a daily song.

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– Uh... Hyung? Hm, você poderia... Vir me buscar? Na delegacia? Parece que eu fiz merda... De novo.

E era sempre assim. Ele me ligava no meio da noite para ir buscá-lo na delegacia. Sempre. Sem exceção. Você pode até se perguntar "por que o desgraçado não liga para a própria mãe?", simples. A própria mãe dele não dava a mínima pra ele. Ela não se importava com a maioria das coisas que ele fizesse ou deixasse de fazer. A própria mãe dele já tinha desistido dele.

Mas, sabe, Jeongguk não era uma pessoa ruim e muito menos problemática. Ele apenas era irresponsável, tinha esse péssimo ato de cagar para tudo e qualquer consequência que seus atos pudessem levá-lo. Eu também já havia desistido de imaginar que, algum dia, ele poderia mudar e começar a se preocupar um pouco mais com o que suas ideias bobas iriam causar.

– Tudo bem Gguk... - suspirei a fim de demonstrar meu descontentamento diante daquela situação. – Já estou indo.

Ele sabia que eu sempre iria buscá-lo. E mesmo com consciência disso, ele sempre implorava. Ele não dizia "venha me buscar na delegacia" como uma afirmação, entende? Ele apenas pedia com delicadeza, e talvez, fosse por isso que eu não me irritava tanto assim de levantar no meio da noite e ir buscá-lo.

E assim eu me levantei, pela centésima vez naquela semana, resmungando enquanto procurava uma roupa para vestir. Peguei uma calça moletom qualquer que encontrei e um casaco bem grande, estava tão frio que minhas pernas chegavam a tremer. E assim, adentrei meu carro e fui em busca do mais novo.

Assim que girei a chave, não evitei sorrir pequeno. Eu gostava de admirar aquele chaveiro de saxofone todas as vezes que me sentava no banco do carro. Jeongguk tinha me dado ele de aniversário alguns anos atrás, era uma das coisas que mais me acalmava no mundo. Eu poderia facilmente me lembrar dos olhos castanhos brilhando sempre que me viam tocar, ele amava qualquer música que eu tocasse. Antes de eu juntar dinheiro para comprar o meu próprio saxofone, íamos juntos para um teatro antigo cheio de instrumentos. O dono nos deixava usar sempre que os artistas de verdade não estavam ali. E era sempre memorável quando ele relaxava suas mãos em minhas coxas e suspirava sorridente dizendo "hyung, você toca tão bem!", ele me tirava sorrisos tão facilmente.

Mesmo que com esses momentos íntimos, não éramos tão próximos assim. Digo, não nos abraçávamos com frequência, sempre mantivemos um certo espaço pessoal até porquê respeitávamos um ao outro e ficar trocando abraços á cada 5 minutos parecia realmente irritante e desconfortável. Mas, quando nos abraçávamos vez ou outra, era realmente muito bom. Eu gostava de apertá-lo com força e sentir seu calor tão característico e único.

Assim que coloquei meus pés na delegacia, meus olhos imediatamente rodearam o local em busca do mais novo, encontrando-o rapidamente, sentado em uma cadeira de madeira em frente á um policial. Ele parecia imerso á qualquer coisa que estivesse acontecendo. Encarava os próprios pés e esfregava suas mãos que estavam escondidas no meio de suas coxas. Ele sempre estava daquela maneira quando ia buscá-lo ali, sempre tranquilo, sem realmente estar com medo ou preocupado. Parecia um tanto cômico o quanto ele parecia gostar de estar ali. Às vezes, chegava a se passar pela minha cabeça, que ele só estava ali, para provocar aquele policial, aquele homem que tanto o odiava. Jeongguk era menor de idade, tinha completado seus 17 anos á menos de 3 meses, a lei não permitia que fosse preso e ele se apossava disso. Claro que, se fossem crimes muito graves, ele seria rapidamente encaminhado para algum tipo de unidade de internação para adolescentes problemáticos, porém os "crimes" que Jeongguk cometia eram tão bobos, que chegava a ser ridículo. E o policial odiava a índole dele. Ele amava sentir aquela nostalgia de se ferrar, sabendo que nada iria realmente acontecer consigo.

Ele era assim. Jeongguk adorava viver perigosamente, ele sequer se importava em direcionar o certo do errado, para ele, esses conceitos eram fúteis e sequer deveriam existir. Ele fazia tudo que quisesse, ele era livre por si mesmo. Já que a mãe não ligava muito para ele, digo, ela sabia que ele estava vivo, dava comida e roupas para ele, mas não se importava se ele estava indo para o colégio ou não. Ela trabalhava todas as noites e voltava só de madrugada, e geralmente, aparecia xingando o mais novo de todas as palavras rudes que você puder imaginar. Eu sei porquê, eu fui vizinho deles por muito tempo. Nós morávamos num bairro bem pobre de Busan, então as casas por ali eram bem pequenas e de certa forma, velhas e descuidadas. Me mudei de Daegu para Busan quando meu pai perdeu o emprego na nossa cidade natal, e desde então, eu venho acompanhado a vida toda da família Jeon.

jeongguk's tracklistOnde histórias criam vida. Descubra agora