Capitain's Favourite

Ghosts From The Past

         Jungkook saiu da cabine e encontrou o convés vazio e escuro, sendo parcialmente iluminado pela luz da lua.

         O cheiro forte de peixe estragado logo o atingiu e o homem fechou o rosto em uma careta, se virando para o timão pronto pra perguntar a quem estivesse lá qual dos outros tinha sido responsável por deixar a comida estragar. Mataria um naquela noite. Não encontrou ninguém e, olhando um pouco mais pelo convés notou a corrente da âncora esticada. Não se lembrava de ter dado ordens para que baixassem a mesma. Aquilo daria merda. E das grandes.

         Aproveitou que já estava do lado de fora e desceu alguns degraus até a galeria, a encontrando praticamente vazia e escura também. Com o pouco que conseguia ver, indentificou quatros pares de sapatos femininos, sendo dois deles um pouco menores que os outros. Ele nunca teve mais que duas mulheres no navio. Dava azar ter uma, imagina quatro. Hyejin e Wheein eram uma exceção, ele admitia. Só houve uma época de sua vida que ficou no mesmo navio em que quatro mulheres e, olhando melhor, ele reconhecia os sapatos.

         Se sentiu ficar gelado no mesmo segundo que o reconhecimento o atingiu. Ouvia o coração bater no ouvido e respirar tinha se tornado algo doloroso. Cambaleou os degraus acima e escancarou a porta da cabine, entrando em seu único local seguro e fechou a porta atrás de si. 

         Manteve os olhos fechados por alguns segundos enquanto se recuperava do susto apoiado na madeira. Quando os abriu, olhou em volta. Aquela não era a sua cabine, mas ele conhecia perfeitamente.

         "Ainda bem que chegou. Eu estava mesmo querendo falar com você." Só ele sabia o quanto odiava aquela voz.

         "Pai?" Quando falou, sua voz saiu como se tivesse dezesseis anos outra vez e teria rido se não estivesse desesperado.

         Deu alguns passos a frente finalmente avistando a figura do homem, que se mantinha em pé atrás de uma cadeira, onde apoiava as mãos no encosto. Desceu os olhos pelo móvel e encontrou um ser de cabelos ruivos e olhos verdes assustados que o encaravam e pediam, silenciosamente, que o ajudasse.

         "O que o Hoseok está fazendo aqui?"

         E por que ele tem 8 anos outra vez?

         Olhou do pai ao garoto na cadeira e então tudo se encaixou e o atingiu como um estalo.

         "Deixe ele ir, foi culpa minha."

          Olhou pro garoto e tentou passar algum tipo de confiança pro menor, que parecia mais assustado que antes e tinha começado a tremer de medo.

         Jungkook se aproximou mais alguns poucos passos e percebeu o tom avermelhado na boca do garoto, um filete de sangue correndo de um dos cantos. Sentiu o seu própio sangue esquentar e encarou o mais velho.

         "Você bateu nele?!" Quase gritou. "Qual é o seu problema?! Ele é só uma criança!"

         "Modere o tom, moleque." Dong-yul falou soltando a cadeira. "Ele fez merda. Tem que aprender a não fazer novamente." 

         Hoseok olhava de um para o outro e se mantinha encolhido na cadeira.

         "Pode ir, Hoseok. Tá tudo bem." Garantiu ao mais novo.

         O garoto se desencolheu lentamente, com medo de ser atingido outra vez e correu a pouco distância que o separava de Jungkook, se encolhendo atrás do moreno e se mantendo firmemente agarrado a barra da camisa dele.

         "É a terceira vez essa semana, pai." O adolescente falou tentando manter a calma.

         Jungkook sabia o que iria acontecer e tentava impedir de qualquer maneira que aquele diálogo continuasse. Se virou para o garoto e passou a se dirigir ao mesmo.