1976
Charlotte
As batidas fortes na porta do dormitório masculino faziam doer os meus próprios ouvidos, mas eu insisti em continuar.
— Regulus! — eu gritei, dando mais três batidas furiosas. Ninguém me respondeu. — Regulus, abra a porcaria da porta ou eu mesma vou arrombar! — Parei por alguns segundos e pensei que não teria forças para fazer aquilo, então, acrescentei: — Bom, eu não vou arrombar nada, mas prometo que vou usar o feitiço de destrancamento se não me responder!
Finalmente, ele abriu a porta, calado, com os olhos verdes voltados para o chão.
Ao entrar no dormitório, percebi que Evan Rosier, seu colega de quarto, estava lá, de olhos arregalados e já de pijamas. Ele definitivamente não estava esperando visitas àquela hora da noite.
— Sai — Regulus disse para ele, com a voz calma.
— O quê? — ele perguntou, confuso.
— Sai logo! — Regulus jogou um travesseiro nele, que saiu do quarto às pressas, sem entender o que estava acontecendo.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Regulus virou-se para mim, logo depois de fechar a porta atrás de si:
— Não queria que vocês tivessem brigado. Não era para ele ter me visto, eu juro.
— O que aconteceu? — Quase pude ouvir ele respondendo um irritante "nada", mas o interrompi antes disso: — Não minta para mim. Eu já vi a marca no seu braço e estou aqui me arriscando porque me importo com você. Agora, me conte o que aconteceu.
— Se arriscando? — Ele fez uma careta. — Eu nunca machucaria você. Nem mesmo o Lorde das Trevas seria capaz de me obrigar a isso.
Não pude notar nada além de sinceridade em seus olhos naquele momento.
— Eu sei — disse, me sentando na cama e suspirando cansada, ainda com as roupas da festa. — Conheço você melhor do que qualquer outra pessoa, até melhor que você mesmo.
Ele sentou-se na cama ao meu lado. Notei olheiras profundas em seus olhos e parecia estar bem mais cansado que eu. Ainda não fazia ideia do que tinha acontecido naquela noite para fazer com que ele chegasse naquele estado, mas tinha que ter sido algo sério. E se ele realmente tivesse se entregado à mentalidade dos pais, não estaria tão mal.
— Regulus, eu sei que... você é uma pessoa boa. Que fez escolhas muito, muito erradas. Mas se estiver arrependido, pode desistir disso.
— É tarde demais para voltar atrás — ele respondeu, balançando a cabeça.
— Não é. Você pode ir embora, fugir e voltar quando tudo isso acabar. Isso tem que acabar algum dia — respondi, tentando convencer mais a mim mesma disso do que ele.
— Ninguém confiaria em mim de novo.
— Não no começo, mas com um tempo... — Deixei que as palavras morressem em minha boca, sem a certeza de que se aquilo era verdade.
Talvez nunca confiassem nele de novo. Talvez a vida dele mudasse para sempre e ele teria que lidar com as consequências da decisão que tomou.
Por fim, respondi confiante, com a única certeza que eu tinha:
— Eu confiaria em você. Por favor, pense nisso.
ϟ
O dia seguinte em Hogwarts estava nublado, em todos os sentidos possíveis.
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Ordem da Fênix: Primeira Classe
Fiksi PenggemarCharlotte Woodenstar, bruxa mestiça de Londres, é melhor amiga de Regulus basicamente desde que nasceu e sempre conseguiu ignorar os preconceitos enraizados da família Black - mas ao entrar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, tudo muda. Além...