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                                   pov Chloé

Chloé tentava, sem sucesso, fazer com que a máquina de doces do colégio funcionasse. Os anos se passavam e aquela merda continuava quebrada, a garota sempre se perguntava onde a Cambridge colocava o dinheiro que deveria ser investido em melhorias para a escola... ela precisava urgentemente de comer um doce para continuar enfrentando aquele dia, era o vício que a garota tinha substituído.

Antes um chocolate, do que um comprimido de LSD — esse era o lema dela.

As pessoas no geral a receberam bem, a maioria parecia ter superado ou esquecido o acontecido, ou simplesmente não se importam.

Mas antes de tudo acontecer, Chloé era uma pessoa extremamente querida na escola, apesar de ser problemática na mesma medida. Era capitã das líderes de torcida, vice-presidente do grêmio estudantil e do clube de teatro, e a melhor anfitriã de todas as festas. Mas ela sabia que esse carinho era vazio e preenchido de interesse, seja pela posição social que ela tinha na cidade, por ser de uma família fundadora e dona de um “império”, ou pela sua popularidade na escola. Chloé sabia mais do que ninguém que não era amada pela sua personalidade. A única pessoa que a amava independente de tudo,

— Finn, Finn! Vamos lá, você nem está prestando atenção. Eu preciso que você me ajude nisso! — A voz de Chloé era estridente. Ela já estava enchendo o saco com aquela coreografia estúpida.

— Não preciso. — Finn respondeu, sorrindo. — Já está perfeita! Você repassou isso mil vezes.

— Não está perfeito! Está longe de ser perfeito e você não me ajuda em nada! — A garota começou a entrar em desespero e Finn sabia que logo começaria a chorar se ele não a acalmasse.

— Vem, tenho uma ideia melhor! — Sorriu e puxou a garota para um beijo.

— Não! — Chloé não permitiu que seus lábios se colassem por meio segundo e quebrou o beijo, fazendo com que Finn rolasse os olhos. Ela conseguia ser impossível às vezes.

— Você precisa me ajudar! — Sorriu de lado e deu um selinho no garoto.

— Ok! — Finn olhou para cima, como se pedisse ajuda aos céus e suspirou, antes de começar a imitar os passos de Chloé com uma surpreendente maestria, o que fez a garota rir.

As lembranças de Chloé foram afastadas com o barulho da máquina de doces sendo espancada, fazendo a garota pular de susto.

— Tem que bater, esqueceu?
Ouviu uma voz conhecida, que ela sabia que vinha com um sorriso, mesmo que ela ainda não tivesse feito contato visual.

— É, faz tempo... — a garota respondeu sem jeito, não esperava que malcolm falasse com ela e muito menos a ajudasse com alguma coisa.

— Fico feliz que você tenha voltado Chloé. — Ele sorriu largamente, mostrando os dentes.

Quando o garoto sorria, seus olhos fechavam-se junto e malcolm ficava com uma aparência quase infantil, os dois costumavam sempre brincar sobre isso.

— Espero que as coisas se acertem! — O garoto entregou o chocolate nas mãos de Chloé e saiu com as mãos no bolso, deixando-a estática de frente para a máquina.

                                  pov Finn

Finn a observava de longe, encostado em uma árvore do lado de fora do refeitório, que ainda assim lhe dava uma visão da garota. Ela parecia a mesma pessoa de sempre, seu jeito de andar, de sorrir para as pessoas que passavam por ela. Aquilo era de embrulhar o estômago. Como as pessoas podiam achar normal que ela estivesse de volta? Todos agiriam como se nada tivesse acontecido? Finn não se sentia capaz de fazer isso de forma alguma.

Sentiu suas mãos tremendo e temeu vomitar novamente. Ele não podia conviver com aquilo, sabia que não aguentaria sozinho. Precisaria urgentemente visitar Damien após as aulas.
Finn nunca foi o tipo de cara que usava drogas, nem quando seus pais morreram o garoto recorreu a isso.

Seu primeiro contato com entorpecentes foi depois da morte de sua irmã, onde os comprimidos e o cigarro lhe pareciam seu último refúgio, a única forma de ficar em paz, pelo menos no tempo que faziam efeito.

No entanto, ele estava conseguindo segurar a barra, estava havia meses sem visitar Damien, o traficante que supria todas as necessidades de metade dos alunos da Cambridge, que de forma alguma eram pobres.

A escola era famosa por ter alunos de elite, filhos de políticos, de banqueiros e é claro, os filhos dos fundadores da cidade — perturbados demais para conseguirem carregar o fardo de suas vidas cheias de privilégios e cobranças sozinhos, usavam as drogas como refúgio.

Damien era um desses alunos, filho do prefeito Richard Lockwood, descendente das famílias fundadoras de Cambridge, assim como Finn Chloé e malcolm. Mas ele não frequentava a escola mais, desistiu quando eles entraram no ensino médio e decidiu se dedicar integralmente a ser um traficante, mesmo que não precisasse do dinheiro.

Isso era o que mais intrigava Finn, ele simplesmente não entendia o porquê do garoto fazer isso, mas nunca foram amigos o suficiente para que Damien se abrisse com ele, apenas desconfiava que a família não se importava com o garoto e ele fazia esse tipo de coisa para chamar atenção dos pais, já que ele sabia que jamais seria preso por ser filho do prefeito.

Mesmo que ele fosse traficante, o mesmo que vendeu as drogas para Chloé naquele dia, mas Finn simplesmente não o culpava. Na sua cabeça, se não fosse Lockwood, outro quem venderia.

Ninguém tinha culpa na morte de Lily além de Chloé Berrycloth.

— Merda! — Finn pisou na bituca de cigarro com força, tentando afastar seus pensamentos o máximo possível. Com certeza visitaria Damien no final da tarde.

                                pov Chloé

— Bienbien, ela está mesmo de volta!
Chloé não precisou levantar os olhos para perceber quem estava falando com ela.

— Chloé Berrycloth, a rainha de Cambridge High School, herdeira do “Império Berrycloth”...

— O que você quer, Meredith? — Chloé levantou os olhos para encarar a garota na sua frente.
Meredith Brown a olhava de cima para baixo, estava vestida com o uniforme completo das líderes de torcida.

A garota era extremamente bonita, sua pele negra parecia porcelana e seus cabelos tinham um brilho que invejava qualquer um, seu corpo parecia ter sido desenhado pelos anjos e ela sabia disso, por isso tinha um olhar esnobe estampado no rosto.

— Vim te dar as boas-vindas! — Exclamou de forma inocente, mas Chloé sabia que ela estava mentindo.

Brown era uma das pessoas que tinha agradecido pela mudança de Berrycloth, que abriu caminho para que ela se tornasse a nova capitã das líderes de torcida.

— Tudo bem, eu não consigo sustentar isso. — A garota riu, acenando as mãos e abandonando a falsa postura de boa moça.

— Infelizmente, você é uma espécie de lenda nesse colégio... — torceu o nariz e Chloé arqueou as sobrancelhas, divertindo-se com a situação.

— Isso quer dizer que já que você voltou, está oficialmente convidada a voltar para o time.

— Por mais que eu esteja lisonjeada... — Chloé riu e a garota em sua frente rolou os olhos.

— Não acho que seja uma boa ideia.

— Ah, corta essa, Berrycloth! — Meredith respondeu, impaciente. — Nós sabemos que você voltou para tomar conta de tudo novamente, essa postura que Chloé boa moça não vai durar, Serena Van der Woodsen. — Rolou os olhos, fazendo uma referência porca à Gossip Girl, mas que arrancou um sorriso perverso de Chloé.

Realmente, não estava nos planos da garota voltar para as líderes de torcida, sua cabeça estava cheia e ela precisava focar no seu verdadeiro objetivo, mas não seria má ideia tirar aquela postura petulante da garota parada na sua frente e mostrá-la quem era a rainha daquele colégio.

— Já que você insiste tanto… — Chloé sorriu e concordou com a cabeça, fazendo Meredith bufar e girar os calcanhares para voltar de onde ela tinha vindo, mas Chloé a deteve. — Mas com uma condição. — Sorriu, vendo a garota virar-se lentamente, temendo o que Berrycloth falaria.

Even if i die | Finn WolfhardOnde histórias criam vida. Descubra agora