Pai

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Pai, minha primeira lembrança
É estar chorando em um berço
Não vá! Sonho de uma criança
Grito! Nem consigo rezar terço
 
O trabalho, para me sustentar
Fiquei com mamãe, sempre um doce
Sua atenção e não mais chorar
Tempo? Sofrimento não precoce
 
Tive uma infância feliz
Com muitas brincadeiras de rua
Comida da mamãe, flor de lis
Carinho do pai, sem falcatrua
 
Veio a adolescência e os problemas
Sem mesada ou roupa nova
Bons colégios tive, sem dilemas
Mamãe: “Sem ensino uma ova”
 
Daí um pouquinho, a percepção
Não era o filho preferido
O mais velho sim, com admiração
Esforço fiz, mas não era querido
 
Fui aluno e filho, com devoção
Sem vícios, minha obrigação
O certo, para ter atenção
Sempre preterido, submissão
 
Pai você se foi, veio um vazio
Só uma vez fui o preferido
Herdei seus problemas, sem rodízio
Para a justiça fui o escolhido
 
Nada faz sentido, cê não tá
A dor da ausência corrói
Pra sempre, pra lá de Calcutá
Ainda assim, és meu herói!
 
Pai querido, peço seu perdão
Pelas ofensas, que me fizestes
Por ter tido tanta retidão
Por não ser o filho que sonhastes
 
Perdão, pois escrevo em lágrimas
Por querer ter tido outro pai
Por não o trocar, por quaisquer prismas
Por ser presente, não se esvai
 
Perdão, pois eu ainda lamento
Por eu sentir tanto a sua falta
Por chorar, sem um ressentimento
Por seres sempre a minha ribalta
 
Perdão papai, o tempo se foi
Perdão, por tanto que eu reclamo
Perdão, pois sempre foi meu pé-de-boi
Perdão, nunca disse, eu te amo!

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