17. Doente

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Doente | adj.

do.en.te

Uma palavra. Três sílabas. Seis letras. E uma lembrança sombria.

 E uma lembrança sombria

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Anna

Minha boca está seca; os olhos, úmidos com lágrimas não derramadas e os membros, trêmulos. Tusso com força, cobrindo a boca com a mão. Ela volta vermelha com meu sangue.

— Você acordou — o garotinho sussurra na cama ao meu lado.

Assinto e observo seu corpo magro demais. Ele está encolhido, abraçando os próprios joelhos. Nele as manchas brancas parecem mais vívidas, e as bolhas de sangue já começaram a se formar.

— Eu ouvi que conseguiram salvar você — ele constata —, que você vai melhorar.

— E você? — murmuro, engolindo em seco.

Ele nega, sua expressão infantil escurecendo.

— Seu tempo vai... — Começo, mas me detenho, sem coragem de dizer a próxima palavra.

— ...acabar — ele completa.

Um grito de raiva é abafado pelas paredes, seguido de um baque alto. Pulo de susto. Meu olhar se encontra com o de meu amigo.

Eles estão discutindo de novo, as palavras pairam entre nós.

— Sua mãe está irritada hoje. — Ele diz. — Acho que os experimentos saíram do controle.

O medo me percorre da cabeça aos pés. Mesmo nunca tendo visto seus experimentos, eu já os ouvi gritar. Os urros são tão altos e doloridos. Sempre tenho pesadelos com eles.

O garotinho tosse, e o sangue escorre por seus lábios. Seus olhos azuis têm sombras que dançam em suas íris. Sombras que o comem de dentro para fora. Ele me fita quando escutamos um segundo baque e estende a mão no espaço entre os dois leitos. Me inclino em sua direção, envolvendo seus dedos quentes de febre. Meu amigo sorri, um sorriso quebrado, mas que ainda assim é capaz de me confortar. Então ele faz uma careta, puxando as bochechas e colocando a língua para fora. Rio com vontade e pulo de meu leito para o seu.

— Eu vou sentir saudade — digo baixinho, abraçando seu corpo esquálido.

As lágrimas chegam seu aviso, escorrendo grossas por minhas bochechas, porque esse é um adeus. Meu segundo adeus em poucos dias.

— Eu também vou — lágrimas brilham em seus olhos. — Mas talvez eu ainda possa sonhar com você, baixinha.

Mostro a língua para ele. Eu não sou baixa, mas, desde que Matteo ficou mais alto que eu, ele me deu um novo apelido.

Cidade dos Corações Sombrios | Livro 1 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora