Do topo da torre, Alberto observava o pôr do sol com os olhos verdes carregados de dor e desespero.
Luca também não havia aparecido naquele dia.
O menino deu as costas para a beleza da paisagem diante dele e desceu as escadas, pegando uma pedra afiada que não era usada por ele há muito tempo, se aproximando da parede com um nó na garganta que o impedia de respirar direito.
Ergueu a mão trêmula, hesitando por um momento, deixando a ponta afiada da pedra à centímetros da parede áspera. Então bateu-a diversas vezes, com força e raiva, formando mais um entalhe profundo para se juntar às dezenas de outros que já estavam ali.
Observou-os com lágrimas se formando nos cantos dos olhos e a garganta ardendo com o choro que ele se recusava a deixar sair.
Já fazia um mês.
Alberto esperava por Luca todos os dias, ansioso pelo momento em que veria os cabelos cacheados e o jeitinho tímido do amigo subirem a colina, mas já fazia um mês que essa visão não passava de uma vontade profunda de seu coração desesperado. Luca não havia voltado depois daquela última noite, e Alberto não teve uma única notícia dele desde então.
Até se os pais de Luca fossem até a ilha para brigar com ele, para dizer que ele era uma má influência para o filho deles e o mandarem ficar longe de Luca para sempre, Alberto ficaria mais agradecido do que receber apenas silêncio e solidão. Outra vez.
Ele não vai voltar, disse a voz em sua cabeça, e Alberto sentiu a raiva por ela vir à tona.
— Cala a boca — mandou, ríspido.
Faça quantas marcas quiser na parede. Mas lembre-se de desta vez não esperar ela chegar ao fim antes de desistir.
— Cala a boca!
Ele não vai voltar para você. Ele te abandonou, assim como eu, assim como todos em sua vida, porque você não merece nada disso...
— Eu disse para calar a boca! — Alberto gritou, jogando a pedra longe, ouvindo a barulho de vidro se estilhaçando.
Olhou para o pôster da Vespa pendurado ao lado das marcações de Luca, sabendo o que estava por trás dele, trancando a mandíbula para não chorar.
— O Luca não me abandonou! Ele não é como você, pai! Ele gosta de mim, nós somos amigos! E eu sei que ele não faria isso. Ele só está com problemas.
E Alberto tinha certeza disso porque a sensação que agonizava em seu peito ficava cada vez pior, e ele sabia, de alguma forma, que aquilo era Luca pedindo socorro. Ele já havia passado do ponto de acreditar que Luca apenas estava de castigo em casa e que logo seria liberado para voltar às suas tarefas usuais, para começar a acreditar que algo muito pior havia acontecido.
E ele teve a completa confirmação disso naquela noite.
Alberto sonhava com Luca todas as noites desde que ele havia partido, com os momentos deles dois na ilha se divertindo e brincando. Porque era difícil de descrever o quão agradecido Alberto era por tê-lo conhecido, por Luca ter trazido novamente felicidade, luzes e cores para sua vida depois de tanto tempo em que ele permaneceu sozinho consigo mesmo. Ele mal conseguia se lembrar qual foi a última vez em que riu verdadeiramente antes de Luca chegar.
E, agora, a ausência de Luca falava tão alto em seu coração que batia em saudade, que ele sonhava. E sonhava com o sorrisinho receoso, os desenhos, o jeito engraçado que ele dançava, a maneira em que olhava para Alberto com admiração e encanto. Luca se tornou a coisa mais preciosa que tinha, muito mais valiosa do que todos os tesouros de sua coleção juntos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vortice
FanficVórtice. Um intenso movimento giratório de poder destrutivo. Também conhecido como sorvedouro, redemoinho, turbilhão. Um vórtice é uma consequência, ele é o pior cenário resultado de vários outros fatores que colidem em um ponto central e então gi...