cap. XV

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Mas que merda, já acordei atrasada. Desço correndo e quando eu estava quase na porta Maven me grita.
- S/N VEM CÁ.
- Eu tô atrasada. – falo mechendo na minha mochila conferindo se meu material estava todo lá.
- Fodase a gente vai conversar agora. –Maven fala e eu me viro para olhar ele bufando.

Maven estava tentando falar comigo havia tanto tempo... Eu estava me remoendo de curiosidade mesmo que estivesse ignorando.
- Fala logo Maven antes que eu desista.
- Acho melhor você se sentar. – ele disse sério, e assim eu fiz. – Olha, preciso que seja compreensiva, é confuso o que vou falar mas já passou da hora de você saber. – como não falei nada ele continua. – Seus poderes...

Só essas duas palavras me fazem revirar os olhos.
-Maven na boa, não tô afim de saber sobre isso. Eu tenho. Não sei usar. Quando acontece de enfeitiçar alguém eu logo corrijo e tá tudo certo. Não quero nada relacionado à minha mãe. – falo sem mais nem menos e me levanto, antes de Maven me empurrar pro sofá de novo.
-Espera criatura! Olha só, sua mãe também tinha esses poderes, como bem sabe. É um dom raro, os cantores são quase que exclusivos da família de sua mãe.
-Cantores??
-Como são chamados aqueles com seu poder, enfeitiçar pela voz e afins. Coriane era uma das melhores, claro, foi treinada para ser rainha desde o berço, e Julian não é diferente.
-Por que esse nome não me é estranho?
-Porque já se conheceram no palácio. Não exatamente se conheceram, ele é tio e mentor de Cal então ele passeava pela propriedade às vezes. Ele é seu tio também, ainda tá vivo então se quiser saber algo sobre sua mãe pergunte à ele.
-E por que só sei disso agora? Ele sabe do nosso parentesco?
-Sabe sim, e antes que pergunte, ele tentou ficar com você, mas sabe como é, iam estranhar você tão próxima dele e decidiram que a distância seria melhor. Pro seu próprio bem.
-Como se eles se importassem com isso – digo baixinho para mim mesma.
-O que disse?
-Nada não, só termine isso logo.
-Me admira você nunca ter desconfiado de nada, quer dizer, a sua aparência é bem parecida com a de Cal e ele te trata como se fosse de açúcar.
- Diferente de você, naturalmente.

O rosto de Maven se contrai em uma expressão fria, que vi poucas vezes em anos. Seus olhos ficaram sombrios como se eu tivesse o apunhalado.
- Ótimo S/n, repita isso de novo e vou deixar Elara entrar na sua mente da próxima vez ao invés de ficar te protegendo. Todas as vezes que ela entrou na sua mente... Não foram nada comparado ao que ela fazia comigo, e ao que teria feito com você se eu não estivesse lá. – ele diz com raiva mas evitando gritar. Eu fico completamente desconcertada, não tinha ideia de que aquilo acontecia com tanta frequência.
- Eu não tive a intenção... Não queria...
-De qualquer forma, você não é a única com poderes. Eu e Cal controlamos o fogo... – ele ignora completamente as minhas últimas falas.

Nessa hora fico surpresa e confusa. Maven olha para uma vela próxima a nós e concentra o fogo em suas mãos, o-fazendo crescer como uma bola de fogo. Encaro aquilo com olhos arregalados, isso tudo já estava saindo do controle a cada hora ficava mais estranho. Maven percebe meu olhar e desfaz a bola.

-Como você...
-Treino. Geralmente uso uma pulseira que me ajuda a criar fogo sem chamas por perto mas sou proibido de usá-la na escola. Fora isso, costumo sempre treinar os poderes, você nunca viu no palácio porque escondíamos mas agora que sabe vai treinar comigo nas férias. – abro a boca para questionar e Maven continua sem me deixar falar. – Isso não é discutível, vai saber tudo o que precisa saber e será tratada como a princesa que deveria ser.
-Mas meu sangue é vermelho, nunca vão me aceitar com o título. Nem quero isso tudo também, estou ótima como estou, nunca senti falta e agora não será diferente.
-Seu sangue vermelho é culpa do seu pai, mas quando perceberem seu poder não tem o que fazer. Os treinos não são mais sobre você S/n, a segurança de todos depende de como controla isso aí. 

Paro um pouco e reflito. De uma hora pra outra tudo o que conhecia foi modificado e verdades do meu passado vinham à tona, aquilo era demais, já estava cansada de toda essa bobeira e ladainha. Uma lágrima tímida escorre pelo canto do olho.

-Por que está me falando tudo isso agora?

Maven não responde, mas se senta ao meu lado e me dá um abraço de lado.

-Você só sabe aquilo que precisa saber ok? Me disseram que contasse tudo mas tem coisas que a própria experiência vai te contar – ele diz para reconfortar e assinto com a cabeça. Por mais que não gostasse, Maven ainda tentava suavizar as coisas para mim.
-Preciso ir agora, já perdi o 1° horário... obrigada – digo por fim encerrando o assunto deixando um beijo em sua bochecha e saio da comunal apressada.

Ao invés de ir para aula vou até a biblioteca, passo o dia procurando sobre o sobrenome de minha mãe e sobre pessoas como eu. Como eu esperava minha pesquisa não foi bem sucedida, mas serviu para ocupar a minha mente até que anoitecesse.

Minha cabeça estava queimando de tanta informação, como se não conseguisse digerir tudo. Enquanto andava até minha comunal eu pensava sobre a conversa com Maven e principalmente sobre a parte em que ele me falou que me protegia, não consigo imaginar em um milhão de anos a dor que ele sentia e principalmente como ele estava lidando com isso tudo.

As invasões de Elara ( mãe de Maven ) nas nossas mentes era algo que sempre aconteceu, ela nos dizia que era "para o nosso bem" mas aquilo era completamente doloroso, ela sabia dos nosso segredos mais bem guardados, uma sensação de não pertencer a si mesmo, era a pior sensação do mundo.

- S/n – Harry interrompe meus pensamentos colocando a mão em meu ombro, fazendo com que eu me vire para encará-lo.
- Hum, oi Harry, não é uma boa hora, amanhã, pode ser?
- Como assim garota? – ele pergunta com um olhar confuso. – Você sumiu o dia inteiro, faltou em todas as aulas, tava indo ver se você tá viva.
- Obrigada pela preocupação mas eu estou viva.
- Eu precisei de você hoje, onde você tava? – diz retirando sua mão de meu ombro.
- Problemas de família, Harry.
- Eu também. – ele fala como se só ele tivesse o direito de ter problemas e aquilo me irritou.
- Nada comparado ao que eu descobri hoje, não é só você que tem problemas, Potter. – digo raivosa.
- Eu tô preocupado com você. – ele diz enfurecido.
- Se preocupe com a sua própria vida Harry Potter.

Quando Harry abriu a boca para falar eu tapei a mesma com a minha mão e o puxei pra dentro de um armário de vassouras que estava a minha esquerda.

Harry murmurava contra minha mão.
- Cala boca. – falei tirando minha mão devagar da sua boca.
- O que foi iss—.
Harry tenta falar e eu coloco minha mão novamente na posição inicial.
- Fica quieto porra. – digo o mais baixo possível.

Depois de uns segundos ouvimos uma voz do lado de fora " Quem está aí? Voltem para a cama". Logo depois passos se distanciando.

Quando achei que era seguro o suficiente deixei com que Harry falasse.

- Como você sabia ?
- Eu sou praticamente especialista nisso, por isso que quando eu falar que é pra você calar a merda da boca faz o que eu mandei.
- Porra tu tá grossa hoje.
- Você que me irritou porra.
- Meu pau no seu cu.
- Pau no cu é verde, verde é bambu, bola na rede, harry foi tomar no cu.

Um silêncio permaneceu por alguns segundos e depois Harry começou a rir histericamente
- KKKKKKKKJKKWJGWGGQIJW – eu fico olhando pra ele e logo começo a rir dele.
- SKKSKSM credo que risada de fumante.
- KQJJHSHJJJSSSKKK como vc pensou nisso agora? Piada de primeirista.
- KSKKKSK para esquisito vão achar a gente.

Depois de quase cinco minutos tentando parar de rir nos olhamos ainda com um sorriso no rosto e os olhos cansados, estávamos com aparência de drogados mas felizes.

O que me fazia gostar de Harry erram esses momentos, onde simplesmente existiamos alegres e totalmente entregues um ao outro, como se o mundo lá fora estivesse parado junto aos problemas, como se vivêssemos em um outro universo.

Harry fita meu rosto por alguns segundos segurando meu rosto com as duas mãos e me beijando, um beijo tranquilo e doce.
Ainda com o rosto a centímetros e os olhos fechados, Harry sussura
- Foi mal gritar com você e ter sido um grande babaca.
- Você foi mesmo, mas foi mal ter gritado com você também. – olhamos um para o outro e eu deixei um selinho demorado nos lábios do mesmo que sorri abertamente com o gesto. – Conversamos amanhã com calma, pode ser?

Harry afirma com a cabeça e eu saio do armário de vassouras seguindo silenciosamente para minha comunal.

toxic heart - Harry e S/nOnde histórias criam vida. Descubra agora