Capítulo 4

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A sombra lá fora fez uma onda de temor passar pelo corpo de Denki e ir até seu âmago, mas ele não teve tempo para pensar nisso, já que Hitoshi ainda estava no chão e machucado. Se abaixou instantaneamente para não levar nenhum tipo de ataque e foi até o lado do parceiro.

— Não se preocupe. — ele disse quando lhe perguntou se estava bem — Eu não morro com uma flecha.

— O que está acontecendo aqui?!

Virou a cabeça e percebeu era um conselheiro real; ele estava vestido casualmente, o que entregava que tinha acordado somente agora pelo barulho.

Iria responder, contudo, Kaminari foi mais rápido ao levantar e se aproximar dele para o afastar de área da janela também.

— Ataque inimigo, senhor! Ataque inimigo!

— Agora? — o velho perguntou, atordoado — Não faz nem duas semanas direito desde o último. — ele balançou a cabeça e olhou alerta para o loiro — Avise os outros! Ligue o alarme! Vou cuidar do seu amigo.

O menor assentiu e fitou Shinsou por uma última vez antes de correr para acordar os outros para uma possível batalha.

O ombro do arroxeado doía, porém, agora a apreensão dominava seus sentimentos e subia-lhe pela garganta, a adrenalina corria pelas veias. Já estava pronto para um confronto novamente.

×××

Seu coração pulsava forte e devagar, a respiração controlada mas os pulmões parecendo que iriam explodir dentro do peito. Hitoshi repeliu mais um ataque inimigo e enfiou a espada na garganta do homem a sua frente, a retirando em seguida e fazendo o mesmo com uma mulher sorrateira que vinha por trás de si.

Por sorte — depende de seu ponto de vista —, as tropas inimigas resolveram não prejudicar os aldeões dessa vez, colocando toda a pressão sobre os arredores do castelo. Queriam matar os reis e o príncipe herdeiro para conseguirem se implantar como uma erva daninha naquele reino como fizeram com mais dois daquela mesma província. Os do Reino de Lork sempre foram muito gananciosos, e querer sempre mais de tudo que tinham não era uma surpresa para Shinsou.

Ouviu um grito e olhou de soslaio para a direção de onde o som veio, a imagem o chocou um pouco. Denki enfiava a espada no meio dos olhos de um inimigo, e logo depois cortou a perna de um mulher para depois cravar a lâmina em seu coração.

Se surpreendeu por ser algo meio brutal demais para alguém como ele e que seus olhos pareciam faiscar, quase como se quisesse matar todos ali. Quando dizia alguém como ele, queria dizer que Kaminari era alguém que não imaginaria fazendo tal coisa por causa de seu comportamento no dia a dia, contudo, a guerra trazia à tona todos os nossos monstros, nossos medos e principalmente a nossa crueldade. Ninguém é honrado em um campo de batalha, se tem de matar até crianças terá de o fazer. A realidade era dura.

Voltou a atenção aos seus assuntos. Ali era cada um por si só, não poderia prestar atenção em ninguém além de si mesmo. Poderia ser algo clichê e pertubador, porém, mesmo se tivesse um irmão ou irmã e ele estivesse lutando ao seu lado, não poderia ir ajudá-lo — todavia, era óbvio que o faria se tivesse. Deveres e quereres eram coisas diferentes. O amor e amizade distorcia nossa mente, a deixando em pane e fazendo com que o coração tomasse conta, assim como os sentimentos. A compaixão os deixava fracos, e quem não a tivesse ali, naqueles momentos de morte, sangue e suor, teria as bestas internas liberadas com o único propósito de vitória e sucesso. Mesmo que não quisessem matar ninguém, teriam de o fazer uma hora ou outra. Além disso, eram guerreiros e não juízes. Eram inferiores, e os contrários disso, eram os superiores. Eles que decidiam se iriam continuar a matar e lutar ou não.

Sarapintado (ShinKami)Onde histórias criam vida. Descubra agora