Prólogo

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— Como se sente hoje, Sakura? – Mia pergunta, dando um sorriso simpático.

— Normal.  

Sento no divã à minha frente, deixando minha mochila na mesinha de centro. Ela sai de trás da sua enorme mesa de madeira escura e vem até mim, sentando-se numa poltrona na minha frente.

Mia é uma mulher bonita e simpática, e tem tentado me ajudar nos últimos seis meses. Assumo que ser minha psicóloga não é a coisa mais fácil do mundo, então o processo é lento. E agora que eu estava gostando dela, recebo a notícia que vou me mudar e terei que me acostumar com uma psicóloga nova.

— Podemos voltar ao assunto de antes, então? Se sente pronta para contar tudo?

— Talvez. – Encaro o teto, molhando os lábios com a língua.

— Bom, vamos lá.

Ela se ajeita na poltrona e pega uma prancheta, cruzando as pernas para usar como apoio.

— Você tentou algo nessa última semana? – questiona.

— Não exatamente. Ele esteve ocupado essa semana, principalmente com uma garota específica.

— É uma namorada nova?

— Talvez.

Responder isso me incomoda e me deixa enciumada. Sei que a resposta está mais para "sim" do que para "talvez", mas não assumiria isso.

— O que foi? Está sentindo ciúmes?

O mesmo motivo que faz eu gostar de Mia, me faz odiá-la na mesma proporção. Ela passou a me conhecer bem demais, e sempre diz o que deve mesmo que eu não goste.

— Então, vamos recapitular. – Ela continua quando percebe que não vou responder. – Você nunca conheceu seus pais, e aos oito anos, foi adotada por Mikoto Uchiha. – Assinto. – Ela te amava, e você a amava também, porém, ela morreu depois de um ano.

Morreu não, foi assassinada. Eu corrigiria Mia se pudesse.

— Para que você não voltasse pro orfanato, sua guarda foi passada ao filho do meio, que também é adotado.

— Sim.

— E você se apaixonou por ele, já que nunca tiveram uma relação realmente familiar. É por isso que gosto de ser psicóloga... sempre aparece algumas histórias doidas como essa, dignas de novela das seis. – Ironiza, dando um risinho baixo. Me sinto obrigada à revirar os olhos, mas ela não liga. Mia já conhece meu jeito de reagir.

— Não estou apaixonada.

— Então por que tenta seduzi-lo?

Mordo o lábio, tentando criar uma resposta convincente na minha mente.

— Quero que Sasuke me ame também.

— Seu tutor cuida de você, e isso quer dizer que ele te ama. – Responde na hora, quase me interrompendo. Acho que ela já imaginava minha última resposta.

— Não é esse amor que eu quero.

— Quer o mesmo sentimento que ele tem pela namorada? – Prefiro me manter quieta, ela sabe o que penso. Sempre sabe.

Sim.

— E não acha isso errado? – Questiona depois de anotar alguma coisa em seu caderninho.

— Por que é errado querer que ele me ame? Não somos irmãos, não é incesto.

— Incesto é, provavelmente, o menor problema nisso tudo. Você tem dezessete anos, e ele trinta. Isso é errado de tantas formas que nem consigo contar nos dedos das mãos.

— Eu não ligo.

Pego minha garrafa d'água, tomando a metade do líquido de uma só vez.

— Por que acha que sexo fará ele amar você?

— Quando dois adultos se amam, eles fodem. Não é? – Ergo uma das sobrancelhas, analisando suas expressões igual ela analisa as minhas.

— E você nunca se interessou por algum garoto do colégio, por exemplo? – Nego com a cabeça.

— Não fazem muito meu tipo.

— E... me deixe adivinhar. Seu tipo é homens mais velhos? Tem algum gosto por submissão?

— Não, mas gosto de me sentir desejada.

Ela coloca a tampa da caneta entre os dentes e me encara de novo. O jeito que sua face não é fácil de ler me agrada. Sei que Mia está me julgando por dentro, mas desde que ela não demonstre isso, me sinto confortável.

— Há algo que você não me contou? Algo que me ajude à entender o motivo de você pensar tudo isso?

— Tipo?

— Situações traumáticas, talvez. – Me ajeito no divã, sentindo-me um pouco incomodada com o assunto. 

Há sim algo que talvez tenha desencadeado isso, mas não quero contar. Não agora.

— É estranho o jeito que relaciono sexo à amor? – Pergunto de forma sincera.

— É estranho o jeito que você aplica isso na sua vida.

— E o que você acha de mim, então? Responda como Mia, e não como psicóloga. – Ela sorri mordendo os lábios.

— Acho que você é uma pirralha carente.

ANALISTA [Sasusaku]Onde histórias criam vida. Descubra agora