12. Poção

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Poção | s.f.

po.ção

Uma palavra. Duas sílabas. Cinco letras. E um momento de descontrole.

 E um momento de descontrole

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Anna

As sombras ficam cada vez mais negras à medida que nos esgueiramos por sua casa. O silêncio de Gabriel é tão pesado que eu sou quase capaz de ouvi-lo. Não trocamos uma palavra até chegar à parede de rochas, a mesma parede que meu sangue uma vez abriu. Gabriel sequer batuca os dedos, o que chega a ser mais perturbador que seu silêncio. Seguro sua mão, apertando-a.

Eu estou aqui, marco em sua pele.

Ele me lança um breve sorriso.

Eu também estou aqui, responde.

— Eu preciso do seu sangue de novo — digo.

Ele aquiesce e se abaixa. Molho os dedos em seu machucado para em seguida passá-los nas rochas. As sombras chiam alto. Um estalo ecoa pelo túnel antes que as pedras deslizem, revelando a sala sem trevas.

— Sombras me mordam — Gabriel arqueja, um sorriso descrente preenche seu rosto. — Eu não...

— O que ele está fazendo aqui, Anna? — Matteo o corta. — Eu disse para não trazer ninguém, para não contar para ninguém. Você...

A pedra se fecha às nossas costas com um clique mais alto, então mostro os dedos vermelhos.

— O sangue dele abriu.

Matteo arregala os olhos, desviando sua atenção para Gabriel, que comprime os lábios em uma linha fina. A tensão paira no ar, palpável como espinhos.

— Quem é você? — Matteo pergunta, incisivo. — Ou melhor, o que é você?

— Eu ainda não sei. — Gabriel responde, cruzando os braços na frente do peito.

A expressão de Matteo se fecha. Reviro os olhos.

— Não me diga que nunca sonhou com ele.

— Não são apenas sonhos. — Ele retruca e se volta para Gabriel. — Eu tenho visões por controlar o Tempo e encontrei Anna por meio de uma.

— Certo — Gabriel murmura, mas mantém os braços cruzados, como se eles fossem uma muralha capaz de protegê-lo.

— Vocês poderiam ao menos se apresentar, não? Vamos. Gabriel, Matteo. — Aponto entre eles. — Matteo, Gabriel. Agora apertem as mãos como pessoas civilizadas e tirem essas expressões de cachorros ranzinzas.

Matteo franze mais o cenho e tensiona a mandíbula. Ele simplesmente ignora o que eu disse, virando-se em direção ao armário de suprimentos.

Cidade dos Corações Sombrios | Livro 1 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora