32. Complicado

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Complicado | adj.

com.pli.ca.do

Uma palavra. Quatro sílabas. Dez letras. E um par de olhos azuis.

 E um par de olhos azuis

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Anna

A porta do quarto se fecha às minhas costas com um baque. Me apoio contra ela, agarrando a chave em meu bolso. Um riso frouxo escapa de meus lábios. Nós vamos conseguir salvá-los. Eu vou conseguir salvar papai.

— Anna. — O chamado é seguido de uma tosse.

Pulo de susto. O ar ao meu redor se move como uma segunda pele ao meu redor, pronto para atacar.

— Aqui, Anna — ela repete, e um estalo metálico ecoa pelo quarto.

— Aurora — estremeço, conferindo se estou sozinha no quarto, ou o mais sozinha que posso ficar com as sombras.

Uma silhueta negra está apoiada em uma das paredes, um sorriso leve preenchendo seu semblante. A Sombra acena para mim antes de se dirigir para a saída de ar.

Quanto tempo, não é mesmo? Aposto que você sentiu saudades, sua voz soa como um sussurro.

— Não sei. Acho que não faz tanto tempo assim. Tenho quase certeza de que você nos acompanhou quando saímos para encontrar os rebeldes. Na verdade, acho que você os protege.

Sombra rebelde, a Sombra diz, abrindo a grade. Seria um bom nome, não?

Minha resposta é interrompida por um gritinho de alegria de Aurora que corre em minha direção. Me ajoelho no chão, e seus bracinhos finos me envolvem em um abraço apertado. A puxo para perto de mim, beijando o topo de sua cabeça. Aurora parece mais magra do que da última vez em que a vi, seu corpinho trêmulo quase desaparecendo em meus braços. Nenhuma criança deveria passar por isso, rebelde ou não.

Me afasto e levo a mão a sua testa que está quente demais, porque a garotinha arde em febre.

— O que houve com você, pequenina? — indago, preocupada.

Aurora tosse, uma tosse seca e dolorosa.

Gelo. Ela está doente.

Ela não anda muito bem, a Sombra diz. Acho que pode ser um resfriado.

Pego os bracinhos da menina, virando-os de um lado para o outro. O alívio se alastra por meu corpo quando não encontro manchas brancas.

Não é a nossa doença, a Sombra continua.

— Você deveria tê-la trazido antes.

Desculpa se eu estava esperando que você ficasse sozinha. Mas você não dorme desacompanhada há algumas noites, não é mesmo?

Minhas bochechas queimam de vergonha. Lanço um olhar feio para a sombra, mas minha resposta é engolida por uma batida na porta.

Levo o dedo aos lábios, pedindo para que Aurora fique em silêncio. Ela assente e se encolhe para longe, atrás da cama. A Sombra desaparece antes que eu tenha tempo de falar, deixando apenas uma sensação gélida no cômodo.

Cidade dos Corações Sombrios | Livro 1 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora