O ato de ter esperança simboliza coisas muito diferentes, seja na filosofia ou na religião, mas o seu significado mais puro e simples é a confiança que se deposita em algo ou em alguém. É a crença absoluta de que algo muito desejado vai acontecer.
Porém, mesmo tendo um significado-base muito simples, a esperança não representa a mesma coisa para todas as pessoas.
Para alguns, ela é uma fé inabalável e poderosa capaz de mover mares e montanhas, de fazer o impossível e realizar milagres. Para outros, é algo frágil que não vale a pena ser cultivado, pois somente trará uma decepção maior no final da jornada.
Mas a verdadeira diferença da esperança para essas pessoas não são as representações em si, mas sim os pilares em que ela está sustentada. E, ainda mais importante: a força deles.
A esperança de Alberto em encontrar Luca não estava sustentada em muitos pilares, mas todos eles eram fortes como o casco de uma tartaruga: a certeza de que o encontraria, mesmo que levasse tempo, mesmo que surgissem obstáculos, porque Alberto simplesmente não podia conviver com a ideia e não trazer Luca de volta; a saudade de tê-lo consigo e a vontade de protegê-lo de qualquer coisa que pudesse fazê-lo mal; e as promessas que tinha feito, tanto para si mesmo quanto para Luca.
Eram três pilares fortes e inquebráveis sustentando uma fé inabalável.
Então ele juntou tudo o que julgou necessário para a viagem e partiu. A avó de Luca o apontou uma direção para seguir, e ele era muito grato a ela por isso porque o deu um ponto para começar, mas Alberto não precisou de nem um dia inteiro para perceber que achar o caminho até o Abismo seria mais difícil do que tinha pensado anteriormente.
Ele nunca tinha feito uma viagem tão longa sozinho e jamais teve alguém para avisá-lo que as correntes marítimas poderiam ser traiçoeiras e que não se deve confiar no senso de direção de uma arraia.
Alberto nadou em voltas durante a primeira metade do dia e, quando finalmente parou para comer e se localizar melhor, se sentindo completamente frustrado, fechou os olhos e se concentrou naquela sensação em seu peito que ardia em agonia.
Luca estava triste, ele podia sentir.
E sua vontade de abraçá-lo foi tão forte que ele sentiu uma pontada no peito e, quando abriu os olhos outra vez, eles se desviaram para uma direção completamente diferente da que pretendia ir antes. Alberto soube sem nenhuma sombra de dúvida que deveria seguir para lá. Soube que era a direção certa.
Então ele começou a seguir Luca, que parecia dizer sem palavras o caminho até si, enviando a Alberto coordenadas invisíveis que ele não sabia como estava desvendando, mas estava. Ele nadou com determinação durante toda a segunda metade do dia e, quando anoiteceu, estava tão cansado que não foi difícil pegar no sono.
E ele sonhou com o escuro e o frio outra vez, permanecendo em silêncio para poder escutar. E ele ouviu, de algum lugar a sua frente, uma voz baixinha cantarolar uma melodia conhecida.
Alberto nadou às cegas, desviando para o lado ao sentir o braço esquerdo bater em uma rocha, chegando até a origem do som. Era uma das dezenas de músicas da caixa da cantora mágica que ele escutava com Luca.
— Meia-noite para amar, meia-noite para sonhar, fantasiar...
— Luca? — Alberto chamou, esticando as mãos para frente ao ouvir a música parar.
Como no outro sonho, as pontas de seus dedos se encostaram nas pontas de outros e ele os entrelaçou, puxando Luca para perto e o envolvendo em um abraço apertado.
— Alberto? — ouviu Luca sussurrar e o apertou um pouco mais contra o peito.
— Sou eu. Estou aqui.
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Vortice
FanficVórtice. Um intenso movimento giratório de poder destrutivo. Também conhecido como sorvedouro, redemoinho, turbilhão. Um vórtice é uma consequência, ele é o pior cenário resultado de vários outros fatores que colidem em um ponto central e então gi...