Capítulo 3

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1972

Charlotte

Era muito difícil que as aulas de Galateia Merrythought, nossa professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, me deixassem com medo. Mas aquela aula específica foi uma exceção, e não só para mim.

A Professora Merrythought precisou mencionar alguns seres que vinham sendo marginalizados pelos bruxos havia anos e que não precisaríamos estudar até, mais ou menos, o terceiro ano. Ao mostrar rapidamente diversas fotos de lobisomens, gigantes e até mesmo centauros para turma, ela disse que precisávamos estar mais atentos a eles do que nunca, porque o Lorde das Trevas vinha recrutando estes seres para sua grande armada.

Ele oferecia a oportunidade de vingança por terem sido tratados como seres inferiores por tanto tempo. Claro que não eram todas as criaturas que estavam em busca disso, mas aquela declaração nos lembrou que estávamos, inegavelmente, em meio a uma guerra - o que já era o bastante para tirar nosso sono por um bom tempo. Você-Sabe-Quem estava cada vez mais forte e as coisas só tendiam a piorar no mundo bruxo.

Assim que saí da sala, tentei esquecer por um momento o que ouvi, não só porque era sexta-feira e eu precisava de um descanso, mas porque deveria mesmo estar feliz por termos vencido nosso primeiro jogo contra a Grifinória na noite anterior. (O que significava que James estava tendo um péssimo dia. Não só ele, mas todos os Marotos, como fui perceber um pouco mais tarde.)

Eu não tinha ideia do motivo pelo qual Remus parecia estar tão mal, mas assim que o vi andando pelos corredores, segurando uma pilha de livros, fui até ele, aproveitando que estava sozinho, sem sua gangue que não gostava muito de mim. Ele tinha olheiras profundas, como se não tivesse uma boa noite de sono a algum tempo, e estava muito abatido.

― Você parece péssimo. Está tudo bem? ― Fiquei ao seu lado a tempo de impedir que um dos livros caísse da grande pilha que ele segurava.

― Bom dia para você também, Charlotte ― ele respondeu, com um meio sorriso.

― Está doente?

― Estou bem. ― Remus deu de ombros.

É claro que ele não me convenceu, mas percebi que não devia querer falar sobre o assunto e até estava prestes a deixar para lá; foi quando vi o grande corte no começo do seu pescoço, aparecendo pela gola frouxa do uniforme. Parecia vir do seu ombro e ser um ferimento bem recente.

― Está machucado? ― perguntei, com os olhos arregalados. ― Aconteceu alguma coisa ontem?

― Não é da sua conta, é? ― Sirius apareceu ao seu lado, puxando o amigo para longe de mim. Remus não reagiu, parecia tão cansado que apenas se deixou ser levado, de cabeça baixa, evitando fazer contato visual comigo.

― Eu sei, só quis ajudar.

― Ele não precisa da sua ajuda ― Sirius me interrompeu. ― Tem os amigos dele para isso. Por que não vai procurar meu irmão para encher de perguntas?

Fiquei olhando os dois se afastarem, sem conseguir tirar o ferimento de Remus da cabeça. Lembrei que ele tinha dito que a noite anterior seria "cheia", mas achei que fosse algo relacionado aos estudos. Não conseguia imaginar nada que pudesse tê-lo deixado daquele jeito. Sabia que ele nem ao menos tinha um gato ou nenhum outro bicho de estimação.

No dia seguinte, acordei cedo, mesmo sendo fim de semana e fui para a cabana no Lago Negro. Tentei me convencer de que estava realmente focada em ler e me distrair um pouco, mas no fundo, sabia bem porque estava ali. Como suspeitava, mais ou menos uma hora depois, o garoto misterioso com cicatrizes no rosto apareceu. Ele ainda estava um pouco abatido, mas bem melhor do que no dia anterior.

Ordem da Fênix: Primeira ClasseOnde histórias criam vida. Descubra agora