Capítulo 01

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02 DE DEZEMBRO DE 2006

P.O.V. Kalliope

O jardim é lindo, cheio de flores e borboletas, e tem até uma fonte logo à frente. A sensação é de uma paz imensa, como se aqui fosse meu lugar.

Estou andando calmamente quando de repente sinto uma dor na perna. Dói muito, o que está acontecendo?

— Acorda piranha, anda, acorda caralho!

Abro os olhos e percebo que o jardim era apenas um sonho, e minha realidade está de pé ao meu lado me chutando com o intuito de me acordar.

Minha maldita realidade leva o nome de Fernando, meu odiado meio-irmão.

Me levanto rapidamente do colchonete velho no chão, mantendo a cabeça abaixada em sinal de respeito.

— Mas é uma vagabunda mesmo! Não faz porra nenhuma da vida e ainda quer dormir até tarde!

Filho da puta, não faço nada o seu cu. Claro que apenas pensei, jamais falaria isso em voz alta, não quero morrer.

achando que isso aqui é hotel, Neguinha? Levanta logo que MEU pai chamando lá no escritório.

— Sim senhor.

Ainda olhando para o chão, vou ao banheiro me limpar antes de encontrar o meu outro algoz, o demônio encarnado que dizem ser meu pai.

Paro em frente ao espelho e o que vejo me entristece.

Como uma garota de quase quinze anos pode estar tão triste e acabada desse jeito?

Ver meus cabelos curtos e maltratados me aflige, mas não posso chorar, pois nesta casa quem chora sempre é castigado para se tornar mais forte. Pelo menos é isso que escuto desde os dois anos de idade.

Minhas olheiras demonstram o cansaço de quem vira as madrugadas estudando pois quando chego do colégio ainda tenho que arrumar a mansão, lavar e passar as roupas de todos.

Saio do cubículo que chamo de quarto na área dos empregados e passo pela cozinha. Vejo no relógio que não são nem seis horas da manhã ainda, ou seja, dormi menos de quatro horas essa madrugada.

No escritório do meu "papaizinho", além dele está toda a sua Alta Cúpula.

Fico arrepiada ao ver o filho pródigo e herdeiro Fernando, o chefe de segurança Calixto, o braço-direito Antônio, e o responsável pelas relações internacionais Júlio.

Não é à toa que se chama crime organizado, eles realmente são organizados, com direito a um responsável pelas transações internacionais!

— Que bom que a donzela chegou! Achei que teria que buscá-la pessoalmente. — Rubens Pereira esbraveja quando me vê.

Não sei o motivo de tanto ódio por mim, não sei o que fiz para que ele me trate de forma tão cruel.

— Me desculpe meu senhor, vim o mais rápido possível.

— Esse seu cabelo ridículo está crescendo rápido, já está na altura dos ombros. Depois da visita dos italianos você vai cortar de novo.

Há quatro anos eles decidiram que eu não precisava e não deveria ter qualquer vaidade. Desde então meus cabelos são cortados bem curtos, as roupas são todas velhas e largas, acho que quem me vê de longe deve pensar que sou um menino.

— Senhor, teremos que comprar roupas e algumas coisas de menina para ela também — o que o Júlio está dizendo? —, os italianos são tradicionais e não seria de bom tom eles perceberem que a sua bastarda não é tratada como o Fernando.

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