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                                    pov Finn

— Chloé Berrycloth?
— Berrycloth? Ela voltou?

Finn ouvia os cochichos de seus colegas de classe, enquanto tentava, sem sucesso, prestar atenção na aula de Literatura. Não que fosse adiantar alguma coisa, já estavam no meio do semestre e ele sabia que tinha repetido, mas também não queria ouvir nada sobre os boatos que rondavam a Cambridge High School desde o início da semana.

Ele não queria ouvir o nome dela. Muito menos que ela estava de volta na cidade. Doía demais, seu estômago queimava e ele tamborilava os dedos na mesa, contando os segundos para o sinal tocar. Faltavam dois minutos.
Antes que qualquer aluno se levantasse das carteiras, Finn já estava do lado de fora, tentando respirar fundo e digerir tudo o que estava acontecendo. Todas as memórias daquele maldito dia que ele tentava todos os dias esquecer, estavam voltando. Tudo por causa dela.

Ele caminhava pelos corredores da escola, sem realmente enxergar o que estava acontecendo. Precisava de um escape, qualquer coisa que o acordasse daquele pesadelo. Acabou esbarrando com Abby, sua melhor amiga — melhor amiga de Chloé também, no passado —, que percebeu que o amigo não estava nada bem.

— Eu sei. — Ela suspirou.
Por muitas vezes, ela entendia os sentimentos de Wolfhard , mesmo que ele não os verbalizasse. Os dois tinham se aproximado muito desde o maldito dia.

Caminharam em silêncio para a área escondida atrás do ginásio, era o esconderijo deles, onde eles podiam ser eles mesmos. Por muito tempo, depois que Chloé foi embora, os dois se escondiam ali, para fugirem dos olhares de pena que todos os estudantes da escola dirigiam para eles. Principalmente para Finn.

— É verdade? — Ele perguntou, colocando um cigarro na boca e o acendendo.
Abby não conseguia sequer olhar Finn nos olhos, então ele soube que era verdade.

 Chloé Berrycloth resolveu dar as caras depois de dois anos que ela tinha ido embora, sem se importar em se despedir — não que fosse adiantar algo, já que para Wolfhard, a menina estava morta.

Ele sentia seus dedos formigarem e seu corpo inteiro tremer, definitivamente não estava pronto para encarar Berrycloth novamente. Não podia conviver com ela novamente sem que todas as lembranças voltassem para sua cabeça. A dor que a menina trazia era grande demais.

— Ela vai tentar falar com você. — Abby sentou ao seu lado e Finn balançou a cabeça, prontamente se levantando. Ele não precisava de consolo. Sabia da única coisa que o acalmaria. — Finn … por favor! — Mas ele não escutava mais a voz da amiga.

Os últimos horários seriam de Educação Física, então o garoto pegou sua mochila no armário e voltou para os fundos da escola, certificando-se de que a inspetora não estava por ali. A câmera de segurança que protegia aquela área estava esquecida e estragada havia pelo menos dez anos, então não era uma preocupação de Finn, que já estava acostumado a pular o muro nas suas crescentes fugidas da escola.
Já tinha feito a ligação no caminho, então quando chegou na porta da casa de Damien, o garoto abriu a porta antes que ele precisasse bater.

— Você sumiu, cara! — Ele sorriu e abriu os braços para Finn, como se fosse abraçá-lo.
Damien era um cara estranho, tinha os dentes tortos e uma cicatriz no rosto. Sua feição era amigável, mas seus olhos eram sombrios e causavam arrepios até mesmo a Finn.
— O que vai ser hoje?
— O mesmo de sempre. — Wolfhard passou o dinheiro para o garoto, que entregou o conteúdo em um pequeno plástico.

Antes que Finn virasse as costas para voltar pro carro, Damien não perdeu a oportunidade de provocá-lo:
— Tenho o pressentimento que vou voltar a te ver em breve, cacique… Já que a Chloé está de volta.

Um tremor passou pelo corpo de Finn, mas ele não se virou para responder. Estava interessado no conteúdo do plástico mais do que tudo, depois que usasse, nada mais importava. Ele só queria estar entorpecido o suficiente para não se lembrar da dor que Chloé causava e voltaria a causar. Era só isso que ela trazia com ela: dor e sofrimento.

Ao chegar em casa, Finn jogou sua mochila de qualquer jeito na sala e já subiu as escadas engolindo o pequeno comprimido. Quanto mais rápido fizesse o efeito, melhor.
Deitou-se na cama, olhando para o teto, que em poucos minutos já começou a rodar e suas vistas ficaram embaçadas.

— Finn! Finn! Vamos lá, você nem está prestando atenção. Eu preciso que você me ajude nisso! — A voz de Chloé era estridente. Ela já estava enchendo o saco com aquela coreografia estúpida.

— Não preciso. — Finn respondeu, sorrindo. — Já está perfeita! Você repassou isso mil vezes.

— Não está perfeito! Está longe de ser perfeito e você não me ajuda em nada! — A garota começou a entrar em desespero e Finn sabia que logo começaria a chorar se ele não a acalmasse.

— Vem, tenho uma ideia melhor... — sorriu e puxou a garota para um beijo.

Finn, já inconsciente, mexia-se na cama, mas não conseguia acordar.

— Finn! Finn!

Ele ouvia a voz de malcolm, mas não conseguia abrir os olhos, ainda estava preso no sonho, que não eram bem um sonho.

Eram lembranças.

 Finn não queria acordar, não queria sentir a realidade, mas sentiu um baque na cara e abriu os olhos de sobressalto. O filho da puta tinha dado uma travesseirada nele!
— Caralho! — Finn xingou e se sentou na cama.

Seu melhor amigo o olhava com os braços cruzados e uma expressão raivosa no rosto.
— Malclm, que inferno… Malclm? — Finn arregalou os olhos, finalmente percebendo que era mesmo malcolm, seu melhor amigo de infância que estava parado na frente dele.

Sem pensar duas vezes, os dois garotos se abraçaram. Finn, sem perceber, começou a chorar copiosamente, enquanto o amigo tentava acalmá-lo, passando a mão pelos seus cabelos, sem soltar do abraço. Finn soluçava e tentava parar, mas as lágrimas desciam pelos seus olhos antes que ele pudesse se controlar.
Ele não gostava de chorar, muito menos na frente de outras pessoas, mas não pode se conter quando viu malcolm.

Ele provavelmente era pessoa que ele mais sentia falta na vida, depois de Lily. Quando ele foi embora para estudar seis meses na Grécia, Finn ficou totalmente sozinho. malcolm e Lily-Anne eram a única família dele.

Ao pensar novamente na sua irmã, Finn sentiu um repuxo no estômago e se soltou rapidamente do amigo, correndo para o banheiro. Vomitou violentamente no vaso, enquanto sentia os olhos de Malcolm nas suas costas. Sabia que levaria um esporro quando melhorasse.

O garoto recostou no vaso, limpando a boca com as costas da mão e pendendo a cabeça para o lado, com os olhos fechados.

— Ela voltou. — Suspirou, ainda sem abrir os olhos. — E você também. — Conseguiu sorrir um pouco de lado.

Ele sabia que malcom não tinha voltado simplesmente porque estava com saudades ou porque se cansou da Grécia, ele voltou, porque sabia que Chloé estava de volta e a vida de Finn viraria de cabeça para baixo de novo. Voltou, porque sabia que Abby não conseguiria conter os expulsos e os vícios de Finn sozinha.

Era doloroso para Malcolm ver o amigo naquela situação e ele sabia que a volta de Chloé faria Finn voltar a ser sua pior versão: amargurado, sozinho, viciado e violento.

Even if i die | Finn WolfhardOnde histórias criam vida. Descubra agora