Me rendo a você

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Antes os sonhos roubavam o ar, mas agora fazia o corpo estremecer de medo. Estava deitado, coberto por um lençol de seda. Seu corpo suava, não como na noite anterior por conta da febre. Dessa vez não sabia bem por que. Sentou no futon, o lençol escorregou pelo seu peito. Mexeu nos cabelos, jogando-os para trás. Precisava de água, de ar, precisava de alguma coisa que o fizesse esquecer o que sentia. Uma anestesia para seu coração.

Lavou o rosto com a água fria, mas aquilo não resolvia de nada. Ouviu barulhos vindo do céu, em seguida a chuva chegou. Veio forte, com os relâmpagos iluminando o céu. Da mesma forma que a tempestade castigava o lado de fora, Byakuya sentia seu coração apertar numa tortura. Como aquela tempestade, não sabia quando iria acabar.

Voltou para a cama e se encolheu num canto. Até sentir seu rosto molhar. Levou as mãos ali, secando as lágrimas.

O homem encolhido no futon, voltou a chorar depois de anos. Desde a morte de sua esposa. Desde aquele acontecimento, que Byakuya não chorava. Não era o mesmo sentimento, mas era algo como perder alguém. Um vazio no peito e a sensação de hipotermia e fraqueza que o consumia.

A diferença era que não havia como lutar com a morte.

Mas poderia lutar por Renji!!!

Era como se ouvisse um grito dentro do seu peito. Não pensou em mais nada. Levantou-se rapidamente e se vestiu com a primeira coisa que viu na frente. Saiu do quarto, seguindo em direção a saída. Não calçou as sandálias, abrindo a porta. A chuva estava ainda mais intensa, mas Byakuya não tinha nada a perder. Nem orgulho, nem medo. Nada!

Correu pela chuva, descalço. Os cabelos molharam num instante, as lágrimas se misturavam com as gotas que vinham do céu. Proibiu de ouvir seus pensamentos, acreditando que algum o faria voltar e desistir daquela loucura. Não importava mais se Renji não gostasse dele. Poderia até mesmo ter o desprazer de encontrar com Shuuhei na casa do ruivo. Mas não iria nunca se perdoar, caso não dissesse o que precisava dizer.

Escorregou numa pedra, caindo no chão. As mãos afundaram numa poça d'água e lama, ele se sujou por completo, mas não parou. Levantou-se e continuou a correr em direção aquelas casinhas pequenas da Seireitei.

Quando chegou ao seu destino, parou diante a porta, um pouco ainda distante. A luz estava acesa e Byakuya caminhou até lá, tremendo de frio, com os lábios roxos, e os cabelos bagunçados e molhados pela chuva.

Bateu na porta três vezes e esperou que fosse atendido.

Renji estava deitado, sem sono, ouvindo o barulho da chuva. Quando fechou os olhos, sentiu algo estranho tomar conta do lugar. De repente, Renji se levantou, aquela sensação diferente tomou conta dele. Foi quando ouviu as batidas na porta. Correu para abri-la, sabia que não poderia ser Shuuhei naquele momento. Não era! Era outra pessoa, sentia isso.

— Capitão... — Ao abrir a porta, Renji se assustou não somente com a visita inesperada, mas também com a aparência de Byakuya.

— Desculpe, Renji, eu não quero atrapalhar você. Eu soube que está... — não sabia que palavra usar, mas queria dizer logo tudo de uma vez, assim parecia que era mais fácil. — Está acompanhado, não quero demorar. Eu só preciso dizer uma coisa.

— Mas, capitão...

— Deixa eu falar Renji, pro favor. — Ele tremia, esfregando as mãos nos braços por conta do frio. O cabelo estava grudado no seu rosto, e os olhos avermelhados. — Eu não consigo dormir.

— Capitão, eu não...

— Não me diga nada antes de eu falar Renji, é uma ordem. — Esbravejou, voltando a se concentrar nas palavras. — Eu não consigo dormir, eu não consigo mais fazer nada. Eu só sei fazer uma coisa...

Me Rendo a vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora