𝐶𝐴𝑃𝐼𝑇𝑈𝐿𝑂 15

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Ava Sharpe Point Of View


Engasguei.

Algo me trouxe de volta, me tirando daquele lugar e daquele desespero torturante.

Tossi com força, tentando respirar outra vez.

Confusão.

Não conseguia assimilar nenhuma informação ao certo.

Estava claro. O quarto ainda era invadido timidamente pelo mormaço do lado de fora, mas dessa vez a realidade que chegava aos poucos começava a fazer mais sentido.

- Calma...

Tentei me desvencilhar de braços.
Eram braços fortes, e embora a sensação de tê-los ali parecesse conhecida e até reconfortante, lutei contra eles, muito perdida.

Mas eles eram fortes demais até mesmo para o meu pânico.

Tossi mais vezes, uma náusea súbita me tomou com uma força muito grande para tentar controlá-la.

Estiquei o pescoço para o lado, sem conseguir ver direito, tudo que estava dentro de mim saiu em um jorro de muitas coisas misturadas e nojentas. Minha garganta ardeu como se pegasse fogo, pude sentir os braços ao meu redor afrouxarem o aperto e dedos segurarem meus cabelos em um tipo de rabo-de-cavalo improvisado, tentando separar os fios do suor que cobria meu rosto e pescoço.

A náusea vinha em ondas, cada onda resultava em um novo jorro de algo ruim. Minha cabeça começou a doer, mas aos poucos fui retomando o controle da situação, vomitando cada vez menos, enxergando cada vez mais.

Um chão de madeira escura. Graças a Deus não era carpete.

- Calma, meu amor... – A voz atrás de mim saiu hesitante, trêmula.
Meu corpo todo tremia.

Vomitei mais. Sem pensar em nada, descolei a mão direita do peito e a estiquei, olhando fixamente para a aliança fina no anelar, pedindo silenciosamente para que ela simplesmente não sumisse diante dos meus olhos. Toquei-a com o polegar, tentando conter o tremor quase epiléptico, querendo senti-la e me certificar de que aquilo – aquilo sim – era real.

Alívio.

Cuspi uma última vez no chão e me deixei cair sem forças no colchão macio.

Estava suada de uma forma que não combinava com o clima invernal de Londres.

Já não sabia se tremia de frio ou de nervoso. Minha cabeça doía e latejava, consegui notar que estava chorando assim que abrir os olhos.

Eu estava em estado de choque, descabelada e me sentindo imunda. E Sara, como uma deusa perfeita e ridiculamente linda até ao acordar, estava olhando para mim daquela forma, ao meu lado.

Eu sabia que devia pedir para que ela parasse e se afastasse, mas estava me sentindo excepcionalmente exausta e fraca naquele momento.

Num ímpeto, me atirei em seu peito, tomando cuidado para não encostar minha boca em sua pele, e me agarrei nela com desespero, querendo senti-la, querendo ter certeza de que ela também era real.

- Foi só um pesadelo. – Ela falou em uma voz aveludada, enquanto penteava os fios rebeldes que teimavam em grudar no suor da minha testa. – Mas você me assustou.

Ela tocou minhas costas com um dos dedos e eu estremeci. Senti o cobertor ser puxado e nos cobrir, então tudo o que queria era me deixar relaxar grudada nela. Tudo estava bem agora, o alívio que enchia meu peito como um balão era tão reconfortante que eu poderia até meditar.

𖠇𝑴𝒚 𝒔𝒘𝒆𝒆𝒕 𝒑𝒓𝒐𝒔𝒕𝒊𝒕𝒖𝒕𝒆 - 𝑨𝒗𝒂𝒍𝒂𝒏𝒄𝒆𖠇 IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora