Capítulo 18

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Assim que voltaram da pescaria, Antonella e Alberto voltaram para a ilha, já que o assunto que tinham era algo particular, e ele queria que pouca gente soubesse.

- Olha, mãe... - Suspirou. - Não sei como te dizer isso, mas é importante...

- Eu tô muito preocupada, Alberto... Você tá bem?

- Tô, mas eu acho que se continuar perto do Bruno, não vou mais ficar.

- Como assim?

- Eu vou direto ao ponto. O seu marido não é, e nunca vai ser meu pai. Ele nunca me amou, e pra ser sincero, acho que te usou de desculpa pra me abandonar! Eu tô cansado de tentar me aproximar, e ver ele se afastando mais! Isso me faz me sentir um ser sem valor, e descartável...

- Antonella respirou fundo. - É, eu percebi isso... Eu sei que não devemos julgar ninguém antes de ver o lado dessa pessoa, e eu quero muito saber o porquê do seu pai ser assim, mas eu tenho medo.

- Medo?

- Eu já vi o Bruno fazer coisas incríveis por quem ele ama, mas também já vi ele agindo de forma irracional por motivos idiotas, como ciúmes. Eu tenho medo de descobrir que tudo isso, é só por um capricho bobo.

- Acha que realmente seria por isso?

- Sim, meu bem. Conheço ele há mais ou menos, 20 anos. Eu sei do que ele é capaz.

- Olha, a última coisa que eu mais quero, é acabar com o seu relacionamento. Se quiser continuar casada com ele, tudo bem, mas eu quero que saiba que eu não o considero meu pai.

- Alberto, eu não posso deixar você morar sozinho enquanto não tiver 18 anos. Eu cruzei o oceano inteiro só pra te ver outra vez, se o Bruno não concorda, vamos ter que nos divorciar. Vou encontrar outros parceiros por aí, mas filho, eu só tenho um!

- Eu te amo, mãe! - Sorriu.

- Eu também te amo muito, meu filho! - Abraçou Alberto. - Assim que ele chegar, vamos ter uma conversa, e eu vou pedir o divórcio, ok?

- O Massimo pode...

- MASSIMO?! Eu não gosto dele assim, ouviu?! Eu e ele, um casal?! Nunca! Nunquinha mesmo!

- Mas eu não ia dizer isso.

- Não?

- Eu só ia perguntar se ele podia ficar comigo enquanto vocês conversam. Acho que é melhor eu não me meter em um momento tão pessoal.

- Claro que pode. Eu te busco lá depois, e assim que a Copa Portorosso acabar, a gente vai pra Gênova... - A moça abaixou a cabeça.

- Ainda tá pensativa sobre a história do Massimo?

- Eu fiquei sozinha por uma década inteira, ser abandonada é horrível! Não dá pra ignorar o fato do Massimo não gostar dessa vida, e fingir que nada tá acontecendo! Todo mundo precisar estar só de vez em quando, mas quando não queremos, aí a solidão machuca, e machuca muito...

- É, eu sei bem... Por que não fica aqui com ele?

- Não, não posso! Cruzei o oceano pra te ver, eu não quero ficar longe de você outra vez!

- Mãe, eu quero muito ir pra Gênova com o meu namorado, e com a minha amiga, mas não quero deixar ele aqui! Fica com ele, vocês se dão bem juntos!

- Eu não posso largar toda a mudança que organizei, e ficar com o Massimo, o que ele vai pensar?! Que eu sou indecisa, ou que troquei meu marido pelo primeiro homem que vi?! Sem chances!

- Eu não queria falar nada, mas o Massimo tá apaixonado por você.

- QUÊ?! É sério?!

- Sim! Então, você dá um pontapé no Bruno, e casa com o meu verdadeiro pai: Massimo! Simples assim!

- Alberto, não é simples assim! Não dá pra chegar nele e falar: "decidi trocar de marido, casa comigo?"!

- É simples, sim! Chega no Massimo e fala que gosta dele, aí pede ele em namoro, e se casem!

- Eu nem sei porque deixei você se meter na minha vida amorosa! Mas enfim, eu vou me declarar da maneira que eu me sentir mais confortável, e só vou fazer isso quando estiver pronta!

- Tá bom, só não demora muito. As pessoas mudam, e paixões acabam.

- Não vou demorar, não se preocupe.

Antonella não sabia quando seria o momento perfeito, mas gostaria de contar depois de conversar com Bruno, que para sua surpresa, estava demorando muito para voltar.

A tarde transforma-se em noite, e o homem não regressou. Ela tinha medo de Filippo ter feito algo com ele, porque apesar de tudo, foram anos ao lado de Bruno, e ela ainda se preocupava com o mesmo.

Antonella estava ficando cada vez mais preocupada com seu sumiço, e pensava em sair para procurá-lo, apesar de não ter ideia de onde começar. Já estava bem tarde, e Alberto dormia profundamente em sua rede. A moça pensou em escrever um bilhete ao filho avisando que iria procurar Bruno, mas algo chamou sua atenção.

Uma garrafa de vidro saiu do mar, e parou na areia da ilha. É comum ver objetos na areia trazidos pelo mar, já que muitas pessoas jogam lixo na praia. Mas aquela garrafa era diferente, ela tinha um papel dentro. Antonella conseguiu tirar o papel de lá de dentro sem quebrar a garrafa, e viu que se tratava de um bilhete.
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❁Fʟᴏʀᴇs ᴀᴢᴜɪs, ᴇ
ʙᴀᴜɴɪʟʜᴀ. ☕︎
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Para qualquer outro que lesse, aquilo parecia apenas palavras escritas sem nenhum sentido, mas Antonella entendeu perfeitamente o recado.

Quando ela e Bruno tinham 12 anos de idade, encontraram algumas florzinhas azuis caídas no chão. As flores eram lindas, e pareciam saudáveis, o que não explicava o porquê de terem se soltado naturalmente da árvore.

Os dois ficaram curiosos sobre as flores, e decidiram perguntar ao dono de uma floricultura da cidade. O homem disse que aquela espécie de árvore era diferente, e esperta. Ela soltava algumas flores saudáveis para que os insetos polinizadores pensassem que a planta estava morrendo, então a polinizariam mais rápido, dando mais nutrientes a ela.

As flores azuis simbolizavam que a árvore precisava de certos cuidados especiais, e que deveria ser a prioridade dos insetos. A partir daquele dia, os dois passaram a usar o código "flores azuis", sempre que precisassem de ajuda.

A baunilha não era um código, era algo como uma piada interna. Filippo gostava muito de baunilha, e só tomava café com a essência da planta. Era impossível pensar em baunilha, e não associar ao loiro, já que ele conseguiria beber litros sem reclamar.

Assim que ela leu o bilhete, percebeu que Bruno precisava de sua ajuda, e que estava na casa de Filippo, como ela já desconfiava.

- Alberto?... - Cutucou o filho. - Acorda, preciso te contar algo!

- Mãe?... Tá... - Bocejou. - tudo bem?

- Eu ainda não sei... O Bruno tá demorando muito pra voltar, e eu recebi um bilhete de ajuda escrito por ele...

- Sério?!

- Sim... Acho que o Filippo prendeu ele no casarão dos Visconti. Eu vou procurar por ele, e se eu não voltar em 1 hora, avisa e conta tudo pro Massimo, ok?! Não pense em pisar na casa deles sem ajuda, ouviu?! Isso é muito perigoso pra você!

- Relaxa, mãe! Eu vou chamar reforços se precisar.

- Eu não vou demorar, ok? - Beijou a testa do filho. - Eu te amo, meu bem.

- Eu também amo! - Sorriu.

Antonella tinha um mal pressentimento sobre tudo aquilo, mas tinha certeza de que precisava procurar por Bruno. Algo lá no fundo lhe dizia que essa história toda ainda tinha uma boa explicação, e que o bilhete tinha um significado importante.

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