Epílogo

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Epílogo | s.m.

e.pí.lo.go

Uma palavra. Quatro sílabas. Sete letras. E uma queda para a morte.

 E uma queda para a morte

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Anna

Lágrimas de dor se desprendem de meus cílios, escorrendo livremente por minhas bochechas. Grito, me debatendo contra os guardas que me mantêm no lugar. A corda esmaga o pescoço de papai, e seu corpo balança como o pêndulo de um relógio. Um relógio que deixou de contar os segundos de sua vida.

— Um amanhã de paz — uma única voz na multidão responde, audível sobre meus grunhidos de agonia.

Eu não entendo o que está acontecendo até ouvir tiros, seguidos de gritos.

Os estilhaços do meu coração batem acelerados. Há lenços brancos no meio da multidão, erguidos em direção ao céu. Rebeldes. Eles estão aqui, mas chegaram tarde demais.

Os guardas agarram meus ombros, ainda tentando me puxar em direção à forca. No entanto, um tremor de terra os afasta. O chão ondula sob meus pés, vibrando com uma força conhecida. O tremor sobe pelas paredes de vidro, abrindo rachaduras em sua superfície.

— Petra — meu grito é abafado pelo ruído do teto se partindo e do grande lustre despencando sobre a multidão.

Caio, cobrindo o rosto com o antebraço para evitar os estilhaços que ferem minha pele. Eu mal tenho tempo de me levantar antes que um novo tremor me derrube. Vidro chove sobre minha cabeça. Meu coração golpeia o peito quando a vejo: uma onda negra gigantesca surgindo no meio do salão.

Ela parece feita de sombras. São sombras e mais sombras e mais sombras que vazam pelo piso. Elas crescem e crescem e crescem, se assomando sobre nós. Me encolho para longe, puxando os joelhos para junto do peito. Então, como se fosse água, a onda de sombras desce.

Sou engolida por um mar de trevas que se enroscam em meus cabelos e membros. Tudo vira escuridão. As sombras me abraçam e puxam e apertam. Meus pulmões gritam, e minha visão falha. Eu estou me afogando em sombras. Elas se enrolam ao meu redor como uma cobra ameaçando me sufocar.

Mas, tão rápido quanto surgiram, as trevas se vão.

Arquejo para recuperar o fôlego, me colocando de joelhos. Tusso e cuspo negro, vomitando parte das sombras que entraram por minha boca. Estou tremendo quando me levanto. Tremendo quando olho a destruição ao redor. Tremendo quando fito meus pulsos. Os braceletes negros que antes os adornavam sumiram.

Um riso de pura loucura fica preso em meus lábios. O ar me envolve, dançando entre meus cabelos. Ele me chama com uma rajada de vento mais forte. Me viro em sua direção a tempo de ver uma das paredes do ambiente quebrada, o vidro estilhaçado pelo chão.

Cinquenta e seis andares. Mais de cento e noventa metros. E nada além do chão.

Engulo o medo e quando corro para a saída, fecho os olhos e pulo.

Cidade dos Corações Sombrios | Livro 1 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora