta, saboreando a sensação de bater asas.

E então, eu acordei.

Abri os olhos lentamente, aos poucos me acostumando com a pouca claridade do lugar e com a disposição dos objetos e móveis à minha volta.

Era o mesmo quarto presente no sonho que eu havia tido com Sara, onde ela havia me achado, eu havia resolvido confessar a ela meus sentimentos, nós dormimos juntas, ela me levou para morar em sua casa e, finalmente, havia se declarado também.

Então talvez, tudo tenha mesmo acontecido.

Virei-me devagar para o lado oposto e dei de cara com Sara, ainda inconsciente, tão próxima a mim que apenas minha metade da cama era ocupada por nós duas, sua cabeça em meu próprio travesseiro, o dela completamente esquecido no enorme espaço desocupado do colchão. Nossos narizes não se tocavam por uma distância mínima.

Ela dormia tranquilamente. Sua expressão serena, um de seus braços relaxado em cima da minha barriga. Encarei-a por algum tempo, não querendo pensar no que já estava pensando.

Não que eu não quisesse criar esperanças, apenas estava convencida de que sua declaração da noite anterior não podia ser levada a sério.

Não que ela tivesse mentido. Eu pude ver de perto a intenção de cada palavra que ela havia pronunciado.

Mas não conseguia deixar de pensar que, ao invés de mentido, ela estivesse apenas confusa.

Para a minha própria saúde mental, eu tinha que colocar alguns pontos em ordem:

Sara NÃO me amava.

Embora ela parecesse ter sido sincera, cedo ou tarde ela enxergaria que se enganou. Ela NÃO sentia por mim o que eu sentia por ela. No máximo algum interesse carnal misturado com um sentimento de culpa um pouco deturpado e com certos exageros. NÃO fazia sentido ela se apaixonar por mim.

Sara poderia ter qualquer pessoa que quisesse, em qualquer momento, talvez todas elas ao mesmo tempo.

Quando finalmente ela se desse conta desses fatos, eu acabaria na merda outra vez, tendo apenas um "sinto muito" para me consolar.

Continuei encarando-a, tentando imaginar como eu deveria agir, o que exatamente eu deveria fazer. Meu lado racional – e sensato- dizia para que eu saísse de lá o quanto antes e retomasse a minha vida antiga, mas meu lado completamente apaixonado e ingênuo me mantinha ali, dizendo que de alguma forma as coisa se resolveriam sem que eu tivesse que deixá-la outra vez.

E assim como na primeira vez, eu me via atada, não me restando mais nada a não ser esperar que tudo ruísse outra vez.

Me levantei com cuidado, não querendo que Sara sentisse alguma mudança e acordasse.
Eu não queria ter que lidar com a misteriosa relação que surgiria entre nós a partir daquele dia. Não queria ter que ver em seus olhos a dúvida que eu sabia que, cedo ou tarde, surgiria.

Recolhi do chão a calcinha e o casaco, dando uma última olhada para verificar se ela ainda estava dormindo, saí e fechei a porta atrás de mim.

Rumei para o quarto onde estavam meus pertences, ainda empacotados. Procurei por um short e uma calcinha limpa. Peguei também minha escova de dentes e caminhei para o banheiro.
Tomei um banho demorado, sentindo o aroma agradável do sabonete e dos shampoos caros que estavam ali. Escovei os dentes e me penteei, tentando ignorar meus hematomas hoje mais visíveis.

𖠇𝑴𝒚 𝒔𝒘𝒆𝒆𝒕 𝒑𝒓𝒐𝒔𝒕𝒊𝒕𝒖𝒕𝒆 - 𝑨𝒗𝒂𝒍𝒂𝒏𝒄𝒆𖠇 IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora