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NARRADORA ONISCIENTE

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NARRADORA ONISCIENTE.

NA MANHÃ SEGUINTE OLIVIA SE LEVANTOU E FEZ TUDO NO AUTOMÁTICO.

Arrumou e pegou todos os documentos que precisaria e foi para a escola de sua falecida filha.

Muitos ficaram confusos com sua presença afinal não era sempre que os pais dela apareciam lá com excessão das reuniões de pais e mestres.

— Eu vim retirar a matrícula da Júlia. - disse entregando alguns papéis e recebendo um olhar confuso da secretaria.

— Senhora isso é um atestado de óbito. - disse confusa.

— Minha filha foi encontrada morta. - respondeu recebendo um olhar surpreso e assustado. — Suicido. - sorriu amarga secando a lágrima que escorreu pela bochecha.

A moça rapidamente arrumou alguns papéis enquanto ia em direção a única professora que ainda não havia enviado os dados de Júlia para a secretaria.

Em passos apressados ela chegou na porta logo sendo atendida pela professora.

— Licença,eu preciso dos dados da Júlia. - disse atraindo olhares curiosos.

— Só um instante,ela vai mudar de escola? - perguntou a professora fazendo a mulher engolir em seco.

— Oh,não exatamente. - disse nervosa. — Ela morreu. - falou baixo fazendo a professora arregalar os olhos.

Se recuperando do choque momentâneo ela entregou os papéis solicitados pela senhora da secretaria longo voltando a aula sendo interrompida por questionamentos de alunos.

— Porque a Júlia faltou de novo? - perguntou uma.

— E porque pediram os documentos dela? - questionou outro aluno em meio borburinhos e especulações.

— Creio que não cabe a mim falar isso a vocês. - suspirou. — Voltando aqui,qual é o valor de x dividido por y?

(...)

Após voltar da antiga sala de aula da garota a senhora se apressou em entregar os documentos que faltavam a Olivia que esperava impacientemente com olha distante.

— Pronto,eu realmente sinto muito. - murmurou a senhora.

— Obrigada e não,você não sente. - deu um sorriso amargo pegando os papéis indo diretamente para o carro.

De lá permitiu que lágrimas inundassem seus olhos enquanto dirigia diretamente onde seria o velório de Júlia que só ela e seu marido compareciam.

Já no local se sentou ao lado do caixão da filha onde ela estava com as feições tão calmas como nunca havia visto em todo seu pequeno tempo de vida.

Agarrada a mão gelada da garota começou a chorar copiosamente com seu consciente a punindo por não ter sido uma boa mãe,por não ser uma pessoa melhor para sua filha,por nunca ter sido o que ela merecia e precisava,por nunca tirar toda a dor e sofrimento da pequena garota — que eles mesmos causavam — por não ter a ajudado quando ela silenciosamente pedia socorro e chorou simplesmente por não ser quem ela realmente precisou a vinda inteira.

Ao outro lado do caixão Miguel olhava para a cena em sua frente com olhos vazios vendo sua esposa chorando,se sentia péssimo por não ter sido nem metade do pai que ele tivera. Seu pai poderia ser fechado,trabalhava para lhes garantir tudo do bom e do melhor mas sempre esteve lá para garantir que estivessem bem,e se seu pai ainda estivesse vivo sentiria vergonha do homem que havia sido para sua filha e por o que sua pequena famillia a três  — agora dois — se tornou.

Se aproximou do caixão se lembrando de datas comemorativas como o dia dos pais em que observava seus acionistas comentarem com a animação e orgulho no olhar sobre seus filhos e filhas,por cada presente e pequeno gesto que eles recebiam de seus filhos.

Miguel não deixava de sentir inveja por tais atos,já que nunca fora tão interessado a estar presente na vida da jovem nunca recebia alguma demonstração de carinho — o qual havia acabado a anos antes do casamento se tornar infeliz fadado ao fracasso. —

Se lembra que até os dez anos a pequena garota sempre tentava lhe dar algo mas ele sempre recusava com a mera desculpa que estava ocupado de mais porém,Júlia sempre dava um jeito de deixar a carta ou o pequeno desenho que fazia para ele,onde ele encontraria e veria.

Se lembra também que aquele foi o último desenho que ganhou dela,se lembra que a garota começou a insistir menos em ter atenção de seus pais querendo se tornar mais invisível aos olhos de todos. Se lembra da garota parar de comer e começar a perder muito peso aos poucos,se lembra da garota parar de lhes dirigir o olhar,se lembra de fazerem tão mal a pequena garota e depois disso pegou a outra mão da garota deixou que as lágrimas caíssem em descontroladamente.

Horas depois chegou a hora de enterrarem o corpo da garota que com muita relutância foi solto por os dois,observaram o pastor fazer uma pequena oração — não que fossem religiosos,longe disso. — mas apenas queriam que a alma da pobre garota estivesse em um lugar seguro e certamente muito melhor.

Os dois observaram os coveiros jogando terra por cima do caixão — que já estava fechado — com lágrimas nos olhos depositaram rosas nos caixões e por fim saíram de lá.

O caminho de volta a casa foi horrivelmente silencioso,ao chegar apenas se locomoveram até o quarto deitando juntos olhando para o teto.

Não disseram nada no entanto Miguel se levantou pegando algumas roupas e indo dormir em um dos milhares quartos vagos da casa que lhe dava vista do Jardim,onde pode se lembrar de as vezes chegar em casa a tempo de ver  Júlia brincando no balanço com a babá.

Não tinha muitos momentos feliz com a garota — na verdade esses momentos quase no existem — mas se culpava e tinha impressão que se culparia para sempre por terem feito aquilo a filha.

Suspirou passando a noite em claro,com saudades daquilo que nunca teve e nunca teria.

No dia seguinte na empresa,muitos souberam de sua perda e disseram que sentiam muito mas era mentira,mentiras e mais mentiras. Ninguém realmente se importava ao certo só estavam preocupados com seus empregos patéticos.

E os dias passaram se arrastando a dor jamais diminuiu,ela só aumenta gradativamente toda vez que passava em frente ao quarto ou até olhava o jardim e se lembrava que não iria a ver nunca mais,que ela sofreu coisas que um adulto de trinta anos jamais desejaria.

A dor e a culpa andavam juntos,sempre fazendo questão de lembra-lo daquele fatídico dia.

𝐐𝐔𝐄𝐑𝐈𝐃𝐎 𝐃𝐈𝐀𝐑𝐈𝐎 • 𝐀𝐑𝐓𝐇𝐔𝐑 𝐅𝐄𝐑𝐍𝐀𝐍𝐃𝐄𝐒 (✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora