Nossa, como estou feliz!
Ganhei canetas de pintar
Olha o sol mamãe! Eu fiz
A mamãe e eu, hum! Vou tentar...Pronto essa aqui? Eu!
Nossa casa, um gramado
Tem o meu dodói, não doeu
Mamãe não tô atrasadaVou pra escola sorrindo
Aprender o B, A, BA
Não estou nem mais tossindo
Mãe o homem falou, eba!É o do serviço social
Lembra que você reclama?
Para mim ele é legal
Ele nos tira da lamaE sempre vem nos pegar
Para o refúgio levar
Diz que vou pra escola
Fazer desenho com colaGrudar gravuras no papel
Nossa casa é assim!
Não essa ponte horrível
Quero a cama e um lar sim!O carro não deu esmola
Mas as canetas e a folha
Vá pra escola pimpolha!
Por que, do não me amola?Quando vamos pro abrigo?
Mamãe lá não sinto frio
O homem é meu amigo
Por que ele é otário?Quando durmo sonho isso
Ser igual esse desenho
Meu corpo é todo liso
É da fome que eu tenhoQuero você desse jeito
Chega de pedir dinheiro
Sem mais o CRACK do sujeito
Me tira desse chiqueiroCansada de delegacia
Ir falar com conselheiro
Sede que não se sacia
Mãe! Chega de maconheiroNem pai de verdade tenho
Cada semana tem um
Me passam a mão e não venho
Sempre pegam meu bumbumEu tenho medo da chuva
Todo mundo se espreme
Meu desenho não é luva
A água sim ele temeMãe! Aceita o auxílio
Tem lugar e quero ir
Chove. Vamos! Não é exílio
Não! A água fez descolorir...Sem desenho, sem asilo
Sem sonho, sem família
Perdi tudo num vacilo
Foi-se mesmo com vigíliaA chuva parou os carros
Tenho que voltar a pedir
Entre vidros e escarros
Outro desenho conseguirE mamãe vai sair daqui
Ter comida para botar
Quem sabe comer caqui
Um teto pra não desbotar
VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias de Todos Nós
PoesíaTrata-se de coletânea de histórias e reflexões, comuns a todos nós, contados através de poemas, em que cada leitor poderá ter sua própria experiência sensorial, visto que não há uma interpretação única ou correta. A poesia se sente e em cada pessoa...