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pov Chloé

— Obrigada por me atender no domingo, doutor. — Chloé sorriu agradecida para seu psicólogo.

Apesar dos fios brancos na cabeça e o semblante cansado, doutor Marcus tinha um sorriso encantador e acolhedor. Ele era uma das poucas pessoas que ela podia realmente ser vulnerável e expor seus medos e inseguranças. Ela tinha contato com ele desde quando foi para o internato e agora, por sorte, ele tinha sido transferido para o hospital em Londres, que ficava a cinquenta minutos de trem.

Era sua primeira sessão desde que tinha voltado e Chloé se sentia melhor, estava feliz em poder tomar o trem. Emma havia insistido para que ela fosse com o motorista, mas a garota não quis. Queria se sentir livre e, pra variar, uma pessoa normal. Não gostava de ser levada para todo canto pelo motorista.

— Não há de que, Berrycloth. Então, me conte o que aconteceu… — disse, com a voz suave, o que deu terreno para que Chloé contasse sobre as lembranças que estavam se misturando com sonhos na sua cabeça, o seu medo irracional de Damien e, é claro, sua recaída.

O doutor Marcus ouviu com atenção, como sempre, anotando várias coisas enquanto a garota falava.

— Fico feliz que você tenha conseguido resistir, Chloé. É muito importante para nós que você continue sóbria. É um projeto maior. — O doutor observou, depois um longo monólogo da paciente. — Mas, veja, eu tive uma ideia para esse seu problema de memória… — levantou-se, enquanto Chloé o olhava com atenção.

•••

Depois da sua consulta com o doutor Marcus, a garota se sentia muito melhor, tinha entendido seu episódio e estava orgulhosa de não ter seguido em frente na busca dos comprimidos. Tinha acordado naquela manhã decidida a andar de cabeça erguida, pois estava cansada de sentir pena de si mesma.

Ela queria mostrar para as pessoas que ela tinha mudado e se tornado outra mulher, então precisava fazer isso da melhor maneira: impondo-se. Ela era Chloé Berrycloth, rainha daquele Império, e precisava voltar a agir como tal! Dessa vez, muito mais madura e certa do que queria, além de usar seus talentos ao seu favor, ao invés de se autossabotar.

A Chloé inconsequente, que não se importava em fazer mal para ela mesma e consequentemente acabar machucando os outros, tinha morrido.

Foi com esse pensamento, que a garota caminhou com passos decididos até a escola naquela segunda-feira. Ela já estava acostumada com todos a sua volta a encarando. Desde que tinha voltado para Cambridge, era só isso que as pessoas faziam: encaravam e cochichavam. Alguns faziam comentários curiosos, outros eram apenas maldosos... mas quando a garota desceu do carro e caminhou pelos portões, os olhares direcionados a ela foram diferentes.

Alguns estavam realmente surpresos, outros chocados. Algumas meninas riram e alguns meninos olharam com admiração. Todos pelo mesmo motivo: ela tinha voltado com os fios mais claros e alongou seus cabelos no salão no dia anterior — o que não podia ter deixado Emma mais feliz! Sua mãe estava convicta de que ela ganharia o concurso Miss Cambridge daquele ano, seguindo a tradição da família. E para tanto, obviamente, ela precisava estar com a aparência impecável.

Apesar de estar relutante com a “mudança”, com medo de passar a impressão errada, justamente por querer provar que estava mudada e não de volta ao passado, Chloé estava feliz. Ela amava seus cabelos claros e longos, e sabia que não era um cabelo que a faria ser a pessoa de antes. Mas, mesmo assim, ela se sentia reconectada com si mesma.

Chloé passou por todos como se fosse um dia normal na sua vida, pelo canto do olho, conseguiu ver Meredith cochichando com outra garota da torcida, mas não deu atenção. Ela era a última pessoa com quem perderia tempo.
Caminhou decidida até a aula de trigonometria, a primeira do dia. Estava tranquila, pois fazia aquela aula sem a presença dos antigos amigos, não precisaria se preocupar com Abby a fuzilando com os olhos ou com o olhar de pesar misturado com ódio de Wolfhard. Ela estava bem. E continuaria.

Even if i die | Finn WolfhardOnde histórias criam vida. Descubra agora