quatro

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Do topo da torre, Alberto observava o pôr do sol com os olhos verdes carregados de dor e desespero.

Luca também não havia aparecido naquele dia.

O menino deu as costas para a beleza da paisagem diante dele e desceu as escadas, pegando uma pedra afiada que não era usada por ele há muito tempo, se aproximando da parede com um nó na garganta que o impedia de respirar direito.

Ergueu a mão trêmula, hesitando por um momento, deixando a ponta afiada da pedra à centímetros da parede áspera. Então bateu-a diversas vezes, com força e raiva, formando mais um entalhe profundo para se juntar às dezenas de outros que já estavam ali.

Observou-os com lágrimas se formando nos cantos dos olhos e a garganta ardendo com o choro que ele se recusava a deixar sair.

Já fazia um mês.

Alberto esperava por Luca todos os dias, ansioso pelo momento em que veria os cabelos cacheados e o jeitinho tímido do amigo subirem a colina, mas já fazia um mês que essa visão não passava de uma vontade profunda de seu coração desesperado. Luca não havia voltado depois daquela última noite, e Alberto não teve uma única notícia dele desde então.

Até se os pais de Luca fossem até a ilha para brigar com ele, para dizer que ele era uma má influência para o filho deles e o mandarem ficar longe de Luca para sempre, Alberto ficaria mais agradecido do que receber apenas silêncio e solidão. Outra vez.

Ele não vai voltar, disse a voz em sua cabeça, e Alberto sentiu a raiva por ela vir à tona.

— Cala a boca — mandou, ríspido.

Faça quantas marcas quiser na parede. Mas lembre-se de desta vez não esperar ela chegar ao fim antes de desistir.

— Cala a boca!

Ele não vai voltar para você. Ele te abandonou, assim como eu, assim como todos em sua vida, porque você não merece nada disso...

— Eu disse para calar a boca! — Alberto gritou, jogando a pedra longe, ouvindo a barulho de vidro se estilhaçando.

Olhou para o pôster da Vespa pendurado ao lado das marcações de Luca, sabendo o que estava por trás dele, trancando a mandíbula para não chorar.

— O Luca não me abandonou! Ele não é como você, pai! Ele gosta de mim, nós somos amigos! E eu sei que ele não faria isso. Ele só está com problemas.

E Alberto tinha certeza disso porque a sensação que agonizava em seu peito ficava cada vez pior, e ele sabia, de alguma forma, que aquilo era Luca pedindo socorro. Ele já havia passado do ponto de acreditar que Luca apenas estava de castigo em casa e que logo seria liberado para voltar às suas tarefas usuais, para começar a acreditar que algo muito pior havia acontecido.

E ele teve a completa confirmação disso naquela noite.

Alberto sonhava com Luca todas as noites desde que ele havia partido, com os momentos deles dois na ilha se divertindo e brincando. Porque era difícil de descrever o quão agradecido Alberto era por tê-lo conhecido, por Luca ter trazido novamente felicidade, luzes e cores para sua vida depois de tanto tempo em que ele permaneceu sozinho consigo mesmo. Ele mal conseguia se lembrar qual foi a última vez em que riu verdadeiramente antes de Luca chegar.

E, agora, a ausência de Luca falava tão alto em seu coração que batia em saudade, que ele sonhava. E sonhava com o sorrisinho receoso, os desenhos, o jeito engraçado que ele dançava, a maneira em que olhava para Alberto com admiração e encanto. Luca se tornou a coisa mais preciosa que tinha, muito mais valiosa do que todos os tesouros de sua coleção juntos.

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