Capítulo 05

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P.O.V. Kalliope

Como se não bastasse todo o terror que senti com suas palavras, o escroto do meu meio-irmão ainda lambeu meu rosto, me jogou no chão e saiu rapidamente como se não tivesse feito nada.

Nunca senti tanto nojo e medo de alguém, nem do Rubens.

A única coisa que faço é passar a barra da camisa na cara para tentar me limpar, e continuo no chão, encostada na parede.

Depois de muitos anos não consigo me segurar e choro o que não havia chorado esse tempo todo.

Meu mundo entra no piloto automático e quando dou por mim estou debaixo do chuveiro, mas nem sei como cheguei até aqui. Ainda em prantos lavo meu corpo e saio do banheiro já com os pijamas que não me lembro de ter pegado.

Sou surpreendida mais uma vez com a porta se abrindo, mas para meu alívio quem entra são Luna e a mãe. Ambas me olham com pena e eu odeio esse olhar, é a última coisa que preciso nesse momento.

— Kallie, você é inteligente e madura o suficiente para não precisar de enrolação, então vou direto ao ponto. O que o Fernando fez com você que a desestabilizou desse jeito?

Arregalo os olhos e encaro a Ariel totalmente chocada.

— Como...

— E não tente me enganar, o vi entrando aqui pouco depois que vocês subiram. Não confio naquele rapaz e já percebi que ele olha de um jeito estranho para mim e Luna, mas muito mais estranho para você.

Me encontro numa situação muito difícil. Se conto sobre o que Fernando disse, posso dar problema para ele e por consequência para a minha mãe. E se não falo, ele pode continuar me ameaçando.

Penso rápido em algo que ela acreditaria com certa facilidade.

— Ele veio me lembrar do meu lugar, do quanto eu sou inferior, Laura. Durante esses dias com vocês me esqueci que sou só uma vadia preta e feia, e que roupas bonitas e cabelo bem cortado não mudam em nada quem eu sou.

— Não diga isso!

A indignação estampada no olhar das duas quase me faz desmentir tudo, porém, neste momento, dos males o menor. Não posso arriscar a vida de outras pessoas porque fui fraca e chorei na frente de estranhos.

Laura respira fundo, parece estar segurando as lágrimas, e depois de uns segundos olha nos meus olhos e fala um pouco mais calma e com a voz triste.

— Infelizmente eu não tenho o poder de mudar a maneira como você se enxerga, mas podemos tentar te mostrar o quão bela você é, o quanto esse boçal que você chama de irmão está errado.

— Agradeço a preocupação...

A Battista mais velha percebe que estou desconfortável com a situação e resolve melhorar o clima, mais uma vez mostrando como é bem-humorada.

— Olha, Kallie, eu sou hétero, muito hétero mesmo, amo o meu marido de paixão e nunca olhei para outro homem ou mulher, maaassss... — agora seu olhar já está mais suave. — Maaasss se você fosse uns vinte anos mais velha e eu solteira, ah minha querida, eu te pegava fácil.

— Mamãe!

É impossível não rir da cara assustada da Luna enquanto a mãe ri e me abraça.

— Você é linda, garota. Que a Luna ciumenta não me ouça, mas eu te pegava mesmo! — a ruivona completa e me dá um beijo no rosto desejando boa noite. — E você, mocinha, não se esqueça do nosso combinado para amanhã. Boa noite e juízo, garotas.

Laura sai do nosso quarto como se nada tivesse acontecido, como se de certa forma, não tivesse me dado uma cantada. Eu amo essa mulher, definitivamente eu a amo como uma mãe!

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