Catolicismo mata

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N/A: Eu juro que esse capítulo ia sair antes, mas, do nada, eu simplesmente me mudei pra Europa e minha vida está uma bagunça ridícula demais. Mas isso é bom! Como eu faço um total de NADA aqui além de passar frio, tenho um tempão livre pra escrever. Beijos, não desistam de mim!



Inúmeras vezes na minha vida eu fui questionada sobre meus pais biológicos, e em todas elas, eu me esquivei do assunto como o diabo foge da igreja católica – e do casal Warren. Minhas respostas eram simples e objetivas: não sei, não quero saber e não gosto de quem sabe. Qual seria o meu interesse em pessoas que me abandonaram?

Até os meus oito anos de idade, eu não entendia nada sobre essa questão. Não tinha a percepção que eu era a minoria, pois estava rodeada de crianças fodidas iguais à mim; pobres, órfãs e... tristes? Ok, não sabíamos ainda como o mundo funcionava para pessoas como nós, mas quando descobríssemos, ficaríamos tristes pra caralho.

Tão nova, a Sakura de oito anos começava a entender qual seria seu destino, traçado desde o momento que me deixaram naquela porra de orfanato. Seria para sempre sozinha, chutada daquele lar temporário aos dezoito anos e teria que lutar pela própria sobrevivência, tudo isso no país onde taxas de suicídio crescem ano à ano.

Essa última parte eu descobriria um pouco mais tarde.

Lembro que odiava o orfanato silenciosamente. Se qualquer pessoa me perguntasse, eu diria que era o máximo viver rodeada de crianças da minha faixa etária. Mas eu nunca gostei de crianças – nem mesmo quando eu era uma. Era péssimo dormir naquelas beliches desconfortáveis, dividir até os talheres, e não ter nada para chamar de meu. Queria poder ficar sozinha, gritar, chorar e não me preocupar em ser encontrada.

Tão ruim quanto, eram as missas diárias e os obrigatórios momentos de rezar. Após acordar, no final da tarde e antes de dormir, eu ajoelhava em frente à cama e pedia para Deus sempre a mesma coisa. Sair dali, fugir ou desaparecer. Não seria uma benção, seria um milagre.

Dez anos antes

Orfanato Católico de Maria

— Por favor, Sakura! Se esforce!

Pela décima vez naquele minuto, a irmã Naira balança meus ombros e me olha com súplica; em resposta, eu engulo o choro e balanço a cabeça em negação. Não porque não quero rezar, mas sim, porque sei a punição que viria caso eu não fizesse. Ela também sabe, e por isso me implora por esforço.

Já passou das oito, as outras crianças dormem tranquilamente. Eu limpo as lágrimas com as costas de uma mão e, com a outra, aperto o braço da mulher na minha frente. A ponta dos seus dedos afastam meu cabelo e acariciam minha testa lentamente, antes de me puxar para um abraço apertado. Há um nó em minha garganta tão apertado, que sinto dificuldade em respirar.

Um carinho é feito em minhas costas numa tentativa de me acalmar, mas não funciona nem um pouco. Meu choro se torna mais alto, as fungadas mais constantes e a dor em meu peito ainda mais forte. Porém, uma única batida forte na porta faz tudo isso cessar.

— Oh, meu Deus! – ela sussurra, afastando-me rapidamente. – Se esconda, agora. Vá para debaixo da cama e não faça barulho.

Imediatamente eu me deito no chão gelado e faço o que ela mandou, tampando minha boca para diminuir os sons que saem conforme choro ou respiro. É apertado, e a poeira contida na madeira provavelmente me deixará doente, mas esse é o menor dos meus problemas agora.

Mesmo com a pouca claridade no quarto vinda de um abajur, consigo ver Naira se levantando e andando até a porta. Assim que ela gira a maçaneta, o padre entra no cômodo e olha ao redor.

ANALISTA [Sasusaku]Onde histórias criam vida. Descubra agora